Segunda-feira, 08 de julho de 2024

Produção de medicamentos ajuda melhorar a ‘saúde política’

Lucas de Godoi

Postado em: 16-09-2019 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Lucas de Godoi

O aumento na demanda por medicamentos no Brasil é uma oportunidade real para o Estado de Goiás retomar, com força, a produção de remédios na Indústria Química de Goiás (Iquego), empresa que foi negligenciada e sucateada durante a gestão do ex-governador Marconi Perillo (PSDB). O processo de recuperação da empresa ainda não foi capaz de gerar grandes resultados, embora o presidente do órgão, Denes Pereira, calcule redução de 55% na folha de pagamento mensal. Aumentar a capacidade de produção pode garantir ganhos políticos ao governador de Goiás, Ronaldo Caiado (Democratas).

Embora haja a possibilidade de privatização da indústria, caso o Estado faça a adesão ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF), fomentar a produção de remédios pode significar um acerto político para Ronaldo Caiado. Isso porque a maioria dos compradores são os próprios municípios goianos – que servirão de palanque para eventual campanha de reeleição) – e teriam condições de adquirir medicamentos com qualidade e preços competitivos. Outros ganhos seriam tornar a empresa lucrativa e colocar a indústria goiana para competir com outros laboratórios públicos. Estes, inclusive, sofreram com fim de contratos com o Governo Federal.

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O momento é propício para ampliações, já que no início deste ano, duas multinacionais farmacêuticas, a americana Eli Lilly e a suíça Roche, anunciaram o fechamento de suas fábricas no País. O movimento mostrou como o Brasil tem perdido competitividade no setor. E embora Goiás figure bem no ranking nacional, cujo mérito seja do setor privado, a indústria pública também possui potencial para voltar a atender grandes clientes.

Inclusive o Governo Federal, que mesmo após extinguir contratos com laboratórios públicos para a produção de 19 medicamentos, pode ser prospectado por Ronaldo Caiado. O governador tem capacidade de articular em Brasília à venda dos fármacos produzidos no Estado. Vale registrar a boa relação com o presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL), e também com o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, com quem conseguiu verba para abertura de leitos na rede de saúde estadual. 

A falta de vacina contra o sarampo em Goiânia, como noticiado por O Hoje, é outro indicativo da necessidade, cada vez mais crescente, da produção própria de medicamentos. O ministro da Saúde disse recentemente que há um problema mundial de produção de vacinas – o que justifica a baixa disponibilidade na Capital. Contudo, outros produtos podem ser desenvolvidos em larga escala na indústria goiana, inclusive os destinados ao tratamento de doenças assistidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). 

A Iquego têm boas vantagens competitivas: a produção com custos 25% menores, já que a característica de empresa pública garante isenção de impostos e a localização estratégica. Criada em 1962, a Iquego é o único laboratório público do Centro-Oeste e possui capacidade produtiva de mais de um bilhão de unidades de medicamentos por ano.

Reforçar a capacidade produtiva em Goiás também pode ajudar o País a equilibrar a balança comercial do segmento, que em 2018 foi deficitária em cerca de US$ 6 bilhões (R$ 23,57 bilhões), de acordo com dados do Valor Econômico. A compra externa de remédios chegou próximo dos US$ 7 bilhões (o equivalente a R$ 27,5 bilhões) no ano passado, alta de 9,7%, impulsionada pelos biológicos e outras drogas de alta complexidade, segundo dados do setor farmacêutico. 

Em tempo de escassez, é preciso olhar para as potencialidades regionais e não esperar que o santo de casa faça milagre. É melhor criar o remédio! 

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