Pandemia reforça campanha digital, diz especialista político

Trabalho de pré-campanha com foco nas eleições municipais de 2020 levarão vantagem nas disputas eleitorais, tendo em vista o risco da manutenção do isolamento social durante a campanha.

Postado em: 13-04-2020 às 18h13
Por: Sheyla Sousa
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Trabalho de pré-campanha com foco nas eleições municipais de 2020 levarão vantagem nas disputas eleitorais, tendo em vista o risco da manutenção do isolamento social durante a campanha.

Raphael Bezerra

Mandatários e pré-candidatos aos cargos de vereador e prefeito que realizam um trabalho de pré-campanha com foco nas eleições municipais de 2020 levarão vantagem nas disputas eleitorais, tendo em vista o risco da manutenção do isolamento social durante a campanha. A avaliação é dos especialistas em marketing político ouvidos pela reportagem do O Hoje, o analista em Marketing político e digital Bruno Vilela e o doutorando em Comunicação Política Marcos Marinho. 

A pandemia causada pelo Coronavírus (Covid-19) pode fazer com que a campanha corpo a corpo seja revista por candidatos e pelo eleitorado. A solução será um bom trabalho de comunicação e marketing digital para alcançar os eleitores e fazer com que o discurso dos candidatos seja ouvido e avaliados. Vale destacar que o isolamento social já mostra a sua alteração no comportamento social, o serviço de streaming Netflix registrou um aumento de de 47% em número de assinaturas na primeira quinzena de março e o Whatsapp reportou um aumento de 40% em dados trafegados. Os eleitores estão em casa, e acessando a internet.

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Bruno Vilela diz que esse impacto já pode ser sentido na prática e, que algumas plataformas serão mais utilizadas pelos comunicadores. “Na prática, isso significa que o Whatsapp e o Facebook estão hoje entre as maiores redes de distribuição de informação e desinformação no mundo, e em particular no Brasil onde o Whatsapp é praticamente onipresente nos celulares da população”, comenta.

Ele explica que a possibilidade de se ter um agente comunicador sem identidade, permitido pelo whatsapp e dificultado pelo Facebook, levará ao Whatsapp boa carga dos conteúdos difundidos. “A grande diferença que vejo no cenário atual é que a pessoas estão passando muito mais tempo em frente de seus celulares, em parte porque celulares são centros de mídia (informação e entretenimento) e em parte porque estamos mitigando nossa necessidade por contato social através dos aplicativos de mensagem. Os números comprovam essa mudança de comportamento”, argumenta.

Marcos Marinho diz que essa vantagem se aplica, principalmente, a quem passou os quatro anos do mandato construindo uma base sólida e realizando um trabalho de marketing e de mídias sociais com o objetivo de ter uma audiência fiel. “Quem já tem mandato já está há quatro anos fazendo algum tipo de prestação de contas, tem alguma ação e material produzido pelas Câmara Municipais que reverberam nas redes sociais e atividades juntos às bases”, aponta.

Essa relação de força de mandatários sobre candidatos é algo natural, ele explica, mas diante do cenário de crise, essa sobreposição se agrava e força aos candidatos a estruturarem uma campanha mais sólida pelas redes sociais. “Mas é visível que tem muitos mandatários que não fizeram nada, nenhum trabalho de redes, nenhuma campanha de comunicação. Essas pessoas vão se arrepender de não ter consolidado o seu nome”, justifica.

Vilela explica que essa vantagem em tempos de crise se dá pois, “em tempos de grande incerteza a tendência é buscarmos refúgio naquilo que já conhecemos. Construir uma relação de confiança não acontece da noite para o dia. Na ausência de confiança o provável é optarmos pelo conhecido”.  

Campanha em cima da hora custa ter bons resultados 

Os especialistas apontam que uma campanha eleitoral precisa ser fundamentada e construída ao longo do tempo para a construção de uma audiência e uma imagem que passe segurança e confiança ao eleitoral. Marinho, cita que a falta do ‘corpo a corpo’ nas ruas, dificulta a ação dos candidatos, mas que os canais de comunicação são vetores fundamentais para essa comunicação. Ele alerta, no entanto, que redes sociais não são feitas da noite para o dia e, que não podem servir apenas como um albúm de fotografias. “Quem não trabalhava até então com essas ferramentas, nem tinham uma presença digital consolidada e não conseguia uma comunicação com seu eleitoral está em uma situação complicada porque não tem audiência. Você tem que criar uma audiência e para isso você precisa de uma estrutura, de planejamento de comunicação. Esses canais existem e agora podem ser a única ferramenta viável para se fazer política”, pontua.

Vilela explica que a diferença entre o marketing tradicional e o marketing digital é que a internet não gera grandes benefícios com exposição em massa por curtos períodos de tempo como ocorre com a televisão, por exemplo. “Na internet o que vale é a construção de uma imagem de forma lenta porém consistente. O marketing digital é uma ferramenta de fomento ao relacionamento entre marca e consumidor, a marca neste caso sendo a imagem pública do candidato”, demonstra.

Ele cita o exemplo das prévias para as  eleições americanas. O candidato progressista Bernie Sanders construiu ao longo dos últimos seis anos uma base de apoiadores fiéis na internet que por pouco não lhe entregaram a candidatura do partido democrata, apesar do sr. Sanders ser taxado de extremista da esquerda. Em contraste, o candidato moderado Mike Bloomberg gastou U$ 935 milhões em sua campanha que durou pouco mais de um mês e teve uma performance abismal. “Moral da história, na internet o marketing é feito de gota em gota, todos os dias. O quanto antes começar, melhor”, argumenta.

Em crises, lideranças se destacam  

Um efeito estudado em Ciências Políticas chamado “Rally ‘Round the Flag” ou “União em Torno da Bandeira” que descreve o aumento em popularidade de lideranças em tempos de crise. os EUA, presidentes em tempos de guerra observaram crescimento de 10% a 40% de popularidade, explica Bruno. “Alguns acreditam que isso se dê por não ser politicamente correto criticar um líder que está a frente da nação no esforço de proteger a população e a ausência de críticas eleva a percepção de apoio. Já outros acreditam que a população naturalmente esquece as discórdias diárias e se une para enfrentar o inimigo comum”.

“Indiferente da razão, prefeitos têm exercido um papel essencial na definição das políticas de isolamento e segurança pública durante a crise do coronavírus e se souberem capitalizar sobre essa percepção de pulso firme e visão clara que a situação proporciona, podem garantir suas reeleições este ano. Mais do que nunca a população espera poder confiar em seus líderes”, comenta. 

Ele alerta, no entanto, que há uma possibilidade da carga negativa sentimental de algumas lideranças políticas ficarem impregnadas em seus discursos, fazendo com que esse sentimento ruim causado pelas crises e pela pandemia, seja associado às lideranças. Marinho diz que é preciso realizar um trabalho muito meticuloso e cuidado nesse sentido. “Quem está trabalhando durante a pandemia e as crises, precisam apresentar soluções, ser uma boa fonte de informações precisas e corretas e não espalhar medo e informações falsas”, explica. (Especial para O Hoje) 

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