Mesmo em ano de pandemia, deputados federais quase superam 2019 e gastam mais de R$ 4,5 mi

Nathan Sampaio

Apesar de 2020 ter sido ano de pandemia, o que deveria exigir menos a presença física de parlamentares em Brasília, já que o Congresso adotou votações a distância desde março, os deputados federais de Goiás gastaram quase a mesma quantia em cotas em comparação a 2019. No último ano foram R$ 4,8 milhões gastos pelos 17 parlamentares em Brasília, já em 2020, até dia 21 de dezembro, eram R$ 4,5 milhões.

O número caiu de 2019 para 2020, considerando os 513 deputados. Em 2019, foram desembolsados R$ 233 milhões e, em 2020, até o começo de dezembro, foram R$ 149 milhões, uma queda de quase 40%. Mas, para os deputados goianos essa queda representou apenas 6%. Estes gastos, que cada congressista tem de no máximo R$ 45 mil por mês (dependendo do Estado), serve para gastar com atividades relacionadas ao mandato, como aluguel de carros, passagens aéreas, hospedagem e outras atividades que poderiam ser deixadas de lado, tendo em vista as circunstâncias causadas pela covid-19.

No ranking dos mais gastões de Goiás durante este ano estão: Professor Alcides (PP), R$ 426.543,37; Magda Mofatto (PL), R$ 384.627,14; Francisco Jr. (PSD), R$ 371.277,75; Rubens Otoni (PT), R$ 358.621,98; e José Nelto (PODE), R$ 331.050,99. Juntos, este grupo gastou quase metade do que gastaram os outros 12 parlamentares: mais de R$ 1,8 milhão.

Dentre eles, o deputado Professor Alcides e a deputada Magda Mofatto fazem parte dos congressistas do Brasil inteiro que mais gastaram desde janeiro. Frente a eles, está o deputado Jesus Sérgio (PDT) do Acre, que gastou cerca de R$ 520 mil, o mais consumista entre os 513. Vale lembrar que cada parlamentar da Câmara já tem seu salário garantido de R$ 39 mil reais, mais os inúmeros auxílios e benefícios.

Em resposta, a equipe do deputado Francisco Jr. enviou uma nota justificando os seus gastos. Entre outros pontos, o deputado disse que foi o único parlamentar goiano que assumiu a relatoria de uma comissão no período da pandemia. “Com o envolvimento de mais de 60 técnicos e da minha assessoria, realizamos 40 audiências públicas e ouvimos 109 autoridades, e continuei indo periodicamente a Brasília […] paralelamente, meu mandato manteve o foco em auxiliar os municípios e o Estado nas ações de combate à pandemia”, diz a nota.

Rubens Otoni afirmou que seu trabalho continuou o mesmo em Brasília e no interior. “Ainda tivemos que nos reinventar no trabalho virtual e também na comunicação […] na prática você tem como diminuir [alguns tipos de gastos], mas não acabar com as atividades presenciais. Não tem reuniões grandes com aglomeração mas tem visitas às lideranças que acaba tendo o mesmo gasto das viagens” disse.

Já o deputado José Nelto, que em 2019 gastou pouco mais de R$ 50 mil, mas neste ano ultrapassou os R$ 330 mil, disse que, apesar da pandemia, visitou 156 municípios goianos. “Após março e abril, que fiquei em quarentena, voltei ao trabalho viajando e divulgando as ações nos municípios de Goiás, tratando projetos e liberações com prefeitos e lideranças na área da saúde, educação e infraestrutura, sempre atendendo aos protocolos de segurança”, completou.

A assessoria de Zacharias Calil (DEM) também respondeu, justificando que o parlamentar é “muito atuante e tem projeto importante aprovado em regime de urgência na Câmara e Senado, o PL 1409 , que virou 1423, relevante para o combate à covid-19, pois assegura cuidados especiais com os profissionais da linha de frente”. “Além disso, ele participa de comissões muito importantes, a mais relevante delas no momento é a Comissão Externa de Acompanhamento ao Combate ao coronavírus, da qual ele é o único goiano a participar”, diz a nota, completando que o deputado reduziu sua equipe de assessores para apenas 9 por conta da pandemia, sendo que ele teria direito de até 25.

A equipe do Major Vitor Hugo também respondeu à reportagem e afirmou que o parlamentar gastou apenas 57,61% da cota disponível para o ano de 2020. “Uma economia de mais de R$ 180 mil aos cofres públicos. Desde que foi decretado o estado de calamidade pública em decorrência da Covid-19, o deputado diminuiu a média do seu gasto mensal pela metade, apesar de ter continuado atuando presencialmente na Câmara e em viagens pelo estado para atender às demandas da população goiana. O deputado ainda economizou R$ 50 mil em comparação aos gastos de 2019”, diz a nota.

Professor Alcides e Magda Mofatto, assim como os deputados José Mário, Célio Silveira, Lucas Vergílio, Alcides Rodrigues, Glaustin da Fokus, Flávia Morais, João Campos e Adriano do Baldy não atenderam e não responderam as mensagens até o fechamento desta matéria.

“Econômicos”

Dos congressistas que gastaram menos, novamente estão Elias Vaz (PSB) e Delegado Waldir (PSL). Elias gastou em 2020 quase metade do que havia gasto em 2019. Foi de R$ R$ 90.876,00 para R$ 54.594,39. O deputado Delegado Waldir, em 2019, gastou R$ 120.247,00 e, neste ano, gastou R$ 115.209,71.

Ambos responderam a reportagem. Delegado Waldir afirmou que “gastar menos” é um “padrão já adotado todo ano, desde o primeiro mandato, em respeito ao eleitor”. Elias Vaz disse que não vê justificativa para tantos gastos. “Para transporte eu uso aplicativos, que saem mais baratos que aluguel de carros, por exemplo. Sei que cada deputado tem sua forma de trabalhar, mas tento economizar o máximo possível, pois tenho um zelo muito grande pelo gasto do dinheiro público”, assegurou.

Confira o valor gasto, em cotas, por cada deputado federal de Goiás em 2020:

Professor Alcides (PP) – R$ 426.543,37

Magda Mofatto (PL) – R$ 384.627,14

Francisco Jr. (PSD) – R$ 371.277,75

Rubens Otoni (PT) – R$ 358.621,98

José Nelto (PODE) – R$ 331.050,99

João Campos (Republicanos) – R$ 294.001,71

Alcides Rodrigues (Patriotas) – R$ 290.476,79

Glaustin da Fokus (PSC) – R$ 287.150,78

Adriano do Baldy (PP) – R$ 286.952,72

Célio Silveira (PSDB) – R$ 259.841,28

Lucas Vergilio (Solidariedade) – R$ 250.296,31

Flávia Morais (PST) – R$ 246.540,36

Vitor Hugo (PSL) – R$ 245.469,61

Zacharias Calil (DEM) – R$ 237.030,39

José Mário Schreiner (DEM) – R$ 211.796,63

Delegado Waldir (PSL) – R$ 115.209,71

Elias Vaz (PSB) – R$ 54.594,39

Total – R$ 4.651.481,91

Dados recolhidos no dia 21 de dezembro. Fonte: Câmara dos Deputados

Colaborou Celso Assis