Mendanha tem 26 homens e só 1 mulher na gestão de Aparecida

No secretariado da prefeitura aparecidense, o desequilíbrio de gênero é a regra predominante. O mesmo se repete na Câmara de Vereadores | Foto: Reprodução

Postado em: 11-03-2021 às 09h00
Por: Augusto Sobrinho
Imagem Ilustrando a Notícia: Mendanha tem 26 homens e só 1 mulher na gestão de Aparecida
No secretariado da prefeitura aparecidense, o desequilíbrio de gênero é a regra predominante. O mesmo se repete na Câmara de Vereadores | Foto: Reprodução

No mês que é dedicado a homenagear as lutas das mulheres, em todo o mundo, inclusive com a data de 8 de março, denominada como Dia Internacional da Mulher, uma constatação surpreende e causa impacto negativo: na prefeitura de Aparecida, das 27 secretarias municipais, 26 são ocupadas por homens.

O prefeito Gustavo Mendanha (MDB) conta com apenas uma mulher na sua equipe de auxiliares: a sua própria esposa, Mayara Mendanha, que acumula o cargo honorífico de primeira-dama com o de titular da pasta da Assistência Social. Pela função, ela recebe um salário mensal de R$ 13 mil mensais brutos.

Mendanha tem 38 anos de idade e gosta de se apresentar como um gestor moderno, exibindo ao resto do Estado vitrines lustrosas como o Centro Tecnológico Municipal, que gerencia câmeras espalhadas pela cidade, ou o Hospital Municipal, construído na gestão do seu antecessor, o prefeito Maguito Vilela.

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A predominância masculina no seu secretariado, no entanto, atrapalha o marketing do prefeito. O pior: confirmando que a política e o poder, em Aparecida, são áreas dominadas quase que exclusivamente por homens, a composição da Câmara Municipal também reflete essa realidade atrasada. Entre os 25 vereadores aparecidenses, há apenas duas mulheres.

Assuntos como esse não são discutidos nos meios políticos e empresariais da cidade. Aparecida é uma espécie da Coreia do Norte, o país mais fechado do mundo, que é dominado por uma ditadura. Na última eleição presidencial, 100% dos norte-coreanos votaram pela continuidade do chefe do regime, Kim Jong-un, que se apresentou como candidato único (e que, podem acreditar na coincidência, não tem mulheres entre os seus auxiliares).

Em Aparecida, ao disputar a reeleição em 2020, Gustavo Mendanha foi praticamente candidato único, tanto que obteve 95,81% das urnas – perdendo para Kim Jong-um por uma irrisória diferença de 4,19 pontos. Na “ditadura” aparecidense, a votação decorreu da “unanimidade” que o prefeito conquistou entre os políticos, tendo sido apoiado por 21 partidos – hoje com todos os seus presidentes abrigados no secretariado municipal. Os 25 vereadores também apoiam o prefeito.

Isso significa que, tal qual na Coréia do Norte, não existe oposição em Aparecida. Não há nenhum tipo de discordância em relação ao que Gustavo Mendanha faz ou diz. Nenhuma voz local se levantou para condenar ou reclamar da formação machista da sua equipe de auxiliares, nem mesmo da parte das duas únicas vereadoras – Camila Rosa (PSD) e Valéria Pettersen (MDB). Ambas eximem o prefeito de responsabilidade, atribuindo a culpa aos partidos que fizeram as indicações de nomes para a prefeitura.

No governo do Estado, há grande participação de mulheres no 1º escalão, em alguns casos preenchendo secretarias da maior importância, como a Educação ou a Economia. Além disso, o governador Ronaldo Caiado (DEM) nomeou representantes do sexo feminino para quase 700 cargos de chefia. Em Senador Canedo, metade dos auxiliares do prefeito Fernando Pelozzo (PSD) são mulheres.

A “unanimidade” construída pelo prefeito de Aparecida Gustavo Mendanha em torno do seu nome, que permitiu a sua recondução a mais um mandato com 95,81% dos votos, tem um segredo: a folha de pagamento do município.

Todos os presidentes de partidos, até mesmo os que não se afinam com o MDB, como o PSDB, por exemplo, estão nomeados no numeroso secretariado de Aparecida. Até o início do 2º mandato, eram 19 pastas, já excessivas, mas Mendanha criou mais oito, passando para um total de 27 secretarias, todas dotadas com uma vasta coleção de cargos comissionados, entre secretários executivos, chefes de gabinete, superintendentes e diretores.

Não há exceções: esse variado cardápio de funções foi integralmente preenchido com representantes dos partidos, ex-vereadores, indicados dos atuais vereadores, suplentes e apaniguados em geral. Em Aparecida, o desemprego de 14% que oprime a força de trabalho brasileira, com a crise do novo coronavírus, não alcançou a classe política.

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