Quinta-feira, 28 de março de 2024

Covid-19: estudo identifica infecção pulmonar em feto pela primeira vez

Gestante sofreu o aborto na trigésima-quarta semana de gestação, porém morte do feto não foi causada pela infecção

Postado em: 19-08-2021 às 17h11
Por: Maria Paula Borges
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Gestante sofreu o aborto na trigésima-quarta semana de gestação, porém morte do feto não foi causada pela infecção | Foto: Reprodução.

Cientistas brasileiros detectaram a presença do vírus causador da Covid-19 (Sars-CoV2) nos tecidos de um feto. A mulher teve a doença, porém desenvolveu apenas o quadro leve, e sofreu o aborto na trigésima-quarta semana de gestação. Estudos feitos anteriormente já haviam encontrado a presença do RNA do vírus no cordão umbilical e na placenta materna em casos semelhantes. Essa é a primeira vez que é possível registrar o novo coronavírus em diferentes órgãos, além disso os cientistas conseguiram demonstrar que o vírus causou uma infecção pulmonar.

Apesar de ter desenvolvido a infecção pulmonar, segundo o estudo essa não foi a causa da morte do feto e sim, uma grave trombose na placenta materna, que interrompeu o fluxo de sangue e oxigênio para a criança. Problemas com o feto são raros em gestantes com Covid-19, mas pesquisadores acreditam que o novo estudo é importante para aprimorar diretriz de acompanhamento médico para grávidas que tiveram a doença. O trabalho foi publicado na “Frontiers in Medicine” nesta semana.

“Detectamos o RNA do vírus em diversos tecidos, no bulbo olfativo, na glândula salivar, no pulmão, na traqueia, nos rins, além de da placenta e no cordão umbilical. Com o exame de imunofluorescência, conseguimos também registar a presença da proteína S do Sars-CoV2 no cérebro e no coração”, explicou o principal autor do estudo, o pediatra Arnaldo Prata, do Instituto D’Or de Pesquisa.

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Segundo o pesquisador, foi descoberta no pulmão do feto uma grande quantidade de células de defesa, o que indica que desenvolveu uma resposta inflamatória. Além disso, explicou que destacava essa constatação porque o vírus poderia ter circulado pelo feto sem necessariamente causar a doença. A presença dessas células indica que houve a infecção causada pelo vírus, já a trombose tem causas mais complexas.

“A gravidez é um estado em que a mulher, por questões de mudanças no estado fisiológico normal, se torna mais predisposta a quadros de coagulação. Essa é uma coisa esperada na gravidez, por isso as grávidas são consideradas grupo de risco”, explicou.

O coronavírus também predispõe a quadros de coagulação. Os pesquisadores afirmaram que a paciente não tinha predisposição genética anterior a episódios de coagulação. Portanto, a conclusão é que a doença somada à gravidez provocou a trombose placentária.

A diretriz atualmente vigente é que em casos leves de coronavírus, a gestante deve retornar ao serviço médico após 14 dias para controlar, caso sinta algo diferente é recomendado que volte antes. Como a paciente foi praticamente assintomática, só retornou ao médico após 14 dias.

“Infelizmente, quando ela voltou, o feto já tinha morrido havia dois dias”, contou o médico. “Acho que a mensagem maior desse estudo é que, de um modo geral, a covid na gestação não costuma ser grave, mas, uma vez que ocorra, é aconselhável acompanhar os marcadores de inflamação e de coagulação mais de perto e ter uma revisão médica mais frequente”, afirmou.

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