Quinta-feira, 28 de março de 2024

Estresse pode aumentar em 90% risco de doenças cardiovasculares. Especialista explica

A médica endocrinologista Pryscilla Moreira, membro da Singulari Medical Team, ressalta que é preciso entender como essas substâncias realmente se comportam e ter cuidado com o senso comum

Postado em: 17-10-2021 às 16h33
Por: Carlos Nathan Sampaio
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A médica endocrinologista Pryscilla Moreira, membro da Singulari Medical Team, ressalta que é preciso entender como essas substâncias realmente se comportam e ter cuidado com o senso comum | Foto: reprodução

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 90% da população mundial seja impactada pelo estresse. Já no Brasil, a porcentagem seria de cerca de 70%, de acordo com a Associação Internacional de Gerenciamento de Estresse Brasil (Isma-BR). Em meio a esses números, uma pesquisa publicada no periódico da Associação Americana do Coração sugere que altos níveis de hormônios relacionados ao estresse podem aumentar o risco de doenças cardiovasculares e hipertensão. Contudo, a médica endocrinologista Pryscilla Moreira, membro da Singulari Medical Team, ressalta que é preciso entender como essas substâncias realmente se comportam e ter cuidado com o senso comum.

Estresse e níveis hormonais

Segundo o novo estudo, a elevação da adrenalina, noradrenalina, dopamina e cortisol poderia estar associada a um risco aumentado de 21% a 31% de hipertensão, bem como o aumento de 90% da probabilidade de eventos cardiovasculares. Diante disso, a endocrinologista reforça que apesar dos resultados, na prática clínica não existem sinais que determinem a necessidade de fazer essa dosagem hormonal.

Além disso, a especialista cita a Endocrine Society, organização médica internacional da área de endocrinologia e metabolismo. Segundo a entidade, a fadiga adrenal – nome dado para esse efeito de aumento hormonal relacionado ao estresse – não é uma patologia real. Como ela explica, o posicionamento parte da falta de evidências científicas que apontem para o estresse e a fadiga do cotidiano esgotando as glândulas adrenais e causando qualquer tipo de sintoma.

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“Esse é um assunto que circula, mas o aumento de cortisol é uma doença específica, com características definidas. Ainda que aconteçam as queixas de estresse na consulta, não existe motivo nenhum para dosar o cortisol somente com base nisso”, pontua. De acordo com ela, isso não é suficiente para iniciar um tratamento.

Para a médica endocrinologista, esse é um tema delicado por estar muito atrelado ao senso comum. Ela destaca que, embora o cortisol seja medido em casos específicos – por meio de amostras de sangue, saliva ou urina -, os níveis de adrenalina, noradrenalina e dopamina não são medidos fora do ambiente de pesquisas.

Quando o perigo é real

Dito isso, a médica Pryscilla Moreira argumenta que de fato existem situações em que a dosagem de alguns hormônios deve ser medida, mas o estresse não é um dos gatilhos. “Fazemos isso em casos específicos, quando há uma clínica que leva à suspeição do aumento do hormônio – hipercortisolismo -, caracterizado na Síndrome de Cushing, ou pela redução – hipocortisolismo -, principalmente na insuficiência adrenal ou Doença de Addison”, esclarece.

Na verdade, pode haver alteração de humor na esteira do aumento de cortisol registrado em casos de Cushing. Isso sim pode culminar em um quadro de maior estresse, explica a endocrinologista. De qualquer forma, é importante lembrar que essas doenças não são muito comuns.

Vigilância constante

Sendo assim, a melhor forma de se manter seguro com relação a alterações hormonais e seus efeitos é fazer visitas regulares ao endocrinologista. Para a médica, o intervalo deve ser definido de acordo com cada paciente e eventuais comorbidades associadas. Para pacientes saudáveis, ela indica consultas pelo menos uma vez ao ano para se fazer a rotina em busca de alterações metabólicas como o diabetes, a dislipidemia, alterações da tireóide e alterações de vitamina. No entanto, havendo alguma patologia como o diabetes, é necessário aumentar essa frequência. “Numa doença descompensada a gente chega a ver o paciente todo mês, às vezes até toda semana. Mas um paciente com o controle bom a gente consegue vê-lo a cada três a seis meses”, completa a médica.

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