Usuários fogem do transporte coletivo optando por veículos próprios em Goiânia

A cada dia o transporte coletivo da região Metropolitana de Goiânia vem perdendo mais usuários. No último ano, de acordo com dados

Postado em: 24-10-2021 às 11h30
Por: Nielton Soares
Imagem Ilustrando a Notícia: Usuários fogem do transporte coletivo optando por veículos próprios em Goiânia
Alternativa por transporte particular gera outros problemas, como mais carros nas vias públicas e demanda por combustíveis. Entenda | Foto: Wesley Costa/O Hoje

A cada dia o transporte coletivo da região Metropolitana de Goiânia vem perdendo mais usuários. No último ano, de acordo com dados da RedeMob Consórcio, o fluxo vem registrando queda. Para se ter uma ideia, na semana passada, o recuo foi de 37%, em relação ao mesmo período do ano passado. Já a quantidade de veículos nas ruas dos principais municípios aumentaram de 1.712.710 para 1.747,784 (Capital, Aparecida de Goiânia, Senador Canedo, Trindade e Goianira).  

É fato que a crise no transporte coletivo goiano se agravou com a pandemia da Covid-19, mas se antes, os usuários diariamente reclamavam da falta de ônibus e atrasos constantes, durante a pandemia a frota diminuiu consideravelmente e linhas foram incorporadas, fazendo com que as viagens fiquem mais longas.

Segundo a Rede Metropolitana de Transporte Coletivo (RMTC), em 9 de março de 2020, antes da pandemia, a demanda era de 521.963 usuários. Na última quinta-feira (21/10), a quantidade de validações de viagens foi de 328.879. Isto é, menos 193.084 usuários embarcando em ônibus. Já no Sistema Integrado Metropolitano Anhanguera (SIMA), na mesma data foram feitas 180.076 validações e na quinta 67.559, uma queda de 37,5%.

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Apenas na Capital, onde houve 217.211 validações no transporte público na pré-pandemia, na quinta foram registrados 131.360 usuários, ou seja, 85.851 deixaram de usar o coletivo, o que significa 39,5% menor de validações no dia. No mesmo sentido, está Aparecida de Goiânia, que contava com 124.676 validações no sistema no dia 9 de março do ano passado, e sofreu recuo de 31,8% (39.634 menos validações).

Vale ressaltar que o transporte coletivo da grande Goiânia já passou por inúmeros investimos paliativos do poder público, ganhando corredores nas principais Avenidas, proteções em paradas e equipamentos de validação das passagens (que deve receber outras formas de pagamento, mas sem previsão de quanto isso irá ocorrer). Além disso, há a obra do BRT, que pode ficar obsoleta, pois sem usuários, não haverá a necessidade de muitos ônibus transitando pela via exclusiva.

Na contramão, o que se percebe é que os passageiros perderam a paciência e por conta própria têm buscado por outras alternativas, sendo o uso de veículo particular uma delas. Porém, a escolha gera outros problemas para a cidade: ruas lotadas de veículos, gerando mais demanda e, consequentemente, contribuindo para o aumento dos preços dos combustíveis. Somado a isso, ainda há a crise do transporte por aplicativo.

Fórum de mobilidade

Com esse cenário de alta dos preços dos combustíveis e da crise dos serviços de mobilidade por aplicativos, é possível tornar o transporte coletivo atrativo para os usuários? 

Para responder esse desafio, especialistas discutiram na última quarta-feira (20/10), em reunião virtual, algumas saídas. A professora e pesquisadora do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Goiás (UFG), Erika Kneib, especialista integrante do “Mova-se Fórum de Mobilidade”, acredita que falta levar adiante a implementação do que já foi planejado para a mobilidade. 

Ele citou, por exemplo, que a lei obriga a adoção de corredores e faixas exclusivas, estações de conexão e a integração entre diferentes modos de transportes, preferencialmente os não motorizados, como a bicicleta juntamente com uma estrutura de ciclovias e ciclofaixas.

“O transporte coletivo está com a faca e o queijo na mão para atrair usuários novamente. Um sistema de transporte público de qualidade é aquele que consegue atrair o usuário do automóvel, seja porque o sistema é muito bom ou por está difícil, ou caro, usar o carro”, aponta Erika Kneib.

O economista Adriano Paranaíba, doutor em Transportes pela Universidade de Brasília (Unb), informou que um projeto de lei foi encaminhado ao poder público com uma série de sinalizações do que deve ser feito para reestruturar o sistema. “É preciso uma governança para recomposição da rede, mas que pense o transporte não somente como linhas de ônibus, mas como consolidar uma autoridade metropolitana que considere os usuários”, disse.

Em relação à tarifa, Paranaíba entende que ela precisa ser condicionada à uma política de subsídio que compensaria o valor do bilhete. “Os custos vem aumentando, mas não dá para jogar isso ao usuário. É uma discussão séria que precisa ser feita, porque em dezembro encerra o auxílio emergencial, daí é preciso pensar quem vai dividir a conta”, ressalta.

Outro assunto discutido foi sobre o retorno do CityBus 2.0, que está no planejamento para voltar às ruas da Capital. O presidente da Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos (CMTC), Tarcísio Ribeiro de Abreu, ao Podcast do especialista Adriano Paranaíba, destacou que a grande novidade é que deixará de ser um sistema complementar e passará a ser integrado ao transporte coletivo para curtas distâncias, com mesma condição e tarifa do transporte regular.

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