Em todo o mundo, visibilidade e inclusão de autistas ainda é baixa

De acordo com o Center of Diseases Control and Prevention, uma em cada 110 pessoas são autistas

Postado em: 24-10-2021 às 09h39
Por: Vitória Bronzati
Imagem Ilustrando a Notícia: Em todo o mundo, visibilidade e inclusão de autistas ainda é baixa
De acordo com o Center of Diseases Control and Prevention, uma em cada 110 pessoas são autistas | Foto: reprodução

O autismo, cientificamente definido como o transtorno do espectro autista (TEA), é um distúrbio no desenvolvimento do cérebro, caracterizado pelo desenvolvimento atípico, manifestações comportamentais, déficits na comunicação e na interação social, padrões de comportamento repetitivos e estereotipados.

O transtorno pode ser percebido nos primeiros meses de vida, sendo diagnosticado por volta dos 2 ou 3 anos de idade. Dados do Center of Diseases Control and Prevention (CDC), órgão ligado ao governo norte-americano, estimam que exista um caso de autismo em cada 110 pessoas, sendo assim, há uma estimativa de que, só no Brasil, existam 2 milhões de autistas.

O diagnóstico oportuno do autismo, junto do encaminhamento para intervenções comportamentais e com o apoio educacional na idade mais precoce possível, pode levar a um melhor desempenho e desenvolvimento da criança. A psicóloga Júlia Caixeta explica que um dos tratamentos mais eficazes é a terapia comportamental com a Análise do Comportamento Aplicada (ABA), além da terapia ocupacional, juntamente com fonoaudiólogas e neuropediatras.

Continua após a publicidade

O diagnóstico do autismo é essencialmente clínico, feito a partir das observações da criança, entrevistas com os pais e aplicação de instrumentos específicos. A profissional conta que quem é diagnosticado com o transtorno apresenta sempre características comuns como falta de contato visual, falta de interação social, falta de habilidade de aprendizagem e dificuldade na fala.

Educação inclusiva para autistas

O autismo é um dos maiores desafios para a rede de ensino, seja ela pública ou privada. Segundo a Lei das Diretrizes e Bases Nacionais, no capítulo V, o artigo 58 classifica a educação especial como “modalidade de educação escolar, oferecida, preferencialmente, na rede regular de ensino, para educando portadores de necessidades especiais”.

Uma sala de aula inclusiva é aquela em que todas as crianças se sentem acolhidas, independente da condição social, etnia ou deficiência. Nesse ambiente, todos ganham em termo de aprendizagem, socialização e, sobretudo, em aprender a conviver com as diferenças.

Sabe-se que os autistas apresentam padrões de pensamentos, interesses, linguagem e comportamentos muito distintos comparados aos estudantes neurotípicos, por isso, é necessário avaliar todo o ambiente na qual o portador do transtorno está inserido.

A fonoaudióloga e professora, Ana Flávia Teodoro, diz que, para ter um ambiente inclusivo para autistas, é necessário conhecer as crianças que estão inclusas no ambiente didático. 

“Penso que conhecer essas crianças autistas, saber o que pensam e sentem diante de determinados estímulos do ambiente, compreender a forma como aprendem, pode ser o primeiro passo para que os profissionais da área da educação adaptem a escola e o ambiente da sala de aula para realmente incluir esses estudantes”, ressalta a professora.

Ana Flávia ainda ressalta que uma escola acessível é uma escola que organiza o ambiente arquitetônico, levando em consideração a complexa gama de questões sensoriais no autismo. Além de conhecer as crianças que estão inclusas, é necessário avaliar outros oito aspectos, sendo eles uma sala de aula previsível, iluminação do local, espaço de fuga, acústica, zoneamento sensorial, zonas de transição, escolha de cores neutras na sala de aula e a segurança dessas crianças.

Preconceito familiar

O preconceito das pessoas em relação ao autismo ainda é muito grande. Mas o que surpreende é que grande parte é no âmbito familiar. Mesmo sendo um assunto que está crescendo e sendo debatido, muitos pais não aceitam o diagnóstico dado ao filho.

“A melhor maneira de se resolver é conversando com os familiares da melhor maneira. Explicando o que pode ser feito, qual é o tratamento e para o que serve, fazendo com que os pais deixem esse apego ao diagnóstico e foque no tratamento que melhore a qualidade de vida do filho”, explica a psicóloga Júlia Caixeta.

Por esse preconceito enraizado, muitos pais temem por matricular seus filhos em escolas, já que não existe o preparo para receber crianças com o transtorno. A professora Ana Flávia explica que muitas crianças já relataram que passaram por muitos sofrimentos na escola regular.

“Ouço inúmeros relatos de crianças autistas que passam por muito sofrimento na escola regular, pois em muitos casos a escola apenas insere esses estudantes e não faz nenhum tipo de adaptação pedagógica ou curricular para incluí-lo”, finaliza.

Veja Também