Dia da Visibilidade Trans: porque ainda é tão importante falar sobre “representatividade”?

De acordo com o IBGE, a estimativa de vida de uma pessoa trans é de 35 anos, a metade da estimativa para pessoas cisgênero | Foto: Reprodução/YouTube

Postado em: 30-01-2022 às 11h00
Por: Igor Afonso
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De acordo com o IBGE, a estimativa de vida de uma pessoa trans é de 35 anos, a metade da estimativa para pessoas cisgênero | Foto: Reprodução/YouTube

O Dia da Visibilidade Trans, comemorado no dia 29 de janeiro, integra o calendário brasileiro desde 2004. A data rememora o lançamento oficial da campanha “Travesti e Respeito”, onde 27 travestis entraram no Congresso Nacional para firmar os votos da luta em prol da população trans. Mas porque, em 2022, é tão importante falarmos sobre representatividade?

Enquanto crescemos, buscamos modelos de pessoas com quem gostaríamos de nos parecer quando adultos. Crianças negras olham para a televisão em busca de grandes profissionais ou figuras artísticas que também sejam negras para se sentirem representadas, assim como mulheres, pessoas de descendência asiática, indígenas e pessoas com deficiência, todos nós olhamos para uma personalidade famosa que nos represente.

Para a população trans o desafio é maior. De acordo com dados da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), o Brasil é o país que mais mata pessoas transexuais no mundo. Em 2019 o país passou da 55ª posição para a 68ª no ranking de países seguros para a população LGBT+ e segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a estimativa de vida da população trans é de 35 anos, metade da estimativa de vida da população cisgênero (70 anos).

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A Constituição Federal assegura a todo cidadão brasileiro ou estrangeiro residente no Brasil, o direito à vida. Para a população trans, a representatividade tem outro significado, não só o profissional. Ver uma pessoa trans chegar aos 35 anos, é uma vitória. É saber que essa pessoa não virou estatística.

Para entender melhor a real importância dessa representatividade, a reportagem do O Hoje conversou com a designer gráfico, Arpa Pacheco. Arpa é uma mulher trans, goiana e ativista da causa LGBTQIA+. Quando questionada sobre o motivo de ser tão importante ver uma outra mulher trans em destaque, Arpa pontua que “é necessário mostrar e comprovar que é possível ocuparmos qualquer espaço, que é possível que nosso discurso seja ouvido, levado a sério e respeitado. É necessária a inclusão e representatividade para que possamos nos ver nesse mundo, é assim com todas as pessoas e também é assim para a comunidade LGTQIA+. É necessário que essas pessoas tenham oportunidades assim como as demais, é necessário que pessoas trans tenham uma perspectiva de vida além da marginalidade”.

A designer cita Erika Hilton, vereadora e presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara de São Paulo; Amanda Souto, primeira mulher trans a presidir uma comissão na OAB Goiás e Linn da Quebrada, travesti, cantora, atriz e a mais nova integrante do BBB22, como exemplos de mulheres trans que batalharam para ocupar cargos nunca desbravados antes pela população trans.

A definição de ‘representatividade’ que consta no dicionário da língua portuguesa, vai de encontro ao conceito presente no Dicionário de Política de Noberto Bobbio, em que a representatividade é a expressão dos interesses de um grupo na figura do representante. Ela tem como fator a construção de subjetividade e identidade dos grupos e indivíduos que integram esse grupo. O que isso significa?

Significa que a representatividade não é apenas a organização de grupos buscando que seus interesses sejam representados e garantidos, mas é sobretudo parte daformação do que é o indivíduo que compõe esse grupo.

Na prática, quando falamos de representatividade, estamos falando de oportunidade, conquistas, lugar de fala, possibilidades e de sonhos. 

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