Saiba como esterco de animais funciona como energia para produtores rurais em Goiás

O projeto tem a tarefa de dar mais autonomia a cerca de 400 pequenos e médios produtores de gado leiteiro e de corte cadastrados no projeto em Goiás, que podem utilizar os resíduos animais para a produção do biogás.

Postado em: 17-03-2022 às 15h33
Por: Rodrigo Melo
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O projeto tem a tarefa de dar mais autonomia a cerca de 400 pequenos e médios produtores de gado leiteiro e de corte cadastrados no projeto em Goiás, que podem utilizar os resíduos animais para a produção do biogás. | Foto: Reprodução

Pesquisadores do Câmpus Goiânia do Instituto Federal de Goiás (IFG) e do Instituto Federal Goiano (IF Goiano) uniram forças para desenvolver o projeto Biodigestor, com o objetivo de beneficiar pequenos e médios produtores rurais a serem autossuficientes em energia, utilizando apenas os resíduos orgânicos descartados pelos seus rebanhos.

A proposta é capacitar e oferecer assistência técnica a esses produtores, com recursos do projeto do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o Rural Sustentável – Cerrado, ao qual a ação interinstitucional está vinculada.

Beneficiados

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Desenvolvido em 2021, o projeto tem a tarefa de dar mais autonomia a cerca de 400 pequenos e médios produtores de gado leiteiro e de corte cadastrados no projeto em Goiás, que podem utilizar os resíduos animais para a produção do biogás. Atualmente, o projeto é executado em duas propriedades, sendo uma em Rio Verde e outra em Bela Vista.

A ideia é gerar produção energética usando biogás através da revitalização de biodigestores e construção motogeradores de baixa potência nas propriedades atendidas pelo Rural Sustentável.

De onde vem a energia

Professor Sérgio Botelho no laboratório de Química do Câmpus Goiânia do IFG, ao lado da máquina de análise de gás

Para gerar essa energia, o professor da área de Química do câmpus e membro da equipe, Sérgio Botelho, explica que os produtores precisam de biodigestores, local onde se pode concentrar um grande volume de matéria orgânica (esterco) que é decomposta por bactérias que liberam o biogás.

Esse se transforma em energia para abastecer as propriedades e dar segurança aos pecuaristas para que não percam sua produção em caso de desabastecimento de energia elétrica local. O professor enfatiza que, no caso de produtores de leite, o prejuízo pode ser alto com a falta de energia para ordenha ou para o resfriamento do produto durante algum período. “Nessas fazendas é comum ter esse tipo de desabastecimento”, ressalta.

Energia limpa

Segundo dados dos pesquisadores, de um rebanho de 80 cabeças seria possível recolher uma quantidade de dejetos animais, em 4 horas de ordenha, capaz de abastecer um biodigestor de 20 m³ com esterco. Após um período de 50 dias, tempo necessário para que a produção do biogás ocorra, podem ser geradas 4 horas de energia elétrica limpa e a custo reduzido para ser utilizada pelos produtores nos momentos de desabastecimento de energia ou até mesmo para reduzir a conta de luz em suas fazendas.

Além do biodigestor, outro instrumento necessário para a produção dessa energia limpa é um motogerador de baixa voltagem. Segundo o professor, atualmente é possível encontrar no país geradores acima de 75 quilovoltampere (kVA) para grandes propriedades.

“Mas para pequenos produtores, abaixo de 75 kVA, entre 40 até 10 kVA, só tem na China e não é patenteado no Brasil, custa caro a importação dele (gerador) e não tem assistência técnica”, completa. A tecnologia para a produção desses geradores é fruto de um projeto de inovação do Câmpus Goiânia do IFG em parceria com a Enel e a Anexo Energia.

Conhecimento para os pequenos e médios produtores

Uma das vertentes do projeto interinstitucional é justamente a criação de um Centro de Referência de Biogás e Biofertilizante, que será instalado em Rio Verde, para a produção de conhecimento e tecnologia em prol dos produtores atendidos pela iniciativa.

O professor Sérgio afirma que vai ser um ponto de apoio aos produtores, que contarão com assistência e consultoria técnicas para a manutenção de seus biodigestores e motogeradores, além de ser um laboratório para troca de conhecimentos entre estudantes de graduação e pós-graduação tanto do IFG quanto do IF Goiano.

Enquanto o Centro de Referência não fica pronto, o biogás produzido nas propriedades-piloto pode ser analisado no laboratório de Química do Câmpus Goiânia. Nos equipamentos, os pesquisadores podem verificar o quanto de metano tem o biogás produzido nas propriedades atendidas pelo projeto.

“O biogás é composto basicamente de metano, CO2, hidrogênio, oxigênio, nitrogênio, CO e acetileno. Só que o que é mais interessante para produzir energia? O metano! Então preciso analisar quanto ele tem de metano, quanto tem de CO2, quanto tem de nitrogênio e fazer um cálculo e dizer quanto de energia vai ser gerada. Aí dimensiona-se um motogerador”, esclarece Sérgio.

Biofertilizantes

Além da energia, os biodigestores também produzem biofertilizantes que podem ser utilizados para repor propriedades do solo tanto nas próprias fazendas, quanto para ser comercializado pelos produtores. Mais uma vez, a análise do material, realizada no Câmpus Goiânia do IFG, se faz necessária.

A geração de biofertilizantes ganha mais relevância diante da atual crise no fornecimento de fertilizantes, por razão da guerra entre Ucrânia e Rússia, onde os russos são os principais fornecedores do insumo para o país.

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