Quinta-feira, 28 de março de 2024

Homem é preso por matar travesti esfaqueada no pescoço, em Aparecida de Goiânia

A vítima se prostituía e houve um desentendimento em relação ao preço que deveria ser pago pelo programa

Postado em: 30-03-2022 às 10h43
Por: Jennifer Neves
Imagem Ilustrando a Notícia: Homem é preso por matar travesti esfaqueada no pescoço, em Aparecida de Goiânia
A vítima se prostituía e houve um desentendimento em relação ao preço que deveria ser pago pelo programa

Um homem de 37 anos foi preso, nesta terça-feira (29/03), suspeito de matar Isabela, de 22 anos, no Jardim Santo Antônio, em Aparecida de Goiânia. O crime aconteceu no último dia 5 de março e a vítima era uma travesti que estava em Goiás há 15 dias.

De acordo com o Grupo de Investigação Homicídios (GIH) de Aparecida de Goiânia, o autor do crime combinou um programa com Isabela por R$ 30 e ambos foram para um lote baldio na moto do suspeito. No entanto, houve um desentendimento sobre o valor que deveria ser pago e a vítima passou a cobrar R$ 50. Então, aconteceu uma luta corporal e o homem esfaqueou Isabela três vezes no pescoço, utilizando um canivete dela. 

Após análise de filmagens de câmeras de segurança da região, foi traçado um perfil do autor, com características da motocicleta utilizada por ele, capacete, roupas e uma mochila que ele usava no momento. Ao ser identificada a placa do veículo, o autor foi reconhecido e preso. Conforme diz a Polícia Civil, ele confessou o crime no interrogatório e, ainda, foi encontrado o canivete utilizado no delito ainda sujo de sangue, dentro da mochila do homem. Com o mandado de prisão temporária cumprido, o suspeito deve ser indiciado por homicídio qualificado e o inquérito deve ser concluído nos próximos dias.  

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Em Goiás, o último crime noticiado contra uma travesti, aconteceu no último dia 24 de fevereiro deste ano, também em Aparecida de Goiânia, em que Bruna Kimberlly de 27 anos foi baleada com pelo  menos três disparos de arma de fogo. 

Trans e travestis assassinadas

De acordo com a Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais), o Brasil é país que mais mata pessoas trans e travestis no mundo. No ano passado, 140 pessoas trans brasileiras foram assassinadas. De acordo com a associação, a cada 10 homicídios contra trans no mundo, 4 acontecem no Brasil.

A Antra afirma que as maiores motivações dos crimes são o preconceito, políticas institucionais antitrans, impunidade e desrespeito em geral. Em relação às idades, a pesquisa mostra que 5 vítimas tinham entre 13 e 17 anos; 53 tinham entre 18 e 29 anos; 28, entre 30 e 39 anos; 10 tinham entre 40 e 49 anos; 3, entre 50 e 59 anos; e 1, entre 60 e 69 anos. No entanto, 40 fontes não trouxeram informações a respeito da idade. 

A Antra ressalta ainda que, por meio de análise de imagens e perfis encontrados em redes sociais, 81% das travestis ou mulheres trans mortas eram negras. Além disso, a associação indica que 10% dos casos noticiados na imprensa não respeitaram a identidade de gênero das vítimas e 17% expuseram o nome de registro. 

O instituto revela também que, em 120 casos foi possível identificar a forma de assassinato: 47% foram cometidos por armas de fogo, 24% por arma branca, 24% por espancamento, apedrejamento, asfixia e ou estrangulamento. Em 5%, foram usados outros meios, como pauladas, degolamento e ateamento de fogo.

De acordo com a Antra, 78% dos assassinatos ocorreram contra mulheres trans e travestis que se prostituiam, pelo fato de que esse grupo é mais exposto à violência, por vivenciarem a marginalização. “as vítimas são empurradas para a prostituição compulsoriamente pela falta de oportunidades, onde muitas se encontram em alta vulnerabilidade social e exposta aos maiores índices de violência, a toda sorte de agressões físicas e psicológicas”.

O estudo também revelou que 65% das pessoas trans que trabalham com prostituição, desenvolveriam outras atividades, se tivessem oportunidade. Além das mortes registradas, houveram 79 tentativas de homicídio em 2021, sendo que os suspeitos dos assassinatos não costumam ter relação direta, social ou afetiva com a vítima. A maioria dos crimes também ocorrem à noite, em via pública, geralmente em ruas desertas, com uso excessivo de violência e crueldade. 

A Antra aponta também a ausência de informações oficiais consistentes, o que dificulta a identificação dos assassinatos, levando à subnotificação. Segundo a entidade, 3 em cada 4 trans ou travestis foram vítimas de violência, contra 1 a cada 4 muheres cisgênero. 

Já de acordo com a Trans Murder Monitoring, desde o início do levantamento, foram catalogados 4.042 assassinatos, sendo que 1.549 deles aconteceram no Brasil. Ou seja, 38,2% de todas as mortes de pessoas trans no mundo. 

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