Goiânia recebe o primeiro Festival de Palhaçaria Preta do Centro-Oeste

O festival conta com apoio da Lei Aldir Blanc e é produzido, pensado, articulado e apresentado por pessoas pretas.

Postado em: 01-04-2022 às 08h58
Por: Redação
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O festival conta com apoio da Lei Aldir Blanc e é produzido, pensado, articulado e apresentado por pessoas pretas | Foto: Reprodução

Por Elysia Cardoso

Aquilombar é o movimento de organizar e constituir espaços que unem e ressignificam corpos negros a partir de uma perspectiva afrocentrada. É seguindo esse caminho que o Orum Aiyê Quilombo Cultural tem a iniciativa pioneira de realizar o primeiro Festival de Palhaçaria Preta do estado do Centro-Oeste, que se inicia hoje (1). O festival conta com apoio da Lei Aldir Blanc e é produzido, pensado, articulado e apresentado por pessoas pretas. 

Ao todo o projeto oferecerá ao público seis espetáculos de quatro artistas negros do Estado e segue até dia 16 de abril. As apresentações são em formato presencial e virtual, além de oficinas e debates que colocam a palhaçaria preta no centro do holofote e das discussões. Haverá ingressos limitados para os interessados em assistir às apresentações presencialmente, que custarão R$10. As apresentações serão gravadas e disponibilizadas gratuitamente no canal do YouTube do Orum Ayê a partir do dia 20 de abril. 

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O festival homenageia o palhaço Benjamin de Oliveira (1870-1954), conhecido como o primeiro palhaço negro do Brasil e como o idealizador e criador do primeiro circo-teatro. Nascido no Rio de Janeiro, escreveu diversas peças de sucesso, entre as quais, O Diabo e o Chico, Vingança Operária, Matutos na Cidade e A Noiva do Sargento. Atuou também como cantor, nos entreatos, executando ao violão lundus, chulas e modinhas.

Povo preto no centro

Tanto o festival quanto o espaço Orum Ayiê Quilombo Cultural nascem da necessidade de se ter em Goiânia um espaço que enfatizasse o protagonismo negro na produção cultural. O espaço foi fundado por Raquel Rocha e Marcelo Marques, que acumula 10 anos de caminhada de circo que instigou esse diálogo da palhaçaria com o protagonismo negro idealizado pelo espaço. 

Marques conta que o evento pretende mostrar não apenas as dores do povo preto, mas também suas vitórias e felicidades. “Este evento vem do desejo de criar algo divertido e dinâmica que enfatizasse a alegria do povo preto. Ao mesmo tempo em que sabemos que grande parte das produções artísticas enfatizam nosso sofrimento. Dessa forma, chegamos à ideia de um festival de palhaços, um contraponto às angústias que vêm afligindo toda a população. Só que não bastava ser um festival de palhaço, seria necessário um evento protagonizado por pessoas pretas”, afirma o idealizador.

Marcelo Marques ainda lembra do difícil cenário sócio, político e econômico, que coloca as pessoas negras em uma situação ainda mais marginal às políticas públicas e no centro de crescentes ataques racistas. A consciência da importância das relações identitárias na formação e na autoestima de jovens e crianças, lembra o produtor, é fundamental e a existência de eventos culturais que afirmem a negritude ajudam na formação dessas pessoas. “É nesta faixa etária em que o jovem consolida sua personalidade e, por isso, as referências que afirmam positivamente seu lugar social são enriquecedores. Diante desse olhar, ter eventos culturais protagonizados, produzidos e gestados por pessoas pretas colaboram na afirmação da identidade juvenil num lugar potente”, analisa Marques. 

Programação

Começando os trabalhos, Marcelo Marques apresenta ‘Minha Vida de Palhaço’ hoje (1), às 19h. No dia seguinte (2), às 18h, Palhaço Saracura apresenta ‘O Bambolero’. No domingo (3), também às 18h, o Palhaço Bulacha apresenta ‘Circo de Pulga’. Na quinta-feira (7), às 20h, haverá uma mesa de debate sobre ‘a palhaçaria preta, seus desafios e conquistas pelo olhar de seus protagonistas’. 

No final de semana seguinte, a Companhia Asas do Picadeiro apresenta ‘Os poderes de Icary’, na sexta-feira (8), às 19h. No sábado (9), às 18h, Marcelo Marques volta aos palcos apresentando ‘Mocotó OOOHHH!!!!’ e no domingo (10) é o Palhaço Bulacha quem apresenta ‘O Domador de Animais’ às 18h.
O Festival segue ainda no outro final de semana oferecendo duas oficinas em formato híbrido: presencial e virtualmente. No dia 16 de abril, das 8h às 11h, Marcelo Marques oferece a oficina de ‘arte da palhaçaria para iniciantes’. No dia seguinte (17), das 14h às 17h, Marcelo oferece oficina de ‘acrobacia para iniciantes’. As pessoas interessadas na oficina deverão preencher formulário disponível no perfil do Instagram do Orum Ayê Quilombo Cultural.  (Especial para O Hoje)

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