Morre a escritora Lygia Fagundes Telles, 3ª mulher a entrar na Academia Brasileira de Letras

Lygia faleceu aos 98 anos, em São Paulo. Consagrada na literatura brasileira, a autora ganhou mais de 16 prêmios literários

Postado em: 03-04-2022 às 14h58
Por: Jennifer Neves
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Lygia faleceu aos 98 anos, em São Paulo. Consagrada na literatura brasileira, a autora ganhou mais de 16 prêmios literários | Foto: Reprodução

Morreu na manhã deste domingo (03/04), a escritora Lygia Fagundes Telles, aos 98 anos, em São Paulo. A autora, considerada um ícone da literatura brasileira, fazia parte da Academia Brasileira de Letras (ABL) desde os anos 80 e já ganhou mais de 16 prêmios como Jabuti e Camões.

Lygia está eternizada nas obras que escreveu e que, inclusive, foram traduzidas para o português de Portugal, alemão, espanhol, inglês, italiano, francês, polonês, sueco e tcheco. Suas obras ainda foram adaptadas para o cinema, TV e teatro. 

O governador de São Paulo, Rodrigo Garcia, anunciou luto oficial de três dias pela morte da escritora. “A grande dama da literatura brasileira retratou a vida de gerações de homens e mulheres. Meus sentimentos aos familiares e amigos”, escreveu em uma rede social.

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Em nota, a ABL lamentou o ocorrido. “A mais notável personalidade da literatura brasileira, patriota e democrata, já era lenda em vida. Permanecerá no Panteão das glórias universais e, para orgulho nosso, era mais academicamente bandeirante. Não faltava aos nossos encontros semanais no Arouche. A gigantesca e exuberante obra continuará a ser revisitada, enquanto houver leitor no mundo”, disse José Renato Nalini.

Biografia

Lygia Fagundes Telles nasceu em São Paulo em 19 de abril de 1923 e passou a infância no interior do estado. Logo depois de alfabetizada, reproduzia nos cadernos escolares as histórias que ouvia. Ela escreveu seu primeiro conto, “Vidoca”, em 1938, aos 15 anos de idade.

Durante o ensino Fundamental, Lygia voltou para a grande São Paulo com o pai, que era advogado, e a mãe, pianista. Ela começou a  estudar na Escola Caetano de Campos, colégio tradicional da cidade. Com apenas 15 anos, publicou seu primeiro livro de contos, “Porão e Sobrado”.

Logo depois, ingressou na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, da Universidade de São Paulo (USP), onde se formou. Quando estudante de pré-jurídico, ela jovem cursou a Escola Superior de Educação Física, também na USP.

De acordo com a ABL, ainda na adolescência Lygia manifestou paixão e vocação para a literatura. Foi ainda, incentivada pelos seus maiores amigos, os escritores Carlos Drummond de Andrade e Erico Verissimo.

A autora considerava Ciranda de Pedra (1954) o marco inicial de suas obras completas. O romance virou novela na TV Globo quase 30 anos depois, em 1986. Já em 1954, nasceu seu filho Goffredo da Silva Telles Neto, de seu primeiro casamento. Goffredo virou cineasta, e deu a Lygia duas netas: Margarida e Lúcia, mãe da única bisneta, Marina.

Ainda nos anos 1950, foi publicado o livro Histórias do Desencontro (1958), que recebeu o Prêmio do Instituto Nacional do Livro.

O segundo romance, Verão no Aquário (1963), Prêmio Jabuti, saiu no mesmo ano em que, depois de divorciada, casou-se com o crítico de cinema Paulo Emílio Sales Gomes. Juntos, escreveram a adaptação para cinema da obra Capitu, em 1967, inspirado em Dom Casmurro, de Machado de Assis.

A década de 1970 foi marcada pela consagração da autora na literatura. Ela publicou os livros mais importantes: Antes do Baile Verde (1970), As Meninas (1973), Seminário dos Ratos (1977) e o livro de contos Filhos Pródigos (1978).

Em 1977, em plena ditadura, foi uma das autoras do “Manifesto dos intelectuais” contra a censura. Depois, em 1985, ela foi eleita para a Academia Brasileira de Letras, se tornando a terceira mulher a entrar para a ABL com um discurso histórico:

“Imaginai uma reunião na linha dos malditos, dos raros, daqueles que pelos caminhos mais inesperados escolheram a ruptura. Fora do tempo e ocupando o mesmo espaço estão todos em uma sala. É noite. Os gênios ignorados num país de memória curta, que parece preferir os mitos estrangeiros, como se estivéssemos ainda no século 17, sob o cativeiro do reino. Os mitos estrangeiros que continuam sim nos vampirizando. Nós já estamos quase esvaídos e ainda oferecemos a jugular no nosso melhor inglês, o vosso amor é uma honra para mim”.

Em 1996, em entrevista ao programa Roda Viva, Lygia falou sobre a morte. “Quando a morte olhar nos meus olhos e disser ‘vamos’, eu digo ‘estou pronta, fiz o que eu pude'”. A glorificação definitiva veio com o Prêmio Camões, em 2005, distinção maior em língua portuguesa pelo conjunto de obras.

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