Pernambuco foi o estado onde mais morreram pessoas trans em 2022; entenda

De 2017 a 2022, foram 59 homicídios no estado — que está na sexta posição

Postado em: 26-02-2023 às 18h07
Por: Ícaro Gonçalves
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De 2017 a 2022, foram 59 homicídios no estado — que está na sexta posição | Foto: Vitor Pastana/ANF

O estado de Pernambuco foi o estado que mais matou pessoas trans e travestis no Brasi no ano de 2022. Em números absolutos foram 13 assassinatos, de acordo com o dossiê anual da Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais). De 2017 a 2022, foram 59 homicídios no estado — que está na sexta posição.

Para Bruna Benevides, secretária de Articulação Política da Antra, o principal motivo para Pernambuco ocupar o topo da lista é a omissão no enfrentamento a violência. “Nos últimos seis anos, Pernambuco circulou entre os dez estados que mais assassinam pessoas trans e o Estado ignorou as constantes denúncias, as campanhas e a própria divulgação dos dados”, afirma em entrevista ao portal Uol.

Segundo a Secretaria Estadual da Defesa Social, 30 casos envolvendo pessoas LGBTs foram registrados como CVLI (Crime Violento Letal Intencional), em 2022 — e “um deles foi registrado tendo vítima identificada como pessoa trans”.

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A Secretaria Estadual de Desenvolvimento Social, Criança, Juventude, Prevenção à Violência e às Drogas, por outro lado, reconhece que Pernambuco ocupa “a triste posição de estado brasileiro onde mais morrem pessoas trans e travestis”.

Para elaborar o dossiê — que somou mais casos de homicídio —, a Antra analisa reportagens e dados governamentais, de processos judiciais e de segurança pública —além de fontes secundárias, como instituições de direitos humanos, redes sociais e relatos testemunhais.

A Secretaria da Defesa alega que o Estado tem uma política de prevenção e repressão aos crimes envolvendo a população LGBT+. “Há uma determinação para que haja celeridade e foco na resolução dos inquéritos, de modo que os autores sejam responsabilizados na forma da lei.”

No ano passado, a região Nordeste liderou os casos, concentrando 40,5% dos assassinatos (52 casos), de acordo com o levantamento da Antra. Na sequência, estão Sudeste com 35 mortes (27%), Centro-Oeste com 17 (13%), Norte com 16 casos (12,5%) e Sul com 9 casos (7%). Em Pernambuco, das 13 mortes, ao menos 7 tiveram requintes de crueldade.

Violência enraizada

A advogada Robeyoncé Lima, vice-presidente da Comissão da Verdade sobre a Escravidão Negra da OAB/PE, afirma que a violência está enraizada no estado. “No interior temos crimes com requintes de crueldade, mas, em termos de quantidade, a violência maior está na Grande Recife, porque a maioria da população trans vive aqui”, afirma.

O recorte racial e de classe também precisa ser levado em consideração, destaca a advogada — a maioria das vítimas é negra.

São situações de violências extremas, que somam muitos fatores: machismo, misoginia, patriarcado, LGBTfobia, racismo. Não conseguimos fazer uma mudança da realidade sem levar em consideração elementos como esses.”

Outro desafio, diz Robeyoncé, é a subnotificação. “Precisamos de dados estatísticos para quantificar o tamanho dessa violência para mostrarmos a realidade e exigir mais segurança para essa população.”

Estados que tiveram mais assassinatos de pessoas trans em 2022:

  1. Pernambuco: 13
  2. São Paulo: 11
  3. Ceará: 11
  4. Minas Gerais: 8
  5. Rio de Janeiro: 7

Nos últimos anos, Pernambuco subiu gradativamente no ranking brasileiro.

  • Em 2018, ocupava a décima posição (7 mortes).
  • Em 2019, a quarta (8).
  • Em 2020, a sétima (7).
  • Em 2021, a quinta (11).

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