Cultura cinematográfica peca em não reconhecer as obras coreanas

Apesar da diferença, os filmes e séries coreanas seguem o mesmo formato de trabalhos norte-americanos

Postado em: 24-03-2023 às 09h03
Por: Victória Vieira
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O filme ‘A Garota do Século 20’ foi lançado no segundo semestre de 2022 e gerou bastante comoção entre o público da Netflix | Foto: Divulgação

O século 21 trouxe diversas mudanças e integrações. A globalização foi uma delas, afinal, vivemos constantemente com diversas misturas de culturas e chegamos até mesmo a adquirir alguns hábitos. Um exemplo bastante específico é no consumo de filmes e séries coreanas, que tem tomado conta do top dez conteúdos mais assistidos da plataforma de streaming Netflix, isto é, os famosos doramas.

Os doramas são produções dramatizadas da televisão japonesa. A origem do nome é em razão da pronúncia da palavra ‘drama’, que remete ao som de ‘dorama’. Na Coreia, essas obras são denominadas de k-drama. Apesar da diferença, os filmes e séries coreanas seguem o mesmo formato de trabalhos norte-americanos, porém, de forma melhorada. Quando se trata de uma série, os episódios são semanais e a história geralmente gira em torno somente de um acontecimento. Essa é a primeira diferença entre as novelas, que costumam acompanhar diversos desdobramentos.

Geralmente, as obras não trabalham com continuações, pois o roteiro não apresenta furos na linearidade da história, gerando ‘cliffhangers’ (finais com arcos abertos, que necessitam de uma sequência). Esse é o maior exemplo do que diversas séries que são aclamadas, mas na verdade representam o cenário da superestimação, deveriam seguir. 

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O fato é que diversas pessoas estão dispostas a abrir um espaço para obras de origens mexicanas, espanholas, turcas e principalmente norte-americanas, mas quando se fala de obras originalmente coreanas, os olhos revirados, carrancas e o julgamento são as primeiras reações. A reflexão que fica é: por que essa recepção? 

Em 2020, o filme ‘Parasita’, dirigido por Bong Joon Ho, fez história no Oscar. O longa venceu quatro de seis categorias principais da premiação. Foi a primeira vez que um longa de origem não-inglesa levou a estatueta de melhor filme. 

Não obstante, neste ano, Michelle Yeoh, protagonista de ‘Tudo Em Qualquer Lugar Ao Mesmo Tempo’, foi a primeira mulher asiática a vencer a categoria de melhor atriz, em 95 anos de premiação. Diante ddesse contexto, percebemos que o mundo cinematográfico caminha em reconhecer obras e profissionais que não são originalmente europeias ou estadunidenses, mas essa progressão ocorre de forma lenta, o que não deveria acontecer. A cultura deve ser diversificada e os consumidores necessitam estar abertos a expandir os gostos e o conhecimento. 

Obviamente, além da xenofobia e o pré-julgamento, o alcance das obras coreanas é menor. É uma pena reconhecer que a ignorância e acessibilidade no mercado impedem os telespectadores enxergarem a qualidade dessas obras. A cinematografia coreana não deixa a desejar, é até mesmo superior. Os diretores estudam colocar em primeiro plano a memória afetiva de um indivíduo, isto é, a prioridade na a criação de catarse nos telespectadores, investindo nos impactos sentimentais de alguém ao assistir uma determinada cena ou desfecho de uma história. Tudo isso em conjunto com a sonoridade, cenários, caracterização de personagens e etc.  

A Garota do Século 20

‘A Garota do Século 20’ é uma obra dirigida por Bang Woo-ri, estrelada por Byeon Woo-seok, Kim Yoo-jung, Roh Yoon-seo, e Han Hyo-joo. O filme se passa em 1999, quando uma adolescente monitora atentamente o garoto pelo qual a melhor amiga está apaixonada e com isso, ela acaba se desenvolvendo com sentimentos amorosos pela mesma pessoa. O filme foi lançado no segundo semestre de 2022 e gerou bastante comoção entre os telespectadores, chamando atenção ao persuadir em relação ao gênero.

A estética e a divulgação foram baseadas nos elementos do gênero comédia romântica. De fato, os primeiros momentos do longa seguem o que foi prometido, mas há a predominação de um drama inesperado e típico em filmes de praxe. As formações dos núcleos da história encaixam na extensão de horas dispostas, indo além do que o clichê deveria seguir, dando espaço para a arte da dor ser representada da melhor maneira.

O filme ‘A Garota do Século 20’ foi lançado no segundo semestre de 2022 e gerou bastante comoção entre o público da Netflix.

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