Quinta-feira, 28 de março de 2024

Goiás é o segundo estado que mais desmatou o cerrado em 2023

O estado desmatou 10.849 hectares de vegetação nativa em fevereiro de 2023, de acordo com a SAD Cerrado

Postado em: 30-03-2023 às 08h05
Por: Anna Letícia Azevedo
Imagem Ilustrando a Notícia: Goiás é o segundo estado que mais desmatou o cerrado em 2023
Infográfico do Cerrado elaborado pelo MapBiomas, com crescimento do desmatamento no bioma | Foto: Divulgação

Conforme estudo realizado pelo SAD Cerrado, somente em fevereiro no estado de Goiás houve o desmatamento de 10.849 hectares de vegetação nativa. Esta pesquisa revelou um aumento de 69% em relação a 2022, quando foram desmatados 6.421 hectares. Nesse sentido, deixando o alerta para as consequências dessa atividade que pode ser sofrida na biodiversidade da região, além de uma crescente preocupação com a possível crise hídrica.

Dessa forma, a pesquisa revela que o desmatamento em áreas que devem ser protegidas pela existência de nascentes, rios e serem banhadas por bacias hidrográficas, demonstra um risco de cerceamento da água. O que pode atingir mais de 100 cidades no estado, sendo estas principalmente participantes da fronteira agrícola. Sendo assim, a perda da vegetação nativa, diminui a capacidade de absorção e distribuição de água nas regiões.

Nesse sentido afirmou a pesquisadora do IPAM, Fernanda Ribeiro. “São diversos e complexos os efeitos que a diminuição na oferta de água teria nos municípios, mas uma coisa é certa: se o desmatamento continuar na velocidade e na extensão em que está, a disponibilidade hídrica será cada vez menor”.

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Impactos

Além de modificar os recursos hídricos, o estudo também revela o aumento de temperatura ocasionado por esta devastação da natureza. Em áreas desmatadas a temperatura pode aumentar em média 3,5ºC conforme apresenta a pesquisa. Já em regiões em que houve desmatamento para favorecer o agronegócio, o observado é que as temperaturas são 1ºC mais elevadas, o que é uma realidade e não uma prospecção, conforme a SAD.

O SAD Cerrado é uma ferramenta de monitoramento do desmatamento do bioma desenvolvida pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) em parceria com o Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (LAPIG) da Universidade Federal de Goiás (UFG) e com a MapBiomas. Esta é uma rede colaborativa que produz o mapeamento da cobertura do solo e monitora a superfície de água e as cicatrizes de fogo, também utilizada pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SEMAD).

Motivos do desmatamento

O MapBiomas, aponta que a principal causa de desmatamento no Cerrado é o crescimento do Agronegócio, em especial o setor pecuarista em que as pastagens cobrem 52% da superfície de solo. Como também aponta que 64,21% do uso de solo no estado de Goiás é destinado à agropecuária.

Além disso, a Bahia e Minas Gerais, outros estados do mesmo bioma que o Goiás, apontam números altos de desmatamento em regiões com ascendente no setor do agro. O primeiro, conforme a SAD, teve 22.187 hectares desmatados, em fevereiro e o segundo, 10.007 hectares no mesmo período. Dito isso, o desmatamento que vem ocorrendo na região abre espaço para destinação da área para produção agrícola, seja plantio ou pecuária.

Em relação à instigação para o que levou a devastação, afirmou Tarsila Andrade, pesquisadora do IPAM. “É preciso analisar com cautela a motivação por trás dessas grandes áreas desmatadas, principalmente por ser um período com alta cobertura de nuvens que normalmente resulta em uma subestimação da área desmatada”. 

Governo de Goiás

A Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SEMAD), afirma não confiar nas informações disponibilizadas pela SAD Cerrado. Nesse sentido esclareceu sobre, “é importante dizer que essa é uma plataforma que utiliza algoritmos automáticos, e que esses alertas não são submetidos à validação individual de um analista”. Entretanto, o órgão acredita que a plataforma MapBiomas é uma fonte de informações legítimas. Estas foram utilizadas pela SAD. 

Em relação ao uso do solo no estado de Goiás a SEMAD acrescentou: “No dia a dia, a Semad analisa pedidos de supressão que têm previsão legal e, uma vez deferidos, acompanha o cumprimento de todos eles. O corte de árvores isoladas (exclusivo para áreas consolidadas/antropizadas), também representa uma forma permitida em lei de se converter áreas de pastagem em lavouras, por exemplo, e podem ser erroneamente computadas como se fossem novos desmatamentos”.

Além disso, reforçou a preocupação que a Secretaria executa ou participa de projetos de reflorestamento com recuperação da vegetação natural, como o “Produtor de Água” e o “Juntos Pelo Araguaia”, que preveem a recuperação de áreas degradadas. Com o objetivo de manter a proteção e preservação dos recursos hídricos.

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