O centenário do ‘Madiba’

Símbolo em tempo de escuridão, Nelson Mandela lutou contra o racismo, pela liberdade e pela igualdade

Postado em: 18-07-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Símbolo em tempo de escuridão, Nelson Mandela lutou contra o racismo, pela liberdade e pela igualdade

Guilherme Melo

Presidente, líder do movimento contra o Apartheid e ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 1993, Nelson Mandela faria, nesta quarta-feira (18), 100 anos de vida. Condenado em 1964 à prisão perpétua e libertado só em 1990, ele foi um símbolo contra o racismo, lutando pela liberdade e pela igualdade. 

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Mandela nasceu em Mvezo, África do Sul, no dia 18 de julho de 1918. De uma família da nobreza tribal, da etnia Xhosa, recebeu o nome de RolihiahiaDalibhunga Mandela. Em 1925, ingressou-se na escola primária, onde recebeu da professora o nome de Nelson, em homenagem ao Almirante Horatio Nelson, seguindo um costume de dar nomes ingleses a todas as crianças que frequentavam a escola.

Aos 9 anos, Mandela perdeu seu pai, o que o obrigou a ir morar com o povo tambu. Ao terminar sua formação elementar, ingressou-se na escola preparatória ClarkeburyBoardingInstitute, um colégio exclusivo para negros, onde era obrigado a estudar a cultura ocidental. Entrou para o Colégio Healdtown, onde era interno.

Em 1939, Mandela entrou para o curso de Direito, na Universidade de Fort Hare, a primeira a ministrar cursos para negros. Por se envolver em protestos, junto ao movimento estudantil – contra a falta de democracia racial na instituição –, foi obrigado a abandonar o curso. Mudou-se para Joanesburgo, onde se deparou com o regime de terror imposto à maioria negra, o Apartheid.

Concluiu o bacharelado em Artes pela Universidade da África do Sul em 1943. Após obter autorização, continuou os estudos de Direito, por correspondência, na universidade de Fort Hare. Mais tarde recebeu o título de ‘Doutor Honoris Causa’ na tentativa de compensar a sua expulsão.

A segregação racial, a falta de direitos políticos e civis e o confinamento dos negros em regiões determinadas pelo governo branco provocava uma revolta e a luta clandestina do público negro. O principal instrumento de representação política deles, na época, era o Congresso Nacional Africano (CNA), cujo líder maior era Nelson Mandela. Em 1944, junto a Walter Sisulo e Oliver Tambo, fundou a Liga Jovem do CNA. Nesse mesmo ano, casou-se com Evelyn Mase, com quem teve quatro filhos. Em 1956, o casal se separou. Em 1958, casou-se com a militante antiapartheid, WinnieMadikizela, de quem viria a se separar em 1992.

Período de turbulências 

Em 1960, centenas de líderes negros foram perseguidos, torturados, presos, condenados e assassinados – dentre eles, estava Mandela. Na década de 1980, intensificou-se a condenação internacional ao Apartheid, que culminou com um plebiscito que terminou com a aprovação do fim do regime.

Em 11 de fevereiro de 1990, Mandela conseguiu de volta sua liberdade, e, em 1993, junto ao presidente Frederick De Klerk, assinaram uma nova Constituição sul-africana, o que ajudou a colocar um ponto final em mais de 300 anos de dominação política da minoria branca. Essa nova Constituição simbolizava o fim oficial do Apartheid, e preparava a África do Sul para um regime de democracia multirracial. No mesmo ano, Mandela recebeu o Prêmio Nobel da Paz, dividido com o presidente, que junto com Mandela procurava um caminho para o fim da segregação.

No ano seguinte, 1994, houve eleições na África do Sul, quando Mandela foi eleito presidente da República e De Klerk, vice-presidente. Nelson seguiu no governo, até 1999, e foi premiado pela Anistia Internacional, em 2006, por sua luta em favor dos direitos humanos. Nelson Rolihlahla Mandela faleceu em Joanesburgo, África do Sul, no dia 5 de dezembro de 2013, por complicações em uma infecção pulmonar. 

Quem era Mandela?  

Nelson Mandela passou 27 anos na prisão – inicialmente em RobbenIsland e, mais tarde, nas prisões de Pollsmoor e Victor Verster. Depois de uma campanha internacional, ele foi libertado, em 1990, quando recrudescia a guerra civil em seu país. Em dezembro de 2013, foi revelado pela revista The New York Times que a CIA americana foi a força decisiva para a prisão de Mandela, em 1962, quando agentes americanos foram empregados para auxiliar as forças de segurança da África do Sul a localizá-lo. 

Até 2009, ele havia dedicado 67 anos de sua vida à causa que defendeu como advogado de direitos humanos e pela qual se tornou prisioneiro de um regime de segregação racial, até ser eleito o primeiro presidente da África do Sul livre. Em sua homenagem, a Organização das Nações Unidas instituiu o Dia Internacional Nelson Mandela no dia de seu nascimento, 18 de julho, como forma de valorizar em todo o mundo a luta pela liberdade, pela Justiça e pela democracia.

Apesar de todas as lutas, Mandela foi uma figura controversa durante grande parte da sua vida. Ele foi denunciado como um terrorista comunista. Seus opositores apontam seus traços egocêntricos e o fato de seu governo ter sido amigo de ditadores simpáticos ao Congresso Nacional Africano (CNA).

Em sua vida privada, enfrentou dramas pessoais com mulheres, filhos e netos, mas permaneceu firme com seu dever de conduzir o país. Tornou-se o mais poderoso símbolo da luta contra o regime segregacionista do Apartheid, sistema racista oficializado em 1948, e modelo mundial de resistência. Ali AbdessalamTreki, Presidente da Assembleia Geral das Nações Unidas, definiu Mandela como “um dos maiores líderes morais e políticos de nosso tempo”. 

Símbolo de esperança 

O Apartheid, que significa “separação”, foi um regime de segregação racial que ocorreu na África do Sul, a partir de 1948, o qual privilegiava a elite branca do país, que perdurou até as eleições presidenciais de 1994. Este regime proibia casamentos ‘mistos’, entre brancos e negros, tirava os direitos políticos – como votar e se candidatar – da comunidade negra. 

Os negros tinham dificuldade de conseguir alguns empregos e não podiam ter cargos superiores aos brancos. Trens e ônibus eram segregados, bem como praias, piscinas públicas e bibliotecas e cinemas. Mandela dizia que “sonhava com o dia em que todos levantar-se-ão e compreenderão que foram feitos para viverem como irmãos”. 

Segundo o historiador Murillo Medeiros, Mandela foi fundamental pela redemocratização da África do Sul, ele era um símbolo de esperança para aquelas pessoas. “É como se o Mandela fosse o ‘S’ do Superman, significa uma luz em meio a escuridão”, compara. O historiador explica que houve diversas pessoas que lutaram para o fim daquele regime, mas pouco sobreviveram, por isso Mandela é a melhor pessoa para representar esse ideal. “Mandela dizia que bravo não é quem sente medo, é quem o vence”, finaliza Murillo. 

 

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