Preservação de nascentes garante melhor nível do Ribeirão João Leite em 4 anos

Desafios climáticos podem afetar a disponibilidade hídrica em Goiás

Postado em: 27-09-2023 às 07h00
Por: Tathyane Melo
Imagem Ilustrando a Notícia: Preservação de nascentes garante melhor nível do Ribeirão João Leite em 4 anos
Investimentos em preservação e eficiência operacional geram benefícios duradouros na disponibilidade de água | Foto: Leandro Braz

O calor intenso que tem castigado Goiás nas últimas semanas continua a desafiar os moradores da capital goiana. Porém, enquanto os goianos enfrentam uma onda de calor implacável e preocupações com as mudanças climáticas, uma notícia positiva emerge em relação ao fornecimento de água, que tem permanecido estável e abundante na região. 

De acordo com a Saneago, o nível do reservatório na última terça-feira (26/9) estava em 92%, superando as medições dos outros anos. Para uma comparação com registros anteriores, na mesma data, em 2021, o reservatório atingiu apenas 76%, e em 2022, houve um registro de 87%.

Outro marco notável é o recorde de vertimento da Barragem do Ribeirão João Leite, que ocorreu por quase 8 meses ininterruptos, totalizando 236 dias, de 19 de dezembro do ano passado a 12 de agosto deste ano. Este é o período mais longo desde o primeiro vertimento de água sobre a barragem, em 2011. O vertimento ocorre quando o nível da água ultrapassa a cota de 96%, que corresponde à borda superior do vertedouro, projetado especificamente para essa finalidade.

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O recorde de vertimento, resultado de investimentos em recuperação de nascentes, conservação de matas ciliares e eficiência operacional, mostra que essas ações têm um impacto significativo. Elas resultam em um maior volume de água disponível na bacia por um período prolongado, mesmo durante a estiagem, demonstrando a eficácia das medidas de preservação ambiental.

A Barragem do Ribeirão João Leite é um recurso crítico para o abastecimento público de mais de 1,3 milhão de pessoas em Goiânia e está se expandindo para atender Aparecida de Goiânia à medida que as obras do Sistema de Linhões avançam. Com capacidade para armazenar 129 bilhões de litros de água, a Barragem é fundamental para a região.

Embora os níveis de reservatório estejam atualmente acima da média, a Saneago reforça a importância do consumo consciente de água, especialmente durante o período de estiagem. A campanha “A Água é de Todos, A Responsabilidade Também” incentiva a população a utilizar a água de forma responsável, enfatizando que todos devem fazer a sua parte na preservação do meio ambiente. Com o slogan “Todo Mundo Junto, Fechou?”, a campanha destaca a responsabilidade compartilhada entre a Saneago e a comunidade para garantir o uso sustentável da água.

O Jornal O Hoje conversou com Paulo Almeida, Supervisor de Hidrologia da Saneago, que compartilhou informações sobre a gestão dos recursos hídricos em Goiás. Ele explicou que a Saneago atua na monitorização dos mananciais de abastecimento, identificando as bacias mais críticas e implementando projetos de recuperação, como reflorestamento e proteção de nascentes, em parceria com diversas entidades.

“Diante da identificação dessas bacias, a Saneago tem alguns projetos de recuperação, como o plantio, cerca de nascentes, realização de curvas de nível, que são as barragens que possam fazer a retenção da água da chuva. A Saneago trabalha em parcerias com o Semad, os produtores rurais locais, as secretarias de meio ambiente e o Ministério Público, que é um grande parceiro para protegermos essas bacias”, diz.

Paulo Almeida também abordou os desafios impostos pelo aumento das temperaturas, que resultam em maior consumo de água na área urbana e rural, destacando a importância do planejamento estratégico da Saneago e a conscientização da população para o uso responsável da água. Ele enfatizou que a governança dos recursos hídricos desempenha um papel crucial na mitigação dos impactos das mudanças climáticas e na promoção da segurança hídrica.

Ao analisar a responsabilidade das mudanças climáticas e da governança em relação aos cenários críticos da água em Goiás, o supervisor de hidrologias da Saneago afirma ser evidente uma histórica redução na disponibilidade hídrica, exacerbada pelo aumento das temperaturas e da evaporação, além da influência da ação humana que tem impactado negativamente os mananciais e bacias hidrográficas. “A governança de recursos hídricos de Goiás tem mudado, na sua forma de agir, na sua visão e isso tem trazido benefícios para o estado. Porém ainda precisamos da participação de todos os atores que estão dentro das bacias, no caso os produtores, as associações, as indústrias, as áreas de agropecuária. Isso para que possamos mudar essa realidade de degradação das bacias e trazer segurança hídrica para o nosso estado”, finaliza.

O Jornal O Hoje também conversou com Elizabeth Alves Ferreira, meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) de Goiás, que enfatizou a importância do monitoramento meteorológico na emissão de alertas e a necessidade de ações de prevenção, como orientações à população sobre a exposição ao calor intenso. Elizabete sublinhou o impacto do aquecimento global e as mudanças observadas nas temperaturas ao longo dos anos, enfatizando a necessidade de redução das emissões de carbono e do uso de fontes de energia limpa, bem como o planejamento urbano com foco no conforto térmico.

A especialista também explica sobre os períodos de chuvas de curtos períodos e seus resultados que podem deixar  o ambiente ainda mais abafado. “Normalmente quando ocorre essa chuva está muito quente e seco, e sendo uma chuva que seja capaz de molhar por exemplo uma calçada, acontece o fato de que a calçada muito quente recebe a chuva e quando a água evapora, vem um aumento do aquecimento pelo vapor quente, o chamado mormaço”, diz.

Elizabeth também conta que é observado um aumento da temperatura ao longo dos anos, a partir de uma medição da climatologia que é atualizada a cada 30 anos, os dados apontam que o aumento acontece principalmente em locais com maior crescimento urbano e áreas rurais que tiveram grandes crescimentos em termos agropecuários. “Para o retardo dessas temperaturas, é preciso uma união global. E para a população, é possível contribuir também, evitando queimadas, em áreas urbanas e rurais, porque essas queimadas contribuem para que a atmosfera fique mais poluída, a umidade mais baixa e então tem um aumento de calor no local”, explica.

Os especialistas concordaram entre si que as ações para combater o aquecimento global são urgentes e requerem a colaboração global, incluindo a transição para fontes de energia limpa. Eles também enfatizaram a importância da educação ambiental e da conscientização da população para enfrentar os desafios das mudanças climáticas e garantir um futuro sustentável para a região de Goiás.

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