Caio F. Abreu: escritor gaúcho que brigou com Rachel de Queiroz por causa da ditadura, escreveu rasgando o coração e morreu de HIV

Gaúcho de Santiago do Boqueirão, Caio Fernando Abreu é um dos autores de maior sucesso no Brasil, sobretudo em tempos de redes sociais.

Postado em: 15-05-2024 às 15h08
Por: Yago Sales
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Nome citável em qualquer roda de conversa sobre a boa escrita gaúcha, Caio Fernando Abreu permanece vivo na memória de seus livros

O Rio Grande do Sul tem um vasto catálogo na literatura: entre os mais famosos, lidos e admirados, Fabrício Carpinejar, Moacyr Scliar e Lya Luft. Mas também, Caio Fernando de Abreu, um misto de escritor-repórter-da-vida-amiúde.

Muitos o conhecem como Caio ‘F’ Abreu. O moço, contudo, carregava, logo depois do Fernando o sobrenome Loureiro. Ele nasceu na cidade de Santiago do Boqueirão. Era 12 de setembro de 1948. Matriculou-se em dois cursos superiores, Letras e Artes Cênicas, mas não terminou nenhum.

Apaixonado pelas palavras -sobretudo as digitadas em pesadas teclas de máquinas de escrever -, foi buscar emprego na redação da revista Veja. Queria mesmo era se tornar escritor, lido, relido, vendido, comprado, trocado, rabiscado, enfileirado em prateleiras.

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Audacioso, começou a carreira de repórter na Veja em 1968. Perseguido pelo Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), foi acolhido – em segredo – na residência da escritora Hilda Hilst.

Sem medo de escrever contra a ditadura, teve de fugir, nos 1970, para países europeus. Voltou para Porto Alegre 1974.

Caio era um transgressor da palavra escrita, mas também falada. Não tinha papas na língua, o que lhe rendeu um embate ferrenho com outra estrela da literatura brasileira (e das clássicas): Rachel de Queiroz, autora, entre outros, de O Quinze. Ocorreu em entrevista que a escritora concedeu ao Roda Viva, na TV Cultura, em 1991, quando Caio F. questionou Queiroz sobre ela ter apoiado o golpe militar. Ele era um dos entrevistadores.

Com escrita fluída, diferente, pontual, sensível – um ouvinte do cotidiano contando o bastidor da vida doída -, Caio escreveu diversos livros. De romance e contos, também escrevia crônicas para o Estado de S. Paulo. Após sua morte, alguém reuniu os textos. A coletânea virou o livro “A Vida Gritando Nos Cantos” (2013).

Antes, Caio F. Abreu escreveu “Pedras de Calcutá” (1977), “Morangos Mofados” (1982). Foi justamente este último que tornou o escritor famoso. Depois, ele publicou: “Os Dragões Não Conhecem o Paraíso” (1988), “Onde Andará Dulce Veiga?” (1990) e “Limite Branco” (1994).

O escritor gaúcho, que era homossexual, é um dos mais citados nas redes sociais. Tudo começou ainda com o Orkut, depois Tumblr e, agora, Tik Tok e Instagram.

O autor ainda também fazia textos para jornais como Correio do Povo, Zero Hora, Folha de São Paulo e, como citado, Estadão.

No auge da produção literária, diagnosticado com o vírus maldito, o HIV, o escritor morreu no dia 25 de fevereiro de 1996, deixando milhares de fãs enlutados.

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