Estudantes de dança pedem ajuda para participarem de competições pelo país

Quinze ex-alunos da escola trabalham como bailarinos em pelo menos 10 países na Europa

Postado em: 17-06-2019 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Quinze ex-alunos da escola trabalham como bailarinos em pelo menos 10 países na Europa

Igor Caldas

Especial para O Hoje

Estudantes de dança do Teatro Escola Basileu França, em Goiânia, pedem ajuda para participarem de competições pelo país. As turmas precisam de um total de R$ 54 mil para que os 120 alunos possam viajar. Apesar das dificuldades, a escola forma bailarinos que estão entre os melhores do Brasil, alguns com projeção internacional. De acordo com a professora e coordenadora de dança, Simone Malta, 15 ex-alunos da escola trabalham como primeiros bailarinos em, pelo menos, 10 países na Europa.

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Simone explica que a maior parte dos alunos não tem condições de custear passagens individuais para as competições no Brasil. O espaço da escola foi cedido para que as mães pudessem realizar eventos para angariar fundos. “Pelo menos 90% dos nossos alunos são de baixa renda. As mães estão engajadas em levantar dinheiro com venda de ingressos de eventos feitos na escola”, afirma a coordenadora.

Já foram realizados três eventos com venda de galinhada e de roupas por um bazar instalado na escola pelo período de três semanas. Neste fim de semana foram feitos dois festivais de cachorro quente e sorvete. Os próximos eventos vão acontecer nos próximos dias 28, 29 e 30 com apresentações de dança das coreografias que serão performadas nas competições. Todo dinheiro será revertido para custear o transporte dos alunos para duas competições em Santos (SP) e Joinville (SC).

Eventos de peso

Em Santos, nos dias 4 a 7 de julho, vai acontecer o XII Circuito Nacional de Dança. Em Santa Catarina, o 37º festival de dança de Joinville será no período entre 16 a 27 do mesmo mês. Os festivais oferecem benefícios vindos das escolas de dança do exterior. “Por exemplo, existem jurados nestes festivais que podem oferecer bolsas para os alunos estudarem ou serem contratados para trabalhar fora”, afirma Simone.

Além disso, Simone explica que os eventos funcionam como uma vitrine para o Youth America Grand Prix (YAGP), maior programa internacional de bolsas aberto a estudantes de dança de todas as nacionalidades com idades entre 9 e 19 anos. “O YAGP é uma instituição que promove festivais pelo mundo inteiro. Ele faz uma final nos Estados Unidos com os selecionados de suas competições realizadas em outros países. É a principal porta de entrada para as grandes companhias de dança”.

Alunos do Escola Basileu França estão entre os melhores do Brasil. O campeonato final do YAGP é realizado todos os anos na cidade de Nova Iorque (EUA). Todos os cinco finalistas brasileiros da edição realizada em abril deste ano são do Basileu e receberam bolsa de estudos para estudar em outros países. “Todo ano colocamos pelo menos cinco alunos no mercado de trabalho ou em bolsas de estudo no exterior. À medida que vão se formando, eles vão embora”, afirma Simone.   

A representante do YAGP no Brasil estará presente nos dois festivais em Santos e Joinville e poderá avaliar os alunos do Teatro Escola Basileu França. “Pelo que eu sei, em Joinville, os alunos que conquistam os primeiros lugares já têm vaga garantida para a final do YAGP porque o festival tem convênio com a instituição. Para as competições que não têm ligação direta com o YAGP, a representante vai para selecionar bailarinos”, explica a professora. 

Mães de alunos temem não conseguir verba para as viagens  

A coordenadora do Basileu França, Simone Malta, afirma que deixou os pais e mães dos alunos tomarem frente nas ações para angariar fundos para a competição e que se impressionou com o empenho deles na organização. “Estou bem orgulhosa dos pais. Eles estão trabalhando bastante para venderem os ingressos dos eventos e juntar esse dinheiro. Mas contamos com a ajuda de toda sociedade para que possam conquistar o sucesso”. Ela ainda afirma que a escola é mais conhecida no exterior do que em território nacional.

Nos anos anteriores os alunos tiveram incentivos do governo estadual para custear os ônibus, mas este ano a possibilidade de conseguir dinheiro do Estado é mínima. “O Estado sempre cedeu o dinheiro do ônibus. A gente nunca ficou sem o incentivo do transporte. Mas acho muito difícil conseguir esse ano por causa da dificuldade financeira. Já está em cima da data e os representantes do governo não garantiram nada”.

Simone afirma que levar os alunos para as competições sempre foi difícil porque a única ajuda que o Estado oferecia era a do custeio do transporte de ônibus para Santos e Joinville. Despesas com figurino, alimentação e estadia têm que ser financiadas pelos pais dos alunos. Esse ano, os pais dos bailarinos temem não conseguir o aporte para realizar o sonho de seus filhos.   

Maria Matilde Ramos é mãe de uma estudante de 14 anos que competiu em Nova Iorque, em abril deste ano, e tem apresentação já ensaiada com o grupo para apresentar nas competições do próximo mês. Ela está apreensiva por ainda não terem conseguido financiar os custos de transporte. “Estou desempregada e só meu marido que trabalha, então está muito difícil. Minha filha apresenta em grupo e já está tudo ensaiado. Não pode faltar ninguém”, desabafa.

A mãe relata que foi muito difícil conseguir o dinheiro para que Lyzia Ramos fosse competir em Nova Iorque em abril deste ano. “Não tive apoio nenhum do Estado. Se não fosse a ajuda da família e dos amigos, ela não tinha conseguido ir”. Ela ainda afirma que fez uma campanha de financiamento coletivo online para que sua filha fosse para os Estados Unidos.

Maria considera a falta de apoio e financiamento do governo um descaso com a cultura do Estado de Goiás. “Fico muito chateada de ver o que está acontecendo conosco e com parte da nossa cultura. Nós temos vários bailarinos que foram para fora e o governo não valoriza essa projeção”, lamenta a mãe. 

 

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