Circo: a vida em cima dos palcos

Os artistas circenses precisam de muita coragem e dedicação para se arriscarem diante do grande público. Fofo: divulgação.

Postado em: 24-08-2019 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Os artistas circenses precisam de muita coragem e dedicação para se arriscarem diante do grande público. Fofo: divulgação.

Daniell Alves

Os artistas circenses que desejam sobreviver somente dessa arte devem ter garra e muita dedicação. Embora não haja dados estatísticos relacionados às pessoas que trabalham em circos em Goiânia, a Capital possui diversos artistas neste ramo. E alguns deles conseguem viver apenas de arte. O Jornal O Hoje conta um pouco da trajetória de vida dessas pessoas que se arriscam nos palcos para entreter o público, levando alegria aos expectadores.

Com o passar do tempo, o circo incorporou diversas expressões artísticas regionais. A arte circense encanta as crianças por meio das acrobacias dos trapezistas e malabaristas e, ainda, diverte com as peripécias dos palhaços. Em muitas companhias o trabalho é passado de geração em geração.

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A artista circense Radarani Oliveira entrou no mundo do circo aos 16 anos sem nenhuma pretensão, apenas como um hobbie. Com a paixão pela arte, foi se especializando e fazendo cursos para viver somente disso. Depois, começou a trabalhar em uma companhia que realizava apresentações em diversas escolas de Goiânia. “No palco, eu fazia diversos números de movimentos aéreos e de contorção com outros artistas”, conta ela.

Além de circos itinerantes – aqueles que se apresentam sob uma lona – a artista sempre fez espetáculos em espaços culturais e ginásios. Hoje, ela que vive somente de circo, diz que é possível manter as despesas com a atividade artística. “Mas como eu sempre digo, viver de maneira independente só com espetáculos é complicado. A gente precisa partir para ser professor também. São poucas as pessoas que vivem somente de apresentações”, destaca.

A trajetória de Poliana Rodrigues se assemelha com a de Radarani em alguns aspectos. Um deles é que as duas começaram alunas e se tornaram professoras. Depois de visitar e assistir as aulas, Poliana ficou encantada com as acrobacias. Após cerca de um ano, começou a fazer aulas com mais intensidade em circos tradicionais de Goiânia, como o Circo Lahetô e Basileu França. Assim, ela fez um curso profissionalizante e, a partir disso, começou a se apresentar todos os dias com espetáculos de tecido acrobático.

Por um período curto, ela também trabalhou como professora em projetos sociais do circo, mas não conseguiu viver apenas disso por questões financeiras. Segundo ela, para conseguir se manter neste meio é necessário ter uma veia artística muito forte, além de muita persistência. “É preciso treinar bastante. Trabalhar com arte no Brasil é sempre um desafio”, ressalta. Hoje, ela atua somente como nutricionista, mas guarda uma grande paixão de viver apenas como artista de circo.

Dedicação

A rotina de trabalho varia e possui diversos eixos. No caso de Radarani, coordenadora do Circo Basileu França de Goiânia, é preciso ter jogo de cintura. Os artistas que pretendem fazer um belo espetáculo para o público precisam ter uma rotina diária de treinos e ensaios, segundo a artista. Quando atua como coordenadora ela precisa conciliar o planejamento de aula e definição de projetos pessoais.

Assim como todo trabalho, o circo exige muita dedicação dos artistas. O corpo precisa estar em forma e alimentação deve ser balanceada. Afinal, o corpo é o principal instrumento de trabalho, explica Radarani. “É necessário manter uma rotina de treinos diariamente porque os números, geralmente, necessitam da nossa flexibilidade”, diz ela.

“A rotina é muito intensa. São treinos 24 horas, pois trabalhamos com arte e corpo. É preciso buscar oficinas. Não é só subir no aparelho e fazer um número”, conta a artista Poliana.

Algumas das ações que contribuem para a propagação da arte circense são os encontros que acontecem no Brasil, que reúnem artistas de todo o país e, até do mundo. As apresentações são resultado de um trabalho de dedicação e equilíbrio mental. “O artista do circo não representa necessariamente alguma coisa. Eles não estão ali representando um papel. Mostram para o público o que eles dominam. Isso faz ele se diferenciar do teatro. Quando o trapezista está fazendo um número, ele pode se machucar”, esclarece Radarani.

Diante do público

Estar no palco, diante de tantas pessoas, às vezes pode dar medo e desespero, lembra Radarani. Mas, ao mesmo tempo, é muito bom porque supera nossos limites. “A gente erra muito antes de conseguir dominar a técnica. Colocamos o corpo em situações não convencionais. Também tem um pouco da realização da fantasia e do impossível. Estar no palco é colocar tudo isso em prática. Há muita superação, muita garra e coragem”, acrescenta Radarani.

“A sensação de estar no palco é a melhor possível. Tem todo um nervoso e medo fracasso. Mas é incrível as pessoas estarem assistindo e gostando ali do que você faz. É muito bom”, destaca Poliana.

Oportunidades na Capital

Na Capital, segundo Poliana, tem crescido as oportunidades para este ramo. Mas o principal é a vontade do artista, que trabalha diretamente com o público. “Existe a possibilidade de organizar apresentações em parques e lugares abertos voltados à população daquela região”, cita.

Ela afirma que, no geral, a valorização ainda é pequena. “Em cada cidade já tem os artistas específicos daquele lugar. Somente quando há encontros ou convenções, as pessoas se reúnem e trocam conhecimento para conhecer”, explica.

O processo de especialização é demorado e depende também do público e da programação da cidade em que o artista está inserido. Radarani começou a ter renda após quatro anos de experiência no circo. Se o artista não for dedicado, as chances para o sucesso são mínimas. “O artista precisa de treinamento, técnica e capacitação. Aqui, em Goiânia, existe um restrito mercado para os circenses. Mas, por outro lado, tem espaço para as pessoas empenhadas e qualificadas no que fazem. É um cenário que cada vez está se tornando mais rico”, conta ela. 

Ferramenta pedagógica que transforma vidas 

Mayke Nogueira, de 27 anos, conheceu o circo por meio incentivo de seu pai. Após conhecer um circo na região onde morava na época, no setor Criméia Leste, ele se encantou quando viu outras crianças andando de perna de pau e jogando diabolô – um instrumento malabar. Encantado com as brincadeiras, pediu aos professores do circo para tentar andar de perna de pau. “Foi amor à primeira vista. Me apaixonei pelo circo e não larguei mais”, lembra ele, que atualmente vive apenas sendo artista circense.

A jornada até aqui foi longa. Ele se aperfeiçoou e passou por diversos treinamentos até se tornar monitor. “Assumi responsabilidades até conseguir ser o subcoordenador do circo e responsável por parte da formação de outros jovens que participavam do projeto”, conta ele.

Zé Butina é o nome do palhaço interpretado por ele nos palcos. “Não existem palavras para descrever como é bom estar no palco e poder levar alegria para os expectadores que nos assiste”. Para ele, não há sensação que explica o que é estar diante da plateia. “Sempre sinto como se fosse a primeira vez, ou seja, é aquele friozinho na barriga que o artista nunca vai parar de sentir”, diz.

“A arte circense é uma ferramenta pedagógica que transforma vidas, como transformou a minha apesar de eu não ter nascido debaixo do circo”, frisa Mayke. O circo social foi capaz, ainda, de potencializar Mayke, fazendo com que ele conhecesse um mundo que ele nunca tinha imaginado. (Daniell Alves é estagiário do Jornal O Hoje sob orientação do editor de Cidades Rhudy Crysthian)

 

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