Estilo art decó comemora 85 anos de sobrevivência em Goiânia
Art déco foi escolhido para definir a fisionomia dos primeiros prédios da Capital
GUILHERME MELO E SABRINA MOURA*
Com estilo luxuoso, formas geométricas e design abstrato, Goiânia se tornou a capital do art déco. Como uma das capitais planejadas, o art déco foi escolhido para definir a fisionomia dos primeiros prédios daquela que viria a ser a primeira metrópole do Centro-Oeste. Em 2018, junto ao aniversário de Goiânia, completou-se 85 anos de sobrevivência deste movimento artístico.
Segundo o mestre Murillo de Medeiros, professor da Universidade Estadual de Goiás, art déco é um movimento artístico internacional que começou na Europa, em 1910, e teve seu apogeu nos anos 1920 e 1930, para, posteriormente, declinar entre os anos 1935 e 1939. Esse movimento dialogou diversos segmentos da sociedade, como as artes decorativas, a arquitetura, o design de interiores e desenho industrial, bem como as artes visuais, artes plásticas, a moda, a pintura, as artes gráficas e até mesmo o cinema. Originou-se, em Paris, com a grande mostra Exposition Universelle des Arts Décoratifs, em 1925.
Esta arte combina estilos modernistas com habilidade fina e materiais ricos. Durante o seu auge, representou luxo, glamour, exuberância e fé no progresso social e tecnológico. O art déco era uma obra de muitos estilos diferentes, às vezes contraditórios, unidos pelo desejo de ser moderno. Dentre as características do estilo, estão: as linhas circulares ou retas estilizadas; o uso de formas geométricas e um design abstrato.
Suas influências partem do construtivismo, futurismo e cubismo, onde as formas femininas e de animais são as mais trabalhadas. Alguns artistas importantes do art déco pelo mundo são: Ernst Ludwig Kirchner (pintor alemão), Fritz Bleyl (designer alemão), Paul Poiret (estilista e decorador francês), Sonia Delaunay (estilista francesa), René Lalique (escultor francês), William Van Alen (arquiteto norte-americano), Maurice Ascalon (designer industrial húngaro), Erich Heckel (pintor e ilustrador alemão), Walter Gropius (arquiteto alemão) e Joost Schmidt (designer gráfico alemão).
Brasil
Segundo Murillo, o estilo do art déco influenciou alguns artistas brasileiros do início do século 20. Dentre eles, o escultor ítalo-brasileiro Victor Brecheret (1894-1955), o artista plástico pernambucano Vicente do Rego Monteiro (1899-1970) e o artista plástico, escultor e designer de interiores suíço John Graz (1891-1980). “Todos eles estiveram na Europa no início dos anos 20, entrando em contato com as ideias e formas que culminariam na referida ‘exposição universal das artes decorativas’, em 1925”, explica.
No entanto o professor lembra que o grande criador da narrativa art déco no Brasil se atribui ao artista John Graz. “Temos várias obras do movimento no Brasil, por exemplo, sabia que até o Cristo Redentor no Rio de Janeiro é uma obra de art déco?”, questionou Murillo. Construções como o Elevador Lacerda em Salvador, o Teatro Carlos Gomes no Rio de Janeiro, a Biblioteca Municipal Félix Araújo, em Campina Grande, e o Estádio do Pacaembu, em São Paulo, também são representantes do estilo no Brasil.
Goiânia reúne o maior acervo art déco do Brasil. Attílio Corrêa Lima, urbanista responsável pelo projeto da Capital, havia concluído seus estudos, na França, quando, em 1935, fez o desenho da cidade. Construídos nas décadas de 1940 e 50, vários prédios e monumentos públicos no estilo art déco foram tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como patrimônio nacional por sua relevância histórica e arquitetônica, mas, infelizmente, muitos sofrem com o abandono e o descuido por parte do poder público, com a ação de vândalos e a falta de segurança.
“O projeto de Goiânia foi todo inspirado em Paris, isso fica claro quando comparamos o Arco do Triunfo com a praça Cívica”, explica Murillo. “Assim fica claro imaginar Goiânia como um reflexo da arquitetura Parisiense, e, por isso, art déco é forte na cidade”, finaliza.
*Integrantes do programa de estágio do jornal O HOJE
Confira sete construções do estilo Art Déco na Capital GOIANA
1. Coreto da Praça Cívica – Espaço de manifestações artísticas, culturais e políticas ao longo da história. Foi inaugurado oficialmente em 1942.
2. Edifício da antiga Chefatura de Polícia, atual Procuradoria Geral do Estado – Inaugurado em 1937, o prédio da antiga Chefatura de Polícia funciona atualmente como a Procuradoria Geral do Estado.
3. Antigo Departamento Estadual de Informação, atual Museu Zoroastro Artiaga – Primeiro museu de Goiânia, o Zoroastro Artiaga foi criado em 1946. Localizado na Praça Cívica, o prédio faz parte do acervo art déco da capital. Vale a visita para conhecer o grande acervo do museu e, claro, fotografar.
4. Edifício do Colégio Estadual Lyceu de Goiânia – Colégio mais antigo da Capital, com mais de 160 anos de fundação, o Lyceu de Goiânia também abriga hoje o Espaço Sonhus, funcionando como polo cultural da cidade. Infelizmente, o prédio sofre com más condições de conservação.
5. Teatro Goiânia – Mais tradicional espaço cultural de Goiânia, o Teatro Goiânia foi inaugurado em 12 de junho de 1942 e projetado pelo arquiteto Jorge Félix. Atualmente, recebe grandes shows, espetáculos e eventos culturais em sua estrutura, belíssima e bem-conservada por dentro e por fora.
6. Edifício da antiga Estação Ferroviária – Localizada na Praça do Trabalhador, no Setor Central da Capital, a Estação foi inaugurada em 1950, ainda sem funcionamento de trens. Foi apenas em 1952 que trens de carga circularam por lá, e a Estação funcionou até a década de 1980. Infelizmente, o prédio da Estação é um dos que mais sofrem com a falta de segurança e a ação de vândalos. Evite visitar o local durante a noite.
7. Mureta e Trampolim do Lago das Rosas – Mais antigo parque de Goiânia, o Lago das Rosas foi construído, na década de 1940, e abrigava um grande canteiro de rosas, que deu inspiração para o nome. Atualmente, abriga também o Zoológico de Goiânia.