Deputados criticam jogos de uma só torcida
Decisão da FGF não é vista pelo parlamentares como uma medida que beneficie o futebol
Venceslau Pimentel
A decisão da Federação Goiana de Futebol (FGF) de que os clássicos entre Goiás e Vila Nova no Campeonato Goiano deste ano só será permitida a entrada de uma torcida por partida, a do time mandante, tem posicionamento contrário de deputados estaduais.
Mais do que separar a duas maiores torcidas do Estado, os parlamentares apontam outras medidas mais eficazes para evitar a violência fora do gramado do Serra Dourada, como o cadastramento biométrico e punição severa aos brigões.
Além da FGF, a medida foi avalizada pelos dois clubes envolvidos na questão, no dia 25 de janeiro, pela Polícia Militar e a administração do estádio, como forma de evitar episódios de violência dentro e nas imediações do estádio. Sempre aos finais de partidas entre Goiás e Vila, são comuns brigas, depredações, vandalismos e, por algumas vezes, ferimentos ou mesmo mortes de torcedores.
Policia da reserva da PM, o deputado Major Araújo (PRP) se posiciona contra a medida, por considerá-la ilegal, na medida em que ninguém deve ser privado de comparecer a qualquer evento de que queira participar. “Se a pessoa entrar na Justiça, acredito que possa facilmente conseguir o direito de assistir à partida, mesmo torcendo para o time rival”, aposta.
Para ele, outras abordagens poderiam obter melhor resultado, como o cadastramento biométrico de torcedores e a punição dos que se envolverem em brigas e agressões. “Temos que separar antes para punir depois e usar a tecnologia a nosso favor”, pontuou.
Vale lembrar que na abertura do Goianão, no domingo passado, só tiveram acesso ao Serra Dourada torcedores do Vila. Mesmo, foram registradas confusões envolvendo membros da própria torcida vilanovense. A briga resultou em ação da PM e na detenção de 26 pessoas.
“Me diga do que adiantou a medida, se vimos no fim de semana uma só torcida brigando!”, questiona Álvaro Guimarães (PR). “Está mais do que provado que o problema está em algumas pessoas, que devem sim ser punidas, mas não nas torcidas em si”, defende. Ele não poupa críticas à FGF. “A proibição da entrada de uma torcida inteira não é nada inteligente e nada democrática: causa prejuízos para os clubes, para a Federação, para o estádio, para a imprensa, para o público… Enfim, para todo mundo.”
Cronista esportivo dos mais conhecidos em Goiás, com mais de quatro décadas de estrada, o deputado Mané de Oliveira (PSDB), também assume ser contra a torcida única, por acreditar que a medida não resolve o problema. “A festa ficou mais sem graça, a arrecadação foi prejudicada e as brigas no estádio não foram evitadas. Aconteceram dentro da própria torcida vilanovense. Vimos também brigas nos terminais de ônibus, onde elas geralmente ocorrem”, disse.
Para Mané, a questão não se resolverá com medidas paliativas, porque seu cerne estaria no uso de drogas. “A briga não é só no estádio. Acontece na rua o tempo todo por causa da droga. A violência entre torcidas só vai acabar quando a droga acabar.”
O parlamentar acredita que nem a punição dos torcedores flagrados cometendo crimes adiantará, porque a polícia prende mas solta no mesmo dia. “A violência ligada ao futebol, assim como as demais, tem seu sustento também nessa impunidade.”
A deputada Delegada Adriana Accorsi (PT), que preside a Comissão de Segurança Pública da Assembleia Legislativa, é favorável à torcida única nos clássicos goianos. “Apesar de dura, a medida é um mal necessário em razão do grau de violência, ao ponto em que a situação chegou. O futebol perde um pouco do seu brilho, mas a tentativa de diminuir os crimes relacionados às torcidas organizadas é mais importante”, declarou.
Na Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente, onde atuou por cerca de dez anos, a parlamentar diz ter investigado várias ocorrências graves envolvendo membros de torcidas organizadas, incluindo homicídios.