Cidade deveria se adequar ao transporte, diz diretor
Especialista explica que planejamento das centralidade contribui para mobilidade urbana
Karla Araujo
O diretor de transportes da Rede Metropolitana de Transporte Coletivo (RMTC), Miguel Angelo Pricinote, explica que as linhas de ônibus em Goiânia foram planejadas pela Companhia Metropolitana de Transporte Coletivo (CMTC) em 2000 e executado pela rede. Segundo ele, não existe déficit de linhas ou problemas como o local até onde elas chegam e sim dificuldade quanto ao tempo de viagem. O ônibus chega aos locais considerados necessários pela CMTC, mas não estão em todos os horários que cada indivíduo precisa.
“O transporte é coletivo e, por isso, atende a necessidade da maioria. Hoje não é possível colocar mais ônibus porque o preço da passagem é calculado pela divisão do custo pela quantidade de passageiros. Se aumentar a quantidade de carros, o preço da tarifa aumenta mais”, explica. Sobre a pesquisa, Pricinote também acredita que, em vez de ser usado para a melhor apropriação do espaço urbano, o transporte público é usado hoje para “apagar incêndios”.
De acordo com o diretor, isso acontece por causa de um processo histórico, em que o transporte local nunca foi visto como o da Região Metropolitana de Goiânia, mas apenas da Capital. “É uma visão errada, as cidades vizinhas também são atendidas. Mas é fato que precisamos colocar em prática um planejamento mais proativo em relação ao transporte público, do que reativo. Mas é um processo lento de transformação de toda a cidade”, conclui Pricinote.
Pesquisa
Diante da dificuldade do transporte público metropolitano, a Universidade Federal de Goiás (UFG), por meio da Faculdade de Artes Visuais (FAV), realizou pesquisa para identificar a distribuição das atividades e a relação com o sistema de transporte urbano na Capital. O levantamento apontou que as principais centralidades são o próprio Centro tradicional da cidade, Campinas e a Praça Universitária.
A coordenadora da pesquisa e professora da UFG, Érika Kneib, explica que, além das atividades concentradas na parte centro e sul da cidade, também é possível observar algumas outras concentrações pontuais ao norte e a sudeste da cidade. Érika afirma que essas centralidades deveriam ser planejadas com atividades diversas para que as pessoas possam trabalhar, morar e estudar próximo de suas casas.
A professora lembra que esse planejamento pode contribuir para evitar os longos deslocamentos diários bairro-centro e vice-versa, hoje observados na maioria das grandes cidades. “Essa concentração de atividades gera uma grande atração de pessoas e merece um grande cuidado no âmbito do planejamento dos grandes aglomerados urbanos”, afrima Érika.
De acordo com a especialista, numa centralidade planejada e conectada, é possível, por exemplo, realizar os pequenos deslocamentos a pé; e os médios deslocamentos por bicicleta e transporte público. “Os longos deslocamentos, entre centralidades distintas, podem ser realizados por transporte público ou individual motorizado, contribuindo para que se estabeleça uma rede de mobilidade, com diversos modos complementares, que contribui para racionalizar o uso do automóvel”, explica a professora.
Oposto
Como vive fora da teoria, Sirlei Rodrigues Costa, 33, passa por transtornos todos os dias para sair do Jardim Maria Inês e ir trabalhar no Setor Sul, também considerado pela pesquisa como um local de intensa atividade. Apesar da distância ser de apenas 7 km, pegar ônibus da linha 006 (Terminal Veiga Jardim-Centro), ir para o Terminal do Cruzeiro e lá esperar pela linha 211, pode demorar até mais que uma hora. “O 211 demora meia hora para passar e está sempre cheio. Para pegar o 006 no fim da tarde é difícil, porque ele já vem cheio do Centro e muitas vezes não para no ponto”, lamenta Sirlei.
A situação José Geraldo Felipe da Silva, 42, é ainda mais complicada. Ele mora no Setor Grajaú e trabalha no Setor Sul. Para fazer o trajeto para casa ele precisa pegar três ônibus e o último (alimentador do Terminal Veiga Jardim), demora cerca de 40 minutos. Sobre essas circunstâncias, Erika Kneibe explica que, em Goiânia, as atividades acontecem e o transporte coletivo, por não possuir os investimentos e infraestrutura necessários, precisa posteriormente se adequar a elas. “Tudo acontece ao contrário do que deveria ser”, afirma a professora.