Conteúdos da educação brasileira são revistos
Sociedade pode participar opinando no processo que vai estabelecer Base Nacional Comum Curricular
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Deivid Souza
Apontar aquilo que qualquer estudante em todo território brasileiro precisa aprender, desde a educação infantil até o final do ensino médio. Esse é o objetivo da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que é construída pelo Ministério da Educação (MEC) com a colaboração de especialistas, professores e sociedade civil. A Constituição Federal de 1988 já fazia referência à BNCC, e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), de 1996, também mencionava a necessidade de estipular os conteúdos mais importantes para o ensino no Brasil.
Um vídeo, disponível na página do MEC, reúne as informações sobre o assunto e esclarece que a Base irá evitar a pergunta “clássica” dos alunos: “Por que eu preciso aprender esse conteúdo?”, que muitas vezes os professores têm que responder. No entanto, sua importância não se restringe apenas a este fator, ela é uma ferramenta importante, dizem os especialistas ouvidos por O HOJE, para que a educação do Brasil tenha condição de se atualizar e se aproximar das demandas sociais. Países desenvolvidos fazem revisões periódicas nas suas Bases.
Todo esse processo começou em 2015 com a elaboração de um texto preliminar da BNC que envolveu 116 especialistas de todo o País. Na fase atual, a sociedade civil tem até esta terça-feira (15), para opinar no processo pelo site da BNCC (www.basenacionalcomum.mec.gov.br). Até o momento, foram feitas 11 milhões de contribuições para a BNCC e a unidade da federação que mais colaborou foi Goiás (Veja quadro com o passo a passo). O superintendente de Ensino Médio da Secretaria de Educação, Cultura e Esporte (Seduce), Wisney João, acredita que a discussão vai possibilitar um “salto” na educação. Ele lembra que atualmente, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) acabou interferindo no que as escolas ensinam por causa da exigência dos alunos em se prepararem para a prova.
Embora passe a existir uma base de conteúdos de cada componente curricular (Matemática, Língua Portuguesa, Filosofia etc), isso não significará a implantação de um currículo homogêneo, ou seja, Estados, Municípios e gestores educacionais terão abertura para trabalhar alguns conhecimentos que não estejam na BNCC e sejam importantes para o contexto regional.
Cautela
A doutora em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e coordenadora do Curso de Letras do Instituto Federal de Goiás (IFG) Campus Goiânia, Micheline Madureira Lage, é uma das 116 especialistas que participam do processo. Ela afirmou ao O HOJE que estão sendo feitas verificações nos aspectos linguísticos para que a gramática possa ser ensinada de uma maneira que contribua para o desenvolvimento das competências de leitura e escrita. “Esse tópico é revisado com bastante cuidado, para que também não haja retrocesso na área, para que a gramática apareça de maneira reflexiva, de forma contextualizada”, explica.
O mais importante é aprender a aprender
Os grandes conhecedores de pedagogia reconhecem que este é um processo importante e que não tem o objetivo de contemplar todas as demandas da sociedade. Essa é a opinião da professora de pós-graduação de Formação de Professores em Didática e Gestão Educacional do Instituto de Pós-Graduação e Graduação (IPOG), Carmen Silvia Neves, ela avalia que as mudanças devem caminhar para a formação de pessoas com um bom capital intelectual e também humano, com um bom desenvolvimento da cidadania. “O mais importante é desenvolver a competência de aprendizagem, o aluno aprende por toda a vida, ele precisa aprender a aprender”, ensina.
Opinião
O empresário, Reilly Rangel, 50, avalia que as mudanças são necessárias. Na visão dele o País está atrasado no desenvolvimento de algumas competências como o raciocínio lógico e ensino de programação. “Em países desenvolvidos crianças têm contato com programação desde cedo e são estimuladas a desenvolverem o raciocínio lógico, acredito que este ensino deveria ser reforçado”, frisa.
(Foto: Reprodução)