O Hoje, O melhor conteúdo online e impresso - Skip to main content

quarta-feira, 28 de agosto de 2024
Mundo

Argentina abre caminho para negociar com fundos abutres

Duas leis que impedem governo de concluir a renegociação da dívida externa, em moratória desde 2001, começaram a ser debatidas pelo Congresso do País

Postado em 16 de março de 2016 por Sheyla Sousa
Argentina abre caminho para negociar com fundos abutres
Duas leis que impedem governo de concluir a renegociação da dívida externa

O Congresso argentino começou a debater, ontem, a revogação de duas leis que hoje impedem o governo de concluir a renegociação da dívida externa, em moratória desde 2001. “Para a Argentina, sair do calote significa ter acesso ao mercado financeiro internacional depois de quinze anos e voltar a emitir títulos da divida a juros mais baixos”, disse o economista Gaston Rossi. Mas, para muitos argentinos, isso quer dizer que o país vai se endividar novamente e ficar à mercê das políticas econômicas ditadas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).

Enquanto o governo costurava alianças no Congresso, onde a oposição é maioria, um grupo de artistas divulgava um vídeo, exibindo cartazes com a frase: “Não voltemos ao Fundo”. Mal começou a superar a crise de 2001, graças, em parte, à alta nos preços das commodities,  a Argentina pagou o que devia ao FMI e renegociou a dívida com o Clube de Paris e com 93% dos credores, que aceitaram descontos de mais de 60%.

Um dos argumentos do governo argentino, para convencer a maioria dos credores a aceitar os termos da renegociação, foi a garantia de que não haveria outra proposta melhor no futuro. Duas leis impedem a Argentina de fazer uma oferta mais favorável à minoria que não aderiu as propostas de reestruturação, feitas em 2005 e 2010.

A situação mudou com a vitória, na Justiça norte-americana dos chamados “fundos abutres” – aqueles que aproveitaram o calote para comprar títulos da divida argentina a preços baratos e recorreram aos tribunais dos Estados Unidos para cobrar o valor nominal e os juros, sem desconto. O governo da presidenta Cristina Kirchner (que concluiu seu segundo mandato em dezembro de 2015) argumentou que não podia cumprir a sentença sem violar a legislação nacional e iniciou uma campanha internacional, para limitar o poder de fundos especuladores nas negociações de dividas soberanas.

Em resposta, o juiz Thomas Griesa de Nova York proibiu os bancos norte-americanos de executarem o pagamento da dívida reestruturada argentina, até que o país cumprisse a sua sentença favorável aos “abutres”. Isso levou a Argentina a entrar, em 2014, em “default técnico”: o país pode e quer pagar aos credores que renegociaram a dívida, mas foi impedido por uma ordem judicial.

“A única saída é cumprir a sentença de Griesa”, disse o economista Guillermo Nielsen. A Argentina, afirmou Nielsen, emitiu papéis da dívida, que estão sujeitos à legislação norte-americana, e fez isso para que tivessem maior credibilidade e atraíssem mais investidores. “Os abutres recorreram à Justiça norte-americana e ganharam. A Argentina apelou e perdeu. Não há outra alternativa”.

Credores externos

A negociação, segundo Rossi, é complicada, porque nem todos os credores compraram os mesmos papéis – alguns credores, que estão reclamando o pagamento da divida, são europeus. “Cada caso é um caso e tem juros e multas diferentes”, resultou. A oposição quer que o governo garanta que, ao revogar as leis, o país possa fechar um acordo definitivo com todos os credores – e que ninguém possa recorrer à Justiça, no futuro, para reclamar mais. (Agência Brasil)

 

Veja também