Relatórios do governo afirmam que “pílula do câncer” não tem eficácia
Resultado deve dificultar aprovação no Senado do projeto de lei que libera a substância
A fosfoetanolamina, principal componente da “pílula do câncer”,
não age contra o tumor, tampouco destrói as células cancerosas. Essa é a
conclusão dos cinco primeiros relatórios de pesquisas realizadas pelo
Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). No total, a pasta vai
investir, em três anos, R$ 10 milhões para se debruçar sobre o tema.
“Testamos dois tipos de células tumorais e três métodos
diferentes. E se comprovou que o composto não tem efeito, nem mesmo em
concentrações milhares de vezes maiores do que as usadas
clinicamente”, disse a pesquisadora do Instituto de Química da
Universidade de São Paulo (USP), Alicia Kowaltowski, em entrevista ao UOL.
Dos vários compostos encontrados nas cápsulas, apenas a
monoetanolamina apresentou resultados de destruição das células cancerosas de
carcinomas de pâncreas. Mas, mesmo assim, com eficácia menor que a da
quimioterapia comum. “Entretanto, a monoetanolamina já foi apontada como tóxica
quando ingerida em grande escala em estudos anteriores”, concluiu Kowaltowski.
A médica da Aliança Oncologia, Gabrielle Scattolin, endossa
as críticas em relação à efetividade da “pílula do câncer”.
“Por enquanto, a cápsula pode ser considerada apenas um
remédio experimental, quase uma curadoria, sem nenhuma comprovação de eficácia.
Até hoje não existe remédio que sirva para o tratamento de todos os tipos
de câncer e é pouco provável que isso possa acontecer”,
esclareceu.
Pressão
Mesmo com as previsões pessimistas dos estudos, pacientes
com câncer e familiares fazem forte campanha para a liberação da substância.
Várias cidades brasileiras registraram passeatas que chamaram a atenção do poder
público. Em março deste ano, a Câmara dos Deputados aprovou projeto de lei que
garante a distribuição da pílula, mas frisou que voltaria atrás se estudos não
comprovassem a eficácia.
No Facebook, grupos que somam mais de 10 mil usuários organizam
protestos e trocam informações com os melhores atalhos para se conseguir o
medicamento. Na página virtual, muitos advogados fazem propaganda com os
sucessos obtidos na justiça para conseguir a medicação.
Até o final de 2015, foram movidos 13 mil processos contra a
USP, instituição que produz a medicação, por pacientes que exigem o
fornecimento da substância. (Assessoria)