O Hoje, O melhor conteúdo online e impresso - Skip to main content

domingo, 1 de setembro de 2024
Politica

Pacote anticorrupção será votado ainda em 2016

Lei anticorrupção foi proposta por organizações da sociedade civil que indica 10 medidas contra atos ilícitos na administração

Postado em 23 de julho de 2016 por Sheyla Sousa

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ) afirmou nessa semana que pretende colocar em votação o pacote de medidas anticorrupção até dezembro. “Vamos trabalhar para isso. O importante é terminar o ano com essa matéria aprovada”, disse Maia. Fruto de pressão e construção de organizações da sociedade civil, o projeto incorpora as chamadas 10 Medidas contra a Corrupção.

Maia se reuniu com representantes de juízes, procuradores, Tribunal de Contas da União (TCU), organizações não governamentais e o relator do projeto na Comissão Especial, deputado Onix Lorenzoni (DEM-RS), para discutir o tema.

Escolhido esta semana para relatar a matéria, Lorenzoni disse que entregará no dia 2 de agosto um cronograma para a tramitação do projeto na Comissão Especial. Segundo ele, a intenção é que o texto seja votado no plenário até o dia 9 de dezembro, Dia Nacional de Combate á Corrupção.

“Queremos, até lá, estar com a matéria votada na Câmara. A orientação foi dada pelo presidente Maia, que disse que quer chegar nesse dia com projetos importantes derivados desse trabalho na Câmara aprovados”, disse  Lorenzoni. No último dia 13, o então presidente interino da Casa, Waldir Maranhão (PP-MA) instalou a comissão que vai analisar o projeto.

De acordo com Onix Lorenzoni, a comissão precisará de cerca de 60 dias para decidir a melhor maneira de encaminhar as proposições. Segundo ele, a intenção é ancorar as medidas em projetos que tratem da transparência dos atos públicos, mecanismos de controle eficientes e a punição para quem praticar esses atos: “A sociedade brasileira tem um clamor: além das questões econômicas que afetam o Brasil, nós temos a questão do combate à corrupção, que é o desejo de todo o país ver enfrentada e reduzido esse processo no nosso país, dando os instrumentos necessários à investigação e execução”.

Indagado se o processo também poderia resultar em mudanças na legislação para enfraquecer mecanismos como a delação premiada e os acordos de leniência, instrumentos utilizados nas investigações da operação Lava Jato, Lorenzoni negou que o projeto vá “retroagir”. Segundo ele, o Brasil avançou muito com esses instrumentos, nós podemos melhorá-los, jamais retroagir”.

Elaboradas pelo Ministério Público, as medidas foram assinadas por mais de dois milhões de pessoas e apresentadas ao Congresso Nacional por representantes da sociedade civil em 29 de março deste ano.

O projeto prevê medidas como prisão de até oito anos para o funcionário público que tiver patrimônio incompatível com a renda; o aumento de penas para corrupção e o enquadramento como crime hediondo no caso de altos valores; reforma no sistema de prescrição penal; responsabilização de partidos políticos e criminalização do caixa dois em campanhas eleitorais.

Para o presidente da Associação de Juízes Federais (Ajufe), Roberto Carvalho Veloso, é importante que os deputados também analisem outros pontos: “Para combater a impunidade, é preciso extinguir o foro privilegiado e permitir o cumprimento da pena após a condenação em segundo grau. Hoje, temos uma decisão do Supremo Tribunal Federal que permite essa condenação e esperamos que o próprio Congresso Nacional decida uma legislação permitindo esse cumprimento da pena com o julgamento em segundo grau de jurisdição

 Críticas ao presidente do Senado

Após a reunião, os integrantes do Ministério Público Federal e da Justiça Federal fizeram críticas à tentativa do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), de tentar colocar em votação, na semana passada, o projeto que aumenta a pena para crime de abuso de autoridade (PLS 280/2016).

O presidente da Associação Nacional de Procuradores da República, José Robalinho Cavalcanti, disse que a “pressa” de Calheiros causou estranheza: “É uma matéria extremamente delicada, uma matéria penal que mexe com os órgãos do Estado e o que causou estranheza, em primeiro lugar, foi a tentativa de votar isso em uma semana. Não fazia sentido”.

Segundo o procurador, o projeto tem qualidades, mas tem muitos defeitos. Entre eles o que prevê punições para promotores responsáveis por processos considerados sem base: “Ele pune o responsável por abrir um processo que seja considerado sem base e não tem nada mais natural do que um membro do Ministério Público, por exemplo, num processo criminal, tenha o entendimento de que alguém deve ser processado e, depois de ouvir as argumentações de defesa, o juiz conclua que ali não tem base para representação”.

Outro dispositivo prevê punição para os magistrados que tiverem suas decisões revogadas pela corte. Para Robalinho, “não se pode punir juiz e procurador por ter um entendimento. Isso não é abuso de autoridade”. “Defendemos que o projeto de abuso de autoridade deve voltar a tramitar normalmente e que sejam ouvidas as instituições da justiça, da segurança pública e a sociedade civil”, disse o procurador.

O presidente da Ajufe, Roberto Carvalho Veloso, disse que além de punir magistrados, o projeto também tem um dispositivo que dificultaria a realização de delações premiadas, atingindo o “coração” do mecanismo: “O dispositivo diz que ninguém poderá sofrer prisão para prestar depoimento. Então, ninguém mais que esteja preso poderá fazer delação premiada, porque a delação será nula. Por isso, somos contra, porque vai ferir de morte, não só a operação Lava Jato, mas todas as operações em curso no país”.

Veloso também comentou o bloqueio do aplicativo de mensagens instantâneas WhatsApp pela Justiça do Rio de Janeiro na tarde de hoje, revogado pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski.

Segundo o presidente da Ajufe é preciso equilíbrio nas decisões da justiça e no acesso de dados por parte dos responsáveis pelos aplicativos: “É preciso que haja um equilíbrio, que o provedor do aplicativo forneça as informações à Justiça, mas também que as decisões judiciais se adequem a isso, para não prejudicar a maioria dos usuários”. (ABr)  

Veja também