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terça-feira, 26 de novembro de 2024
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Crise Carcerária

Familiares de presos aguardam notícias em frente à cadeia de Manaus

A chuva forte não impediu que mães e mulheres de presos se mantivessem em frente a cadeia, à espera de notícias

Postado em 12 de janeiro de 2017 por Renato
Familiares de presos aguardam notícias em frente à cadeia de Manaus
A chuva forte não impediu que mães e mulheres de presos se mantivessem em frente a cadeia

A tarde desta quarta-feira (11) em Manaus foi de chuva
forte, o que não impediu que um grupo de mães e mulheres de presos na Cadeia
Pública Desembargador Raimundo Vidal Pessoa, no centro de Manaus, se mantivesse
em frente ao local à espera de notícias. O grupo, formado por sete mulheres,
está há quase duas semanas em uma espécie de vigília.

“A gente não está conseguindo visitá-los. Eles [funcionários
da cadeia] só falam que está tudo bem. Se estivesse tudo bem, não tinha entrado
ambulância aí, não tinha preso ferido”, diz uma delas. Com medo de represálias,
elas pedem para não ser identificadas. Relatam a entrada de homens do Batalhão
de Choque e de um batalhão com cães. “A notícia que eles dão para todas é ‘está
bem’. E por que entra cachorro aí dentro?”, disse dona Augusta*.

As mulheres se instalaram do outro lado da rua, em frente à
cadeia. Se revezam nas poucas cadeiras de plástico disponíveis na calçada para
descansar. Vez ou outra, atravessam a rua e gritam por notícias, agarradas à
grade do local. Lá dentro, na porta da cadeia, policiais militares apenas
observam o movimento. Maria Tereza* é outra que espera notícias. Agitada, anda
de um lado para outro, grita em direção à cadeia pedindo informações.

Com telefones celulares nas mãos, são alimentadas de informações
por grupos de WhatsApp de outros parentes de presos. Cada mensagem é recebida
com indignação. Um dos grupos foi batizado de “As Guerreiras”. São informadas
de que seus parentes, apesar de receberem roupas que as famílias entregam,
estão apenas de cuecas lá dentro. Então, Maria Tereza vai até o portão da
cadeia pública e grita: “onde estão as roupas que trouxemos para eles?”

A rotina, que está perto de chegar a duas semanas, deixa
dona Augusta angustiada e cansada. Enquanto conversava com a reportagem, tinha
crises de choro. Se recompunha e minutos depois, chorava novamente,
principalmente quando falava do filho, preso por porte de drogas. “Meu filho é
viciado, ele é. Mas eu sei que meu filho vai sair daí vivo, eu sei! E meu filho
nunca mais vai fazer besteira”, diz, em uma nova crise de choro. “Eu já tô
revoltada, cansada. Eu não aguento mais isso não”.

Ela conta que desde a rebelião no Complexo
Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), nos dias 1º e 2 de janeiro, não vai para
casa. “Meu marido já ligou e disse que nem me quer mais, porque ‘não tem mais
mulher’. Eu sei que aqui fora a gente não faz nada, mas só de estar aqui sinto
que estou salvando meu filho”.

Na espera por notícias, as mães e esposas se ajudam. São
senhoras e jovens grávidas, esperando pelos pais dos seus filhos. Compartilham
comida e carinho. “A gente não sabe mais o que é dormir. Quando uma vai para
casa, as outras ficam aqui. Às vezes, a gente tem pena umas das outras e fala
‘vai, mana, vai para casa tomar um banho’. Tem que estar aqui direto”, diz
Maria Tereza, sob os olhares de aprovação de outra mãe, Nilza*, uma senhora de
cabelos brancos e olhar cansado.

O filho de Nilza está preso há um ano e dois meses. Já
existe um alvará de soltura, mas o recesso do Judiciário, segundo ela, atrasa a
libertação do rapaz. “A gente chega de manhã e não tem hora para sair. Na
última terça-feira [10], eu saí daqui quase à meia-noite. É muito difícil a gente,
como mãe, passar por isso”.

Em frente à cadeia, outro grupo reza. Com bíblias, parentes
e amigos de presos cantam louvores e estendem as mãos em direção à porta do
local. Algumas choram, enquanto cantam pedindo proteção aos detentos, na
torcida para que não haja mais mortes, a exemplo do que ocorreu no início da
semana, quando quatro presos morreram.

“Liberdade!”

Minutos após a conversa com o grupo de mulheres, uma
movimentação discreta chama a atenção delas. Um preso é libertado e muitas
comemoram, com grito de “liberdade!”. Outra abraça o rapaz, que estampa um
sorriso tímido e, ao mesmo tempo, aliviado. Acompanhado por um funcionário da
cadeia, ele deixa o local rapidamente.

Em seguida, outro é liberado. Entra em um carro do governo
do estado do Amazonas e, acompanhado pela mãe, também ganha liberdade. Logo, os
ânimos cessam. As pessoas que rezavam em frente à cadeia vão embora, mas dona
Augusta, Maria Tereza, Nilza e as outras continuam lá, vigilantes e
angustiadas.

Suspensão de visitas

A Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap)
informou, em nota, que as visitas aos presos estão suspensas por período
indeterminado. A justificativa é a segurança deles e dos familiares.

“[…] está temporariamente suspensa a entrega de alimentos
e materiais em todas as unidades prisionais e a visita de familiares aos
internos durante o fim da semana. A medida visa a garantir a segurança e a
integridade física dos familiares, funcionários e internos do sistema
prisional”, diz a secretaria.

O órgão também confirma que os alimentos entregues por
parentes não estão sendo repassados aos presos, mas não explicou o motivo. “A
Seap reforça que as refeições diárias dentro das unidades prisionais permanecem
como programadas, e que os internos não estão recebendo apenas os alimentos
trazidos pelos familiares. A Seap esclarece que assim que a situação no sistema
for estabilizada, os procedimentos voltados para os familiares serão
retomados”.

Foto: Nathalie Brasil (Agência Lusa/EPA) 

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