Após depoimento a Moro, Cardozo diz que caixa dois é prática histórica no país
Ex-ministro disse ainda que prática não está necessariamente associada ao ato de corrupção ou lavagem de dinheiro
Após depoimento perante o juiz Sérgio Moro, que durou cerca
de 20 minutos, o ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo disse que a
prática de caixa 2 em campanhas eleitorais “é histórica e recorrente, fruto de
um sistema político anacrônico”, e acrescentou que a prática não está necessariamente
associada a ato de corrupção ou lavagem de dinheiro.
Também foi ouvido hoje, por videoconferência, no Fórum
Criminal de São Paulo, o empresário Emílio Odebrecht, dono do grupo Odebrecht e
pai do ex-presidente do grupo Marcelo Odebrecht – condenado a 19 anos e quatro
meses de prisão por participação no esquema investigado pela Operação Lava
Jato. Trata-se do primeiro depoimento do empresário ao juiz Sérgio Moro.
Ao deixar o fórum, José Eduardo Cardozo disse que, apesar de
ilegal, a prática de caixa 2 “nem sempre agasalha a corrupção”. O ex-ministro
disse que a empresa doa o dinheir,o e o beneficiário processa como caixa 2
muitas vezes sem saber a origem dos recursos.
Ele relatou ter respondido a perguntas do advogado de defesa
de Palocci e também feito esclarecimentos solicitados pelo juiz Moro. Mas se
eximiu de dar detalhes sobre o teor das indagações, lembrando que o processo
corre sob sigilo e que, caso quebrasse essa exigência, poderia correr o risco
de entrar no fórum como testemunha e sair como réu.
Questionado se tinha conhecimento de ilegalidades na
campanha de 2014, o ex-ministro afirmou que, apesar de não ter participado,
pode testemunhar que a ex-presidente Dilma Rouseff tinha uma postura rígida
contra o recebimento de dinheiro ilegal.
Palocci
O advogado José Roberto Batochio, que defende o ex-ministro
da Fazenda e da Casa Civil Antonio Palocci, saiu satisfeito da audiência. “Nada
se provou que incriminasse o Palocci”, disse o advogado, apesar de citar que um
ou dois depoentes teriam declarado já ter ouvido “dizer que era o Palocci, o
italiano”. Italiano é o codinome que consta de uma planilha de propinas da
empreiteira.
Entre os depoimentos que considerou favoráveis a seu
cliente, Batochio destacou o do empresário Emílio Odebrecht: “ele foi muito
claro em dizer que jamais ouviu dizer que o italiano fosse o Palocci”.
Palocci foi preso em setembro do ano passado, durante a 35ª
fase da Operação Lava Jato, a Omertá. Para Batochio, a prisão é “arbitrária e
abusiva”. Ele afirma que “não tem sentido manter preso um homem enquanto se
apura se ele é, ou não é, culpado por alguma coisa e quando a instrução do
processo pelas testemunhas mostra que ele não participou de nenhuma
irregularidade”, afirmou Batochio.
Foto: Reprodução (R7)