Chuva em Goiânia é sinal de perigo
Bueiros entupidos e um grande fluxo de água dificultam o dia a dia da população
Toni Nascimento
As águas de março estão fechando o verão, já cantava Elis Regina e Tom Jobim em outros tempos, o que não ficava explícito na poesia musical é o caos em que as grandes cidades são convertidas depois de uma pancada de chuva. Um dos principais problemas da capital goiana depois de uma queda d’água são as enchentes e os alagamentos.
A jornalista Cristal Ávila, 20 anos, ficou presa com seu carro em uma das últimas chuvas que despencou em Goiânia. Em meio a Avenida T-5, no setor Bueno, ela ficou paralisada em meio a um congestionamento de carros que não conseguiam seguir o trajeto devido ao forte escoamento de água. Além disso, o fluxo era tão forte que deixou os pneus envoltos em lixo.
“Ali na T-5, pertinho do Vaca Brava, os bueiros dá rua estavam todos entupidos, meu carro engavetado, amassado e o que tinha de lixo e galho preso nos pneus nem se fala. Diga-se de passagem, é uma área que sempre tem muitos problemas quando chove”, afirmou.
O arquiteto e urbanista Paulo Renato identifica duas forças geradoras para o problema: poder público e população. Falta um planejamento para repensar a infraestrutura e colocar em execução. Ele conta que é necessário mapear a cidade e rever a captação de água, além de uma coleta de lixo mais eficiente.
População
Apesar da deficiência na gestão pública, a culpa dela é só de 20%, já que para Paulo 80% da responsabilidade está nas mãos da população. Existem dois motivos principais para essa informação, o lixo jogado na rua e a impermeabilização do solo.
Paulo explica que existem três maneiras dá água da chuva se dissipar, por evaporação, que não é eficiente na cidade, por escoamento e pela absolvição do lençol freático. As duas últimas maneiras são prejudicadas se o lixo jogado no chão impede a eficiência da absolvição e do escoamento.
Segundo dados da Secretaria Municipal de Infraestrutura, de janeiro a setembro de 2016 foram retiradas mais de 3 mil toneladas de entulho de mais de 28.540 bocas de lobo da capital, o que dá uma média mensal de 305 toneladas de resíduos recolhidos.
Esse mau hábito da população condenado pelo especialista, persiste apesar de já existir leis que permitem multar quem joga lixo e entulhos, dos mais variados, nos lotes, córregos e bueiros. “Numa cidade com mais 1,5 milhão de pessoas que resolvem jogar lixo na rua, não há força-tarefa ou poder público que resolva”, crítica.
Paulo Renato lembra que os efeitos aparecem principalmente no período chuvoso, quando o lixo que vai parar nas bocas de lobo impede o escoamento da chuva e a água acumulada invade ruas, calçadas e muitas vezes residências. Ele explica ainda que a forte pressão provocada pelo acúmulo de água nas galerias pluviais entupidas com lixo causa grandes prejuízos.
“Dependendo do temporal, o asfalto de ruas e avenidas pode ceder e enormes crateras surgir. Isso gera um prejuízo duplo para o cidadão, primeiro com o transtorno de ter, de uma hora para outra, a rua da sua casa engolida por um buraco, depois tem o prejuízo do imposto que se pagou, já que a prefeitura vai ter refazer a galeria e o asfalto”, frisa.
Impermeabilização dos terrenos precisa ser avaliada
A impermeabilização do solo nada mais é que a capacidade do solo de absorver a água, e segundo o especialista grande parte da população na hora de construir sua casa não passa pelos estágios necessários na hora do planejamento e por fim toda a água da casa escoa para a rua, o que no período chuvoso impede o escoamento das águas pluviais, gerando enchentes, alagamentos, transtornos no trânsito e estragos no asfalto.
Um simples ato é capaz de mudar a realidade da capital goiana: a conscientização. Se a população parar e pensar antes de cada momento em que for jogar o lixo no chão, por menor que ele seja já vai fazer a sua parte para não entupir os bueiros e permitindo assim que o escoamento da água funcione plenamente.