Odebrecht pagou R$ 7,3 milhões em propina por reforma do Maracanã
Foram pagos só ao ex-governador do Rio de Janeiro aproximadamente R$ 6,3 milhões em propina relacionada às obras do Maracanã
Executivos
da empreiteira Odebrecht afirmaram, em delação premiada, que a empresa pagou
cerca de R$ 7,3 milhões em propina para fraudar a licitação para as obras de
reforma do estádio do Maracanã. e acordo com os delatores, o montante,
destinado ao ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral, a secretários e a
membros do Tribunal de Contas do estado (TCE-RJ), poderia ter sido ainda maior
se os acordos tivessem sido cumpridos, o que não ocorreu devido à deflagração
da Operação Lava Jato.
Segundo
Benedicto Barbosa da Silva Junior, responsável pelo Setor de Operações
Estruturadas da empresa, o departamento da propina, foram pagos ao
ex-governador do Rio de Janeiro, que está preso desde novembro, aproximadamente
R$ 6,3 milhões em propina relacionada às obras do Maracanã.
Já
os diretores da Odebrecht Marcos Vidigal do Amaral, Leandro Andrade Azevedo e
João Borba disseram, nos depoimentos, que R$ 1 milhão foram repassados para o
então presidente do TCE-RJ, Jonas Lopes. O valor, pago para que o tribunal
aprovasse o edital de licitação da obra, deveria ter sido de R$ 4 milhões, que
corresponde a 1% do valor inicial do projeto. No entanto, com início da
Operação Lava Jato, o repasse, dividido em quatro parcelas, foi interrompido e
somente uma “prestação” foi “devidamente” paga.
“Fizemos
o primeiro pagamento de R$ 1 milhão na data de 17 de março de 2014. O outro
seria no final de 2014, quando começou a Operação Lava Jato, e não fizemos mais
os pagamentos”, disse Leandro Azevedo ao Ministério Público Federal. Azevedo
explicou que, apesar da Lava Jato, o então presidente do TCE fluminense
pressionou para que o restante da propina fosse paga.
“No
final do ano [2014], fui convocado pelo presidente do tribunal, e ele me cobrou
a continuidade do pagamento. Fiquei sem graça, estávamos no meio da Lava Jato.
Delicadamente, pedi a ele que lesse a capa do jornal O Globo que estava sobre a
mesa [que informava sobre a prisão de empreiteiros]. Ele ficou super sem graça,
virou-se para mim e disse que entendia a situação, mas que estava sendo muito pressionado
pelos outros conselheiros”, disse.
Marcos
Amaral informou que, para que o consórcio formado inicialmente pelas
empreiteiras Odebrecht e Andrade Gutierrez vencesse a licitação, apresentou ao
então secretário de Obras de Sérgio Cabral, Hudson Braga, exigências a serem
colocadas no edital de modo que o certame fosse direcionado, evitando a
concorrência. Ainda de acordo com o executivo, por determinação de Cabral, a
construtora Delta também deveria integrar o consórcio, mesmo não tendo
qualificação técnica para a obra.
“Era
uma questão política. O Sérgio Cabral havia solicitado a entrada da Delta com a
participação de 30%. A Odebrecht [que tinha participação de 70%] ficou com 49%
e a Andrade Gutierrez [que tinha 30%] ficou com 21%”, acrescentou Amaral.
Ele
disse também que, antes da publicação do edital, apresentou algumas exigências
“no papel” para o secretário Hudson Braga. “Ele se comprometeu a
dar prosseguimento ao assunto e, de fato, isso ocorreu e tivemos a certeza
disso na publicação do edital. Depois do edital publicado, fui chamado ao
escritório do secretário Wilson Carlos, e ele falou que havia feito um acerto
[com representantes do TCE] e que deveríamos pagar uma propina de 1% do valor
do contrato.”
Segundo
Leonardo Azevedo, o pagamento foi feito no escritório do filho do ex-presidente
do TCU, Jonas Lopes Neto. “Ele [Jonas Lopes Neto] me passou o endereço do
escritório deles, não tinha como contabilizar isso [o valor integral da
propina] porque era uma concessão. Então, usei o codinome ‘Casa de Doido’, que
já existia para diversos pagamentos que não fossem contabilizados”, contou o
executivo.
Inicialmente,
o contrato inicial para reforma do Maracanã para a Copa do Mundo de 2014 era de
R$ 705 milhões. Ao final, a obra custou aos cofres públicos mais de R$ 1,2
bilhão.
Ainda
conforme depoimento dos executivos da Odebrecht, o ex-governador Sérgio Cabral
e seu grupo político também receberam vantagens indevidas pelas obras da Linha
4 do Metrô, do Arco Metropolitano e do Programa de Aceleração do Crescimento
(PAC) das Favelas.
Procurado
pela Agência Brasil, o advogado de Cabral, Luciano Saldanha, informou que a
defesa só vai se manifestar nos autos do processo. A defesa de Jonas Lopes não
foi encontrada pela reportagem. Os advogados dos ex-secretários também não
foram encontrados para se manifestar sobre as delações.
(Agência
Brasil)