Após briga, relatório da reforma trabalhista é dado como lido na CAE do Senado
Presidente da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), Tasso Jereissati, desistiu de retomar reunião prevista para leitura do relatório
Após intenso bate-boca e muito nervosismo, o presidente da
Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, Tasso Jereissati (PSDB-CE),
desistiu de retomar a reunião em que estava prevista a leitura do relatório
sobre o projeto de lei da reforma trabalhista. Jereissati deu como lido o
relatório e marcou a votação da reforma na comissão para a próxima terça-feira
(30).
Antes, contudo, Jereissati tentou reabrir a reunião da
comissão para a leitura do relatório após 50 minutos de interrupção, mas foi
impedido pelos senadores de oposição. Exaltados, os senadores que se posicionavam
contra a reforma puxaram os microfones do presidente – um dos aparelhos chegou
a ficar avariado – e colocaram as mãos sobre a mesa, impedindo a continuidade
dos trabalhos. Depois de muito bate-boca, Jereissati desistiu de reabrir a
reunião, e os governistas seguiram para o plenário, onde discursaram
queixando-se do impedimento ao presidente da Casa, Eunício Oliveira (PMDB-CE).
Mais cedo, a CAE realizou audiência pública para debater a
reforma. Depois da audiência, quando o relatório começaria a ser lido, o
senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) apresentou questão de ordem pedindo o
adiamento da leitura. O requerimento foi posto em votação e vencido por 13
votos a 11.
Em seguida, a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM)
apresentou nova questão de ordem solicitando que a matéria retornasse à Mesa do
Senado para ser apensada a outras de assunto semelhante. A questão foi
rejeitada pela presidência da comissão, e os oposicionistas levantaram-se e
ficaram de pé, em frente à mesa diretora, inciando o bate-boca e anunciando que
a reunião não teria continuidade.
“O governo não tem condição de colocar a reforma trabalhista
nesta Casa. Eu faço um apelo ao senador Ricardo Ferraço. Isto é uma manobra,
estão usando a CAE para dizer que o Temer tem força”, disse Lindbergh Farias
(PT-RJ). Ferraço (PSDB-ES) é o relator da reforma trabalhista na comissão.
Com a continuidade do tumulto, Jereissati suspendeu a
reunião, mas a tensão prosseguiu no ambiente. Senadores da base aliada e de
oposição gritavam e erguiam os dedos uns contra os outros. Manifestantes que
acompanhavam a reunião gritavam palavras de ordem dentro do plenário da CAE, e
a segurança começou a esvaziar a audiência, inclusive com a retirada da
imprensa.
Queixa de agressões
Após a desistência de retomada dos trabalhos, os senadores
da base aliada se queixaram de que houve tentativa de agressão por parte dos
oposicionistas, que não aceitaram a derrota pelo voto. “Não podendo ganhar no
voto, senadores e senadoras quiseram ganhar no braço, no grito”, disse o
senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB). “Aqui só existe uma arma: a palavra. O que
se viu foi a tentativa de impedir o funcionamento físico, por agressões
físicas, por agressões verbais.”
Também no plenário, Tasso Jereissati fez ao presidente
Eunício Oliveira um relato do que houve e disse que se sentiu fisicamente ameaçado
e injuriado tanto por senadores quanto pelos manifestantes que estavam dentro
da comissão.
“Não lamento por mim, lamento por esta Casa. E chamo Vossa
Excelência [Eunício Oliveira] à responsabilidade, porque isso não pode
acontecer, porque acaba-se não só o que eles querem acabar, que é o governo – o
que é outra questão –, mas acaba-se o Senado; acaba-se o Parlamento; acaba-se o
contraditório; acabam-se as discussões; acabam-se, inclusive, as votações, e os
vencidos não aceitam o resultado”, afirmou.
Em resposta, o senador Humberto Costa (PT-PE) alegou que
houve agressões de parte a parte e pediu uma reunião de lideranças para superar
os problemas ocorridos na CAE. “Esta aqui é uma Casa, por excelência, política,
e acho que tudo que aconteceu hoje, e posso falar aqui com autoridade, porque
eu era um dos que estavam tentando serenar os ânimos, apesar de ter levado um
empurrão de um senador da base do governo, que ficou apoplético lá. Então,
houve agressões, de parte a parte, acho que este não é um bom caminho. Temos
que superar este episódio”, afirmou.
Também em discurso, a senadora Gleise Hofffmann (PT-RS)
disse que a oposição não vai aceitar a decisão de dar o relatório como lido.
“Nós vamos resistir, para não ler o relatório, até porque o senador que está
apresentando o relatório [Ricardo Ferraço] tinha dito no seu Facebook que não
apresentaria o relatório, porque estávamos vivendo tempos anormais, de crise,
com o que aconteceu com o presidente da República [Michel Temer] e também com
um senador [Aécio Neves (PSDB-MG), que foi afastado] desta Casa. Aí, depois
muda de ideia, e vão para cima na força, para fazer a leitura de um relatório”,
alegou. (Agência Brasil)