Cresce preferência por cesarianas
De acordo com dados da OMS, o Brasil realiza três vezes mais cesarianas do que o recomendado pela organização
Gabriel Araújo*
De acordo com levantamento divulgado pela Secretaria de Saúde do Estado de Goiás (SES/GO), o Estado constatou que 69,13% dos partos realizados em 2017 foram a partir de cesarianas. A taxa de 2013 foi de 66,76%. De acordo com o Ministério da Saúde, foram realizados 2,7 milhões de partos no país no ano passado.
Em Goiás os índices ainda estão altos, mas já se percebe uma pequena queda. O Estado realizou 78.566 partos durante o ano de 2014, sendo 55.865 cesarianas, o que equivale a 71% do total. O índice é quase 5% maior do que o registrado no ano anterior.
O Brasil é o segundo país com maior percentual de partos realizados por cesariana no mundo, ficando apenas atrás da República Dominicana. Estudo da Organização Mundial de Saúde (OMS) em 2016 constatou que 55,6% dos partos realizados no Brasil eram cesarianas, o que equivale a três vezes o recomendado.
Os índices são ainda mais preocupantes em procedimentos realizados na medicina privada, 85,5% dos partos realizados em hospitais particulares são por cesárea, enquanto a OMS indica para o Brasil uma taxa ideal entre 25% e 30%. O Poder Público busca diminuir essas altas taxas, principalmente em razão de procedimentos desnecessários que elevam os riscos para a saúde das mães e bebês.
Segundo a Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia, a cesariana só deve ser feita em casos de necessidade de saúde, quando existe a indicação médica. “As cesarianas podem provocar complicações como a incapacidades ou morte, particularmente quando não há instalações adequadas para os procedimentos cirúrgicos de forma segura ou para tratar possíveis complicações”, lembrou a Organização Mundial de Saúde.
Para a dona de casa Raylane Oliveira Nunes, de 18 anos, o parto normal foi sempre a primeira opção. Ela, que é mãe da pequena Aisla, teve os dois primeiros filhos através do parto normal. “O médico já falou nas primeiras consultas que era melhor. Acho que é mais rápido e tem um tempo de recuperação menor, menos dor também”, afirmou.
Parto Humanizado
O parto humanizado é um conjunto de práticas e procedimentos que buscam readequar o processo de parto dentro de uma perspectiva menos hospitalar, entendendo tanto a mulher quanto o bebê numa visão que é mais humana e acolhedora.
Este tipo de operação parte da não utilização de alguns procedimentos de rotina usados nos hospitais que são vistos como desnecessários, como indução do parto, corte do períneo e o uso de anestesia. Essas ações só são utilizadas apenas quando a gestante dá seu consentimento, como recomenda o Conselho Federal de Medicina (CFM).
De acordo com a professora de enfermagem do Instituto Health, Alinne Almeida de Sá, a humanização parte do profissional que buscar tornar o parto mais humano. “Quando trabalhamos dessa forma, tornamos o parto mais agradável para a mulher por ser um momento único para a paciente”, afirmou.
A professora ainda lembra as diferenças entre esta filosofia de trabalho e os procedimentos usuais. “O parto convencional limita o posicionamento da mulher, não permite que ela vá ao banheiro ou se alimente. Eram aplicados soros que induzem contrações e ao parto. Hoje temos ambientes que deixam o trabalho de parto mais fisiológico possível, com movimentação, banhos e alimentação”, completa.
Segundo a SMS, Goiânia possui dois hospitais municipais que são referência em atendimento humanizado para grávidas e recém-nascidos, o Hospital e Maternidade Dona Iris (HMDI) e Maternidade Nascer Cidadão (MNC). Para o órgão, esse tipo de referência é importante para que as mães saibam que têm opções seguras, de confiança e gratuitas para o seu parto, já que são maternidades do Sistema Único Saúde. Somente de 2008 a 2012, segundo dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e do Ministério da Saúde, 96.223 mulheres que tinham plano de saúde optaram por ter os seus filhos no SUS.
Novas Diretrizes
Com o objetivo de diminuir o número de cesarianas desnecessárias no país, o Ministério da Saúde determinou, em 2016, novas diretrizes para a realização deste tipo de procedimento. O Protocolo Clínico de Diretrizes Terapêuticas (PCDT) para Cesariana busca informar a população sobre os riscos desta operação, como aumento da probabilidade de surgimento de problemas respiratórios para o recém-nascido e grande risco de morte materna e infantil.
Para a então Coordenadora-Geral de Saúde da Mulher do Ministério da Saúde, Maria Esther Vilela, as diretrizes buscam melhorar a conduta médica e garantir um procedimento mais seguro, tanto para as mães e bebês. “A melhoria da qualidade na atenção obstétrica passa, essencialmente, pela mudança no atendimento à mulher durante o parto. Com isso, espera-se a diminuição no quantitativo de cesarianas desnecessárias, do adoecimento e mortes evitáveis a partir da adoção de boas práticas na atenção ao parto e nascimento. É importante reforçar que a cesariana é uma conquista científica que, quando indicada corretamente, pode salvar vidas, mas ela não deve ser feita indiscriminadamente”, afirmou.
De acordo com o Ministério, o protocolo foi elaborado com base em evidências científicas nacionais e internacionais. Diferentes estudos realizados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) – braço da Organização das Nações Unidas (ONU) – e outros organismos nacionais e internacionais demonstram as vantagens de uma assistência ao parto que se efetive sem intervenções desnecessárias.
Ações
O Ministério da Saúde afirmou, em nota ao jornal O Hoje, que trabalha criando ações para tentar reduzir as cesarianas e aumentar o quantitativo de partos normais no país desde 2011. O órgão lembra que já foram implantadas projetos estratégicos como a Rede Cegonha, que busca qualificar profissionais para a atenção obstétrica e neonatal. “Atualmente a Rede Cegonha conta com cerca de 1.600 maternidades (públicas ou conveniadas) que atendem ao SUS. Além disso, existem no país 23 Centros de Parto Normal e 17 Casas da Gestante, Bebê e Puérpera, com investimentos para melhoria da Ambiência das maternidades para adequação do local de parto humanizado (RDC 36/2008)”, completou.
Em 2018, o Ministério criou um sistema de monitoramento online para acompanhar a quantidade de partos cesáreas nos serviços do Sistema Único de Saúde (SUS). De acordo com o informado pela assessoria de imprensa do órgão, a medida busca realizar uma análise detalhada dos partos realizados no país para que ações estratégicas possam ser tomadas. “Gestores e usuárias do SUS poderão acompanhar o monitoramento pelo site da Secretaria de Vigilância em Saúde, a partir do dia 19 de março”, afirmou.
O Governo Federal ainda informou que o projeto Parto Adequado, da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), conseguiu evitar que 10 mil cesarianas fossem realizadas desnecessariamente em 35 hospitais nos últimos três anos. Entre os hospitais que participaram do piloto estão o Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, e o Sophia Feldman, em Minas Gerais, e Agamenon Magalhães, na Paraíba.
Anticoncepcionais
O Ministério da Saúde ainda colocou em prática uma ação que busca diminuir os índices de gravidez no país, facilitando o acesso a métodos anticoncepcionais, como o DIU, que é o método anticoncepcional mais usado no mundo. Este método tem longa duração, em média 10 anos e baixo custo, sendo tão seguro quanto a pílula e é prático.
A iniciativa do Ministério da Saúde pretende reafirmar o direito da mulher engravidar apenas quando ela quiser, já que 55% das gestações não são planejadas e só 32% das mulheres usam anticoncepcional.
Foram distribuídos mais 700 mil DIUs de cobre para todos os estados do país nos últimos dois anos, o que equivale a um investimento de R$ 14,5 milhões. Mulheres jovens e adolescentes, mulheres que não tiveram filhos ou lactantes podem utilizar o DIU de cobre.
O Governo Federal ainda lembra que o DIU é um método reversível, que pode ser retirado a qualquer momento se a mulher desejar ou se apresentar algum problema. A fertilidade retorna logo após a sua remoção.
Segundo um estudo produzido pelo Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais da Organização das Nações Unidas (ONU), nascem 833 milhões de pessoas por ano no mundo. (Gabriel Araújo é estagiário do jornal O Hoje sob orientação do editor de Cidades Rhudy Crysthian).