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segunda-feira, 25 de novembro de 2024
Estudo

Pesquisadores revelam a importância do trabalhador do campo

No Dia Mundial do Trabalhador a UEG destaca a relevância do trabalho dos homens e mulheres do campo

Postado em 1 de maio de 2018 por Márcio Souza
Pesquisadores revelam a importância do trabalhador do campo
No Dia Mundial do Trabalhador a UEG destaca a relevância do trabalho dos homens e mulheres do campo

As mãos calejadas e áspera, a pele queimada de sol, a vida
suada na lida dura e diária, o vínculo com a terra. Algumas dessas
características ou todas elas podem ser usadas quando nos referimos ao homem e
à mulher do campo. Mas, quem são esses sujeitos, cujo trabalho continua sendo
tão pouco reconhecido?

De acordo com Paula Junqueira da Silva Rezende, professora
do Câmpus Iporá e membro do Grupo de Estudo e Pesquisa do Espaço Rural da
Universidade Estadual de Goiás (GEPER|UEG), existem várias categorias de
trabalhadores do campo.

“Temos o trabalhador assalariado, permanente ou temporário;
temos o trabalhador da agricultura camponesa mais tradicional, em que o homem,
a mulher e os filhos mantêm vivência e uma produção no campo e a renda é da
propriedade; temos a agricultura familiar mais capitalizada, em que o produto
vai para o mercado, mas quem gere a produção, controla e põe à venda não é um
administrador, é o homem e a mulher juntos. E ainda há os trabalhadores do
campo provenientes de assentamentos rurais”, explica.

Para a pesquisadora, os trabalhadores do campo hoje são a
manifestação e resistência da territorialidade camponesa e também da
(re)existência, que é o existir dessa cultura de forma diferente. Isso
significa que o processo de expansão do agronegócio, por exemplo, promoveu a
readaptação e ressignificação das práticas sociais, dos modos de vida e dos
vínculos desses trabalhadores com o lugar.

Árdua Rotina

O trabalho no campo requer muito esforço físico, é uma
labuta pesada, rústica e contínua. O professor Edevaldo Aparecido Souza,
Coordenador do Curso de

Geografia do Câmpus Quirinópolis explica que a rotina do
trabalho do pequeno produtor rural segue a organização do espaço, do serviço na
roça, dos afazeres domésticos, do trato dos animais e dos cuidados com o
terreiro.

Segundo ele, quando as tarefas são apenas em sua
propriedade, “é possível que o trabalhador tenha certa autonomia com relação à
organização do tempo e aos outros serviços que podem esperar ou reacumular”. No
entanto, no caso do trabalhador assalariado essa autonomia é reduzida, pois
existe o compromisso com tarefas diárias e horários a cumprir.

A professora Divina Aparecida Leonel, do Programa de
Pós-Graduação em Territórios e Expressões Culturais no Cerrado (TECCER|UEG)
destaca que no campo o período do não trabalho não quer dizer ociosidade, o dia
de folga ou feriado não ocorre na mesma lógica que na cidade.

“O não trabalho do sujeito na lavoura, por exemplo,
significa que ele está cuidando das suas criações, da sua casa ou do seu pomar,
é uma lida constante. No setor leiteiro, por exemplo que é a atividade
produtiva mais importante na agricultura familiar no Brasil, o trabalho é
diário. Tanto é que quando o homem ou a mulher fica doente, quem os socorre são
os vizinhos da sua comunidade rural”, analisa Divina Aparecida.

Mulheres Rurais

Na organização do trabalho no campo as mulheres realizam
tarefas em conjuntos com os maridos e filhos, fazem o serviço doméstico e, não
raras vezes, assumem sozinhas algumas atividades, mas, ainda assim sua figura é
invisibilizada.

Para a professora Divina Aparecida isso é apenas um reflexo
da sociedade patriarcal e machista em que vivemos e que no campo se reproduz o
mesmo que acontece na cidade.

E não é apenas o trabalho das mulheres rurais que não é
reconhecido, os problemas que as angustiam também são invisíveis para a cidade,
por exemplo: a saída dos filhos do ambiente rural, o avanço de drogas nos
assentamentos e comunidades rurais, a violência doméstica, o aumento do
alcoolismo, a gravidez das adolescentes rurais.

Mas, independente disso, a pesquisadora lembra que há vários
exemplos, inclusive em Goiás, em que é o grupo feminino, principalmente de
assentadas rurais, que conduz as atividades econômicas e produtivas. “São elas
que organizam associações, cooperativas, a questão da alimentação. A gente
percebe isso também em comunidades quilombolas”, aponta Divina.

As mulheres estão assumindo um cenário de protagonismo no
campo.

“A gente percebeu isso lá no Encontro das Mulheres Rurais da
Agro Centro-Oeste de 2017. Vimos a preocupação, o cuidado que as mulheres têm
com a comunidades delas. Elas vêm como representantes dos seus grupos, trazem
as demandas e se comprometem a repassar as informações e levar todas as
melhorias”, comenta a professora e assessora de Programas e Projetos da
Pró-Reitoria de Extensão, Cultura e Assuntos Estudantis (PrE), Paula Chagas.
Ela, juntamente com a professora Divina Aparecida, organizaram o II Encontro
das Mulheres Rurais da Feira da Agro Centro-Oeste do ano passado.

Ainda de acordo com Paula Chagas, mulheres do campo tem se
estabelecido independente dos homens assim como as mulheres da cidade.
“Inclusive mais organizadas. Elas têm o que a gente ainda não conseguiu atingir
na cidade: o senso de comunidade. Precisamos aprender sobre coletividade com a
mulherada do campo, é incrível!”, salienta.

O Encontro das Mulheres Rurais de 2018 ocorrerá no dia 9 de
maio e será organizado pela Centro Vocacional Tecnológico APinajé – Jovens e
Mulheres e pela Universidade Federal de Goiás (UFG). 

O valor do trabalho rural

A constante ênfase no trabalhador da cidade acaba ofuscando
a importância do trabalho das pessoas do campo. Segundo o último Censo
Agropecuário, realizado em 2006, a agricultura familiar representa mais de 80%
dos estabelecimentos agropecuários do Brasil. Além disso, ela é a grande
responsável pela maioria dos alimentos consumidos no país, cerca de 70%.

“Esses sujeitos contribuem em escala local e/ou regional com
a produção alimentar, muitas delas de forma mais saudável, sem uso abusivo de
agrotóxicos, e disponibiliza para comercialização em cadeias curtas para a
população urbana”, enfatiza o professor Edevaldo.

E no processo de reconhecimento dos trabalhadores do campo,
a universidade desempenha um papel substancial, como a explica a professora
Paula Junqueira: “Quando a gente traz a universidade para o interior e investe
na formação do material humano, intelectual, tecnológico, produtivo, voltadas
para as características locais, para a valorização do trabalhador rural, não só
fixamos esse sujeito no campo, como também minimizamos os impactos ambientais e
contribuímos para uma melhor dinâmica social e econômica”.

Ainda se faz necessário que o Estado repense a importância
da cultura e do trabalho do campo, criando e fortalecendo políticas públicas
que garantam melhores condições de vida para que os homens e mulheres rurais,
continuem a viver e trabalhar na terra.

A Universidade no campo

O Câmpus de São Luis de Montes de Belo desenvolve dois
importantes projetos de extensão com pequenos produtores da região.

Conforme o professor Klayto José Gonçalves, coordenador do
Mestrado em Desenvolvimento Rural Sustentável, um deles é um projeto de
extensão rural desenvolvido com o apoio da Emater. Nele os pequenos produtores
rurais recebem assistência técnica para trabalhar com bovinocultura de leite. O
projeto também engloba a gestão da propriedade rural.

Além disso, por meio do Centro de Biotecnologia em
Reprodução Animal (Biotec), a Universidade realiza um projeto de transferência
de tecnologia para o produtor rural. “O laboratório leva ao produtor que não
tem condições financeiras a inseminação artificial e a transferência de
embriões para melhoria do rebanho leiteiro”, explica.

“Estou entusiasmado. Eu nunca tinha visto um ultrassom do
útero da vaca, isso foi muito interessante pra mim”, conta seu Jorcelino
Ferreira Filho. Ele é proprietário de uma chácara de um alqueire e meio e
participa do projeto de transferência de embriões da UEG há 4 meses.

Nascido e criado na roça, seu Jorcelino encara os avanços da
tecnologia com grande expectativa: “Eu acredito que vai melhorar. O professor
explicou que o embrião que foi colocado na minha novilha, quando virar vaca vai
dar 30 litros de leite numa tirada. As vacas que eu tenho hoje dão sete ou oito
litros de leite, uma ou outra que dá 12. Para mim vai ser uma mudança de
história”.

 

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