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quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025
Educação

Indígena pede ajuda para conseguir terminar doutorado

Ercivaldo Damsõkekwa Calixto Xerente se formou em Ciências da Cultura pela UFG em 2013 e tem mestrado em Direitos Humanos pela mesma instituição

Postado em 12 de maio de 2018 por Sheyla Sousa
Indígena pede ajuda para conseguir terminar doutorado
Ercivaldo Damsõkekwa Calixto Xerente se formou em Ciências da Cultura pela UFG em 2013 e tem mestrado em Direitos Humanos pela mesma instituição

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Gabriel Araújo*

O estudante Ercivaldo Damsõkekwa Calixto Xerente é o primeiro indígena a entrar em um programa de doutorado no Estado de Goiás. Ele, que se tornou mestre em 2016 pela Universidade Federal de Goiás (UFG) está cursando o doutorado em Antropologia Social na mesma instituição, com o projeto de pesquisa intitulado “Em que medida os processos próprios de aprendizagem e organização social do povo Akwē estão relacionados à educação escolar”.

De acordo com ele, analisar os processos de ensino é fundamental para o entendimento completo de uma sociedade. “É muito relevante, pois os povos indígenas sempre foram vistos como seres exóticos e marginais. A partir do momento em que eu ingresso em uma pós-graduação em um doutorado, eu tenho a convicção que coisas melhores para a educação virão”, disse.

Na visão do pesquisador, a participação dentro da universidade prova que as populações indígenas são capazes de, não só participar da sociedade, mas torná-la melhor. “No contexto das mudanças radicais para pessoas que não consideram os indígenas capazes é fundamental. Eu quero mostrar a capacidade que nós temos, apesar das particularidades do modo de ser Xerente nós temos nossos desejos de crescer profissionalmente e no meio científico”, contou.

Apesar disso, Damsõkekwa afirmou que está passando por dificuldades para concluir o atual curso. Segundo ele, não foram liberados recursos para bolsistas de pesquisa de doutorados na UFG e o auxílio do Estado só deve começar no segundo semestre deste ano. 

Para resolver o problema, o pesquisador iniciou uma “vaquinha” online para conseguir arcar com aluguel, alimentação e materiais necessários para acompanhar o curso e continuar a luta por mais direitos. Até o momento de fechamento desta edição, foi arrecadado apenas 18,86% do objetivo, que é pouco mais de R$ 10 mil. As doações podem ser feitas pelo site www.vakinha.com.br e são essenciais para a conclusão do curso.

Cotas

O Ministério da Educação (MEC) informou que os processos de seleção para ingresso de indígenas nas universidades variam de acordo com as instituições. Segundo o órgão, grande parte das instituições adotaram metodologias de entrada específicas, como a indicação dos candidatos sendo feita pelas comunidades e suas organizações indígenas, provas específicas e entrevistas ou apresentação de memoriais referentes à cultura da comunidade.

Em relação ao âmbito nacional, a principal forma de acesso é por meio da nota obtida no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e por meio do sistema de Seleção Unificada (Sisu), para instituições públicas, e do Programa Universidade para Todos (Prouni), com bolsas para instituições privadas.

Conforme informado pelo MEC, a Lei de Cotas reserva um percentual de vagas para indígenas nas universidades públicas. O sistema passou a ganhar visibilidade a partir dos anos 2000, quando universidades e órgãos públicos começaram a adotar a medida em vestibulares e concursos. Nestes casos a pessoa precisa assinar um termo autodeclarando sua raça e, às vezes, passar por uma entrevista. 

A principal discussão no momento se dá na forma como esta entrevista funciona, já que a lei define que o próprio candidato se proclame como pertencendo a cada raça. O número varia de acordo com o índice populacional dos indígenas apresentado no último Censo do IBGE para aqueles candidatos que estudaram em escolas públicas e que se autodeclararam indígenas.

O MEC explica ainda que entre as ações tomadas para garantir o espaço dos indígenas nas universidades foi o investimento em melhorias na Educação Básica das escolas indígenas.

Segundo o órgão, o governo federal investiu na Licenciatura Intercultural, voltada para a formação de professores indígenas que atuam nos anos finais do Ensino Fundamental e no Ensino Médio das escolas indígenas. Só em 2017, foram mais de 2,7 mil educadores atendidos pelo programa em 16 instituições de 14 estados brasileiros. 

*Gabriel Araújo é estagiário do jornal O Hoje sob orientação do editor de Cidades Rhudy Crysthian.

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