Clima pior que no deserto na grande Goiânia
Índices de umidade apresentados nesta semana são comparados aos desertos mais secos do planeta
Gabriel Araújo*
O clima de deserto deve permanecer em Goiânia pelos próximos sete dias. De acordo com informações do Clima Tempo a umidade deve ficar abaixo dos 30%, pelo menos, até o próximo domingo (18). Em termos de comparação, Goiânia registrou ontem umidade de 15% enquanto na cidade argeliana de Aoulef, localizada no meio do Deserto do Saara, a umidade chegou a 26%.
A umidade relativa do ar deve ficar entre 16 e 23% nesta semana, hoje sendo o menor índice previsto. A partir da próxima terça-feira (21) a umidade deve voltar a subir, chegando a 38%.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) o nível de umidade ideal é de 60%. Os níveis em que a saúde humana é colocada em risco são divididos em três categorias, a primeira diz respeito a dias em que a umidade vai de 30% a 20% e é considerado um estado de atenção, onde a população deve evitar exercícios físicos ente 11 e 15h, e evitar locais desprotegidos do sol.
No estado de alerta, que vai de 12% à 20% é recomendado usar soro fisiológico nos olhos e no nariz. A categoria mais baixa parte de 12% para baixo sendo o estado de emergência, em casos como este as aulas de educação física, a coleta de lixo, entregas dos correios são suspensas.
O Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) publicou ainda um alerta laranja, onde informa que a umidade relativa do ar deve chegar a níveis críticos, com índices entre 20 e 12% em grande parte de Goiás.
Saúde
A baixa umidade do ar, somada ao alto grau de variação da temperatura ambiente e ao grande número de queimadas neste período do ano, é um dos grandes causadores de distúrbios respiratórios no estado.
De acordo com o médico infectologista do Hospital de Doenças Tropicais (HDT) Boaventura Braz de Queiroz, a queda na umidade do ar é responsável por problemas respiratórios devido a necessidade do corpo humano em receber o ar 100% saturado. “O fato do clima está muito seco pode causar transtornos no padrão de hidratação das pessoas. O processo de desidratação do clima seco leva a uma irritação muito acentuada das vias respiratórias altas e isso contribui para infecções por vírus e bactérias. Esse quadro de desidratação é muito perigoso em crianças e idosos”, conta.
Outra questão que pode ser responsável por problemas respiratórios é a qualidade do ar, que vem decaindo devido à grande quantidade de incêndios. Somente no estado, já foram registrados mais de dois mil casos de incêndios florestais. Conforme informado pelo Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Goiás, o quantitativo de focos este ano já é mais de 15% superior que o registrado no mesmo período do ano passado. Em junho de 2017, o Instituto Nacional de Pesquisas Especiais (Inpe) registrou 442 focos de incêndios, o que ainda é o maior índice já registrado no mês na história, desde 1998.
Além do tempo seco, um problema já recorrente nessa época do ano, o goiano ainda enfrenta a grande mudança de temperatura. Na última quarta-feira a temperatura passou de 16 para 31º C, uma mudança de 15 graus na temperatura ambiente da Capital, o que pode causar prejuízos à saúde. “O organismo prefere que haja uma estabilidade da temperatura, então essa mudança pode trazer transtornos e facilitar processos infecciosos e quadros de desidratação”, completa.
O infectologista ainda finaliza afirmando que a melhor forma de se preparar tanto para as grandes variações de temperatura quanto o clima seco de Goiás é a ingestão de grande quantidade de líquidos. “A grande preocupação nesse clima é com a hidratação, se existe o consumo de água o organismo termina melhor preparado e o líquido que é perdido é reposto”, conclui.
Dentre as principais doenças que afetam a população neste período do ano em razão do tempo seco estão a rinite alérgica, que é uma reação responsável por coceiras, olhos lacrimejantes e espirros. Outra doença que fica mais evidente com a baixa umidade é a asma, que fazem o indivíduo sofrer com o ressecamento da mucosa dos bronquíolos, canais responsáveis pela passagem do ar, que se contraem e dificultam a entrada de ar. Com o tempo seco, a quantidade de bactérias também aumenta, gerando gripes, resfriados e faringite, que é uma inflamação na faringe.
Pouca chuva faz diminuir volume de água do Meia Ponte
O Rio Meia Ponte, sistema responsável pelo abastecimento de 52% da população da Grande Goiânia, está com uma vazão de 3.850 litros por segundo antes da capitação que abastece a capital e região. Dados da Saneago informam que, após a retirada de 2.300 litros por segundo, a profundidade da água chega a apenas 144 centímetros.
Pesquisas realizadas pela Universidade Federal de Goiás (UFG) constatam que a utilização indevida do solo é um dos principais motivos para a dificuldade de recuperação do Rio. Desmatamento da mata ciliar, área de floresta localizada no entorno dos cursos d’água, capitação indevida e manejo do solo para a agricultura interferem na capacidade de captação de água pelo solo, o que diminui os níveis nos lençóis de abastecimento subterrâneo.
Segundo a Saneago, os clientes residenciais são os maiores consumidores de água tratada no Estado, representando 87,27% do volume de água faturado pela Companhia. Os clientes comerciais representam 5,79% e os clientes públicos (órgãos da administração pública federal, estadual ou municipal, templos religiosos e entidades declaradas de utilidade pública) são 4,55% do total. As indústrias são responsáveis pelo consumo de apenas 1,32%.
O volume de chuvas em todo o estado vem diminuindo desde 2015, quando choveu cerca de 8 mil e 500 milímetros, e já é 10% menor que o registrado nos sete primeiros meses de 2017. De acordo com dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) o último grande pico de chuvas foi em 2004, quando choveu mais de 12 mil milímetros.
Com o baixo volume de chuvas e, os problemas de absorção de água que as alterações humanas apresentaram, as bacias hidrográficas perdem qualidade. Conforme estudo realizado pela Universidade Federal de Goiás (UFG), cerca de 85% das bacias hidrográficas de Goiás estão com qualidade ruim ou péssima. Pesquisa realizada para apresentação de tese de doutorado da professora Karla Cruvinel analisou 126 bacias em 122 municípios de Goiás e constatou que as bacias localizadas na região Oeste e Sul do estado são as que apresentaram a maior incidência de péssima qualidade.
De acordo com a pesquisadora, o objetivo de analisar as bacias foi entender o estágio de qualidade hidrográfica no estado. “Conclusivamente, pode-se dizer que a grande parcela das bacias estudadas estão enquadradas em condição péssima, o que fica evidente a degradação devido ao processo de ocupação dessas áreas e a ausência de planejamento”, escreveu. (Gabriel Araújo é estagiário do jornal O Hoje sob orientação do editor de Cidades Rhudy Crysthian).