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segunda-feira, 25 de novembro de 2024
Entrevista: Zacarias Calil

“O Estado sozinho não consegue gerir a Saúde”

O cirurgião pediatra Zacarias Calil foi eleito deputado federal pelo Democratas com 151 mil votos para a próxima legislatura

Postado em 1 de novembro de 2018 por Sheyla Sousa
“O Estado sozinho não consegue gerir a Saúde”
O cirurgião pediatra Zacarias Calil foi eleito deputado federal pelo Democratas com 151 mil votos para a próxima legislatura

Lucas de Godoi

Rubens Salomão*

O cirurgião pediatra Zacarias Calil foi eleito deputado federal pelo Democratas com 151 mil votos para a próxima legislatura. O médico estreia na política com a defesa da Saúde e reformulação do modelo existente em Goiás. Zacarias defende a gestão das Organizações Socais nos hospitais estaduais pela agilidade na compra de materiais e insumos para o uso cotidiano de um hospital, mas defende uma carreira de Estado para os profissionais da área, já que eles se submetem à contratação via Pessoa Jurídica. 

Como o senhor chegou nessa votação de 151 mil votos?

Foi muito gratificante. É um trabalho que tenho realizado em Goiânia como médico, com cirurgias complexas e sempre tem a mídia em cima. Isso chamou muita a atenção da população, tanto é que nas nossas caminhadas pelas feiras e bairros foi muito forte. E muito. Uma mídia longa foi em cima dos casos de siameses nos anos 2000, já são quase 20 anos.  Quando as pessoas me viam e me cumprimentavam nas ruas, elas ficavam emocionadas e falavam que iam votar em mim pelo que eu já fiz e o que representa para eles tratando as crianças no serviço público com muita atenção. 

Como avalia a parceria do Estado e dos municípios na prevenção de doenças para evitar que elas se agravem?

Primeiro nós temos que fortalecer as ações básicas da Saúde, como a medicina familiar com médicos que atuam sempre naquela região. Se um paciente tiver um pico de pressão terá que vir para Goiânia? São coisas que podem acontecer se levar recursos para as ações serem efetivas. O grande gargalo do Brasil inteiro é a Saúde.

Essas promessas devem demorar um pouco para serem implementadas? 

Nenhum governador que foi eleito vai conseguir fazer isso de imediato. Eles vão ter que fazer um trabalho técnico para ver como esses recursos vão chegar e ser distribuídos de uma forma geral. É igual uma enchente: ela enche e depois deságua para gente ver o que sobrou e o que causou aquela enchente. 

O senhor defende o modelo de gestão por Organizações Sociais nos hospitais ou o Estado sozinho consegue fazer essa gerência? 

O Estado por si só não consegue. Sou um exemplo clássico disso, trabalho na área da Saúde como servidor e vejo a administração das Organizações Sociais atualmente e como era antes sem elas. Por exemplo, você vai fazer uma cirurgia de separação de gêmeos siameses e solicita o material necessário para o procedimento. Tem que aguardar licitação, abrir processo, arrumar empresa, algumas não queriam participar porque o Estado não tem documentação, uma série de coisas. 

O senhor fez uma crítica ao modelo trabalhista. Como observa as reformas que serão pautadas, como a da Previdência?

Não tem proposta ainda. Estive em Brasília essa semana conversando com parlamentares e não tem nada definido ainda. Mas eu sou aposentado pelo Governo do Distrito Federal. É um assunto polêmico e ainda não me posicionei como devo votar. Tem gente que aposenta com 48 anos e a média de vida do brasileiro é de 70 anos. Não tem país que aguente isso. 

Existe uma possibilidade do Congresso votar a reforma da Previdência ainda este ano. Não é uma manobra do presidente eleito para livrar o próprio governo? 

Talvez seja para evitar um desgaste do futuro governo. Mas vai ter que chamar os partidos e os congressistas para conversar, não sei se é negociável ou não. É um assunto que tem que ser bem trabalhado para a população não sair prejudicada. Hoje é comum uma pessoa de 60 ou 65 anos casar com outra pessoa de 30 anos e depois a aposentadoria passa para a pessoa mais nova e vira uma pensão. Vai chegar um ponto em que o Brasil não vai conseguir pagar mais. 

O que o senhor espera de Jair Bolsonaro como presidente da República?

Eu espero que ele acabe com a corrupção, que também foi uma bandeira da minha campanha. Acabando com a corrupção, esse dinheiro vai ser retornado para a população. Com todos aqueles desvios bilionários da Petrobrás o Brasil ainda não quebrou. Vejo pela composição dos ministérios dele agora e ele quer colocar pessoas comprometidas com o crescimento do País. Se o povo tiver educação, cria-se o crescimento econômico no Brasil. 

Mas e a indicação do deputado federal Alberto Fraga (DEM-DF) para um ministério? Ele foi condenado pela Justiça por cobrar mais propina achando que estava pouco. 

Ele vai ter que rever algumas indicações. Não só eu vou cobrar, mas como toda a população. Quem é ficha limpa tem o direito de estar no governo, mas o ficha suja não. Tanto é que ele não fez composição. Ele ganhou a eleição sem compromisso com nenhum outro partido. 

Como avalia a decisão do Bolsonaro de unir os ministérios do Meio Ambiente e da Agricultura? 

Eu sou a favor da diminuição do Estado, principalmente na quantidade de ministérios, porque cria um custo altíssimo. Agora o Meio Ambiente e a Agricultura vão ter que trabalhar em comum acordo. Falam que eu fui eleito pela bancada ruralista. Mas vamos com calma, eu fui eleito pelo partido Democratas. Eu não sou da bancada ruralista, inclusive, não tenho chácara, fazenda, nada. Por exemplo, eu não sou contra o agrotóxico, mas é preciso ser regulamentado. A Polícia Federal apreendeu recentemente 400kg de agrotóxicos ilegais. São assuntos polêmicos, mas precisam ser debatidos.  (*Especial para O Hoje)

 

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