Goiás é o estado mais promissor para cervejarias artesanais
Ampla cartela de cursos disponíveis no mercado, inclusive em Goiânia, projeta novos investidores; pujança de Goiás no ramo cervejeiro atrai eventos da área até internacionais
Goiás é o estado mais promissor no Centro-Oeste para o mercado das cervejarias artesanais. Segundo a Associação Brasileira de Cerveja Artesanal (Abracerva), são 25 empresas do tipo funcionando em Goiânia, Aparecida de Goiânia e municípios do interior. Na comparação com o restante do país, Goiás ocupa a 7ª posição no ranking dos estados que detêm o maior número de cervejarias artesanais. Rio Grande do Sul, no topo da lista, tem 179 empreendimentos do tipo, e Mato Grosso, fechando a relação, possui 12 cervejarias artesanais. É um segmento que, de acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), cresceu 23% entre dezembro de 2017 e setembro deste ano, chegando a 835 empresas em todo o Brasil.
O especialista em cerveja e professor Daniel Natal acredita que uma das principais razões da evolução deste mercado está na procura crescente pelas escolas cervejeiras. A Bräuhaus, considerada a primeira do ramo na Região Centro-Oeste, formou 600 alunos desde que abriu as portas, em junho de 2016. Daniel Natal leciona na instituição e diz que a escola entrega anualmente cerca de 250 certificados de conclusão de curso. O empresário Pedro Vidal tem dois desses diplomas. Ex-aluno da Bräuhaus, ele se capacitou, em 2016, em análise sensorial e produção caseira de cerveja. Atualmente, administra a própria cervejaria independente.
“Eu comecei a trabalhar com cerveja em 2014. Na época, abri uma empresa de distribuição de cerveja e trazia para Goiás marcas de fora, de estados como São Paulo, Santa Catarina e Paraná. Foi então que senti a necessidade de aprender mais sobre cerveja para abrir a minha própria cervejaria”, conta Pedro. Em novembro de 2017, ele abriu a Cervejaria Cavalo Louco, sediada na Vila Brasília, em Aparecida de Goiânia. O empreendedor produz seis rótulos destinados a barris de chope e outros cinco, que são engarrafados. Pedro diz que a experiência com profissionais experimentados na escola de cerveja o encorajou a ingressar no ramo.
O negócio prosperou e hoje Pedro Vidal, aos 27 anos, já emprega nove funcionários. Ele divide as decisões no dia a dia da cervejaria com o sócio, Leandro Peres. “Os cursos na escola de cerveja me abriram ainda mais a cabeça para esse mercado”, acrescenta Pedro. A produção da Cavalo Louco, segundo ele, chega a até 24 mil litros de cerveja por mês. A maior parte desse volume é absorvida por bares, restaurantes, pubs e supermercados de Goiânia. Outra parcela da produção é destinada ao interior de Goiás e outros estados, através de distribuidores localizados em cidades como Anápolis (GO) e Brasília (DF). Pedro comemora as vendas diretas que tem feito também para estabelecimentos de Palmas, no Tocantins.
A ampla cartela de cursos de cerveja disponíveis hoje no mercado levou Pedro Vidal também a Blumenau (SC), onde se qualificou em sommelieria. Ele voltou para Goiás com o título de master em estilos de cerveja. Recentemente, Pedro complementou a formação com o curso de tecnologia cervejeira, que fez na Bräuhaus, em Goiânia. Ele aprendeu as rotinas das chamadas cervejarias ciganas. O professor Daniel Natal explica que são empresas cujos proprietários possuem receitas próprias, mas alugam o espaço, maquinário e infraestrutura de terceiros, já autorizados por órgãos de vigilância sanitária a produzir a bebida em seus estabelecimentos. A cervejaria de Pedro Vital presta esse serviço a dez empresas de Goiânia e da cidade de Goiás.
Alunos das escolas de cerveja
Na maioria das vezes, começa na curiosidade de entender como é fabricada a cerveja, depois vira hobby e, finalmente, uma cervejaria artesanal. É essa a trajetória de boa parte dos alunos e ex-alunos de escolas de cerveja, explica o professor Daniel Natal. Ele ressalta que os interessados chegam à escola de cerveja motivados não só pelo interesse em investir na produção da bebida, mas na intenção de refinar os próprios modos de apreciá-la. “Dessa forma, boa parte do público já tem modificado os hábitos de forma quase que natural, bebendo menos, mas bebendo melhor”. Com investimento inicial de R$ 150 mil, o novo produtor de cerveja já pode se lançar no mercado para oferecer o produto artesanal de qualidade que o consumidor busca.
Mas há empresários que chegam a investir R$ 3 milhões para abrir uma cervejaria independente. O professor Daniel Natal acredita que a expansão do setor produtivo da cerveja nos últimos anos é responsável, entre outros feitos, por atrair ao país eventos do ramo com envergadura internacional. Para ele, Goiânia é uma das capitais que entrou na rota dos grandes encontros da indústria cervejeira. Não por coincidência, a Capital sedia na próxima semana o 2º Congresso Latino Americano e Brasileiro de Ciência e Mercado Cervejeiro (Cervecon).
Daniel Natal integra a comissão científica do evento. A programação de cunho científico, empresarial e social ocorre de 29 de novembro a 1º de dezembro, na sede da Associação dos Magistrados do Estado de Goiás (Asmego), no Jardim Goiás. O encontro traz como atividades simultâneas ao evento o 2º Congresso e Exposição de Negócios do Mercado Cervejeiro e o festival gastronômico Hopsfest. Na avaliação de Daniel, o Cervecon colocará os produtores de cerveja artesanal diante das técnicas mais modernas de fabricação do produto. Uma das palestras mais aguardadas é a da executiva do grupo Baarth-Haas Christina Schönberger. Ela vem da Alemanha a Goiás para falar sobre o desenvolvimento de lúpulo no Brasil.
Conhecimento é fundamental
O professor Daniel Natal esclarece que para abrir a própria cervejaria independente o empreendedor deve conhecer bem o mercado, a logística de distribuição e tributação aplicada a essa indústria. “Como as cervejas artesanais estão em pleno crescimento no Brasil, as pessoas estão percebendo isso e querem fazer parte dessa fatia de mercado. Vejo isso de forma favorável, mas existem muitos aventureiros que não sabem como o mercado cervejeiro funciona, porém o próprio mercado vai regular isso”, esclarece.
A cerveja artesanal leva em média 30 dias para ficar no ponto de consumo, dependendo do estilo a ser fabricado. Daniel sugere que o Cervecon será uma oportunidade para investidores aprofundarem o conhecimento também sobre os métodos e resultados no aroma e sabor da cerveja. Neste sentido, ele aponta que as principais atrações do congresso serão o sommelier Rodrigo Sawamura, da Escola Superior de Cerveja e Malte, e a sommelière Carolina Oda – especialista em bebidas no ambiente gastronômico.
Aprendendo a consumir cerveja
Aluno do curso de sommelieria, Diogo Rossi Bueno, de 39 anos, buscou a capacitação para refinar a forma como consome cerveja. Ele passará os próximos três meses aprendendo técnicas com profissionais da área para depois replicar na produção que mantém em casa há dois anos. Ele fabrica a cerveja artesanalmente para consumo próprio, junto com familiares e amigos. O trabalho caseiro rende por mês até 60 litros da bebida.
Quando terminar o curso Diogo pretende levar a formação a frente, participando de palestras e novas qualificações. A experiência adquirida nos últimos dois anos levou Diogo Rossi ao primeiro lugar em um concurso de cerveja realizado em julho deste ano, em Goiânia. Ele superou 27 concorrentes e ganhou como prêmio o direito de ter 1.500 litros de sua cerveja produzidos na Cervejaria Cavalo Louco, de Pedro Vidal. Diogo ficou com 500 litros do produto; o restante foi dividido entre a cervejaria e os organizadores. Ele conta que engarrafou parte desse volume e colocou o restante em barris para vender.