Membros do Governo são presos suspeitos de lavagem de dinheiro
No âmbito da Operação Confraria, foram presos o ex-presidente da Agetop, Jayme Rincón, o presidente da Codego, Júlio Cézar Vaz e outros investigados
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Venceslau Pimentel*
O Palácio Pedro Ludovico Teixeira, sede administrativa do Governo de Goiás, foi alvo de busca e apreensão, por agentes da Polícia Federal, de eventuais provas para desbaratar o que a corporação classificou de esquema criminoso de lavagem de dinheiro e desvio de dinheiro público. É lá que o governador José Eliton (PSDB) despacha diariamente.
A PF vasculhou o local o 6º andar do Palácio, onde trabalha a assessora especial da Governadoria, Meire Cristina Rodrigues, que foi presa ontem de manhã, dentro da Operação Confraria, junto com o marido dela, Márcio Gomes Borges (gerente-geral de Distritos da Companhia de Desenvolvimento Econômico do Estado de Goiás (Codego), o presidente do órgão, Júlio Cézar Vaz, e o ex-presidente da Agência Goiana de Transportes (Agetop), Jayme Rincón.
Cerca de 50 policiais federais cumpriram dez 10 mandados de busca e apreensão e os de prisão temporária, expedidos pela 11ª Vara da Justiça Federal em Goiânia. Os investigados foram indiciados pelos crimes de lavagem de dinheiro, associação criminosa e corrupção.
O delegado responsável pela investigação, Charles Lemes, disse, em entrevista à imprensa, que está no foco do trabalho o eventual repasse de dinheiro ilícito para a campanha do governador José Eliton, que buscava a reeleição. Isso porque Rincón era o coordenador-geral da campanha eleitoral do tucano, até ser preso na Operação Cash Delivery, deflagrada em setembro, em desdobramento da Lava Jato.
De acordo com a PF, o ex-homem forte da Agetop é suspeito de receber propina da empreiteira Odebrecht, em torno de R$ 12 milhões, para as campanhas do ex-governador Marconi Perillo (PSDB), em 2010 e 2014.
Perillo também foi preso na Delivery, três dias após a eleição de 7 de outubro, e ainda Rodrigo Godoi Rincón (filho do ex-presidente da Agetop), Márcio Garcia de Moura – policial militar e motorista de Rincón, o empresário Carlos Alberto Pacheco Júnior e o advogado Pablo Rogério de Oliveira.
Na operação de setembro, foram cerca de R$ 1 milhão na casa de Rincón e na do motorista dele, em ação também deflagrada em Pirenópolis, Aruanã, Goiânia, e ainda em Campinas (SP) e São Paulo.
Ao todo, foram cumpridos 14 mandados de busca e apreensão. A ação ocorreu em cinco cidades – Goiânia (GO), Pirenópolis (GO), Aruanã (GO), Campinas (SP) e São Paulo (SP). Foram apreendidos R$ 80 mil na casa de Jayme Rincón. Outros R$ 940.260, na casa do motorista dele. Na época, a defesa de Marconi se disse indignada com a prisão dele, por entender que não havia fato novo para a sua decretação.
Indagado se a operação deflagrada ontem alcançaria Marconi, o delegado disse que no decorrer da investigação, a PF vai apurar se, a exemplo a Delivery, há o envolvimento dele. “Nada está fora isento da investigação”, frisou.
Ostentação
Na operação de ontem, além das quatro prisões temporárias, foram apreendidos ao menos R$ 290 mil, em espécie, 14 veículos de luxo, lanchas e jet ski, e joias; houve também o sequestro de duas casas de veraneio, em Aruanã e Búzios (RJ) e três apartamentos de luxo. No total, os bens são avaliados em R$ 1º milhões.
De acordo com o delegado, todos eles estavam em nomes de “laranjas”, supostamente ligados às quatro pessoas que foram detidas. “A investigação visa, justamente, apurar como eram feitos os repasses de dinheiro a partir de uma informação recebida foi que a gente conseguiu linkar alguns alvos da operação Delivery com a Confraria”, explicou o delegado da PF.
Para citar a vida de ostentação dos personagens presos na operação, o delegado citou o casal Márcio e Meire Cristina, que tinha um padrão de vida incompatível com o salário de servidor público. Segundo ele, a dupla recebia, por mês, cerca de R$ 15 mil, mas gastava no período algo em torno de R$ 30 mil. Os dois tinham também veículos avaliados em R$ 600 mil e imóveis que custam por volta de R$ 4 milhões.
O envolvimento da Codego, conforme afirmou, se dava por meio de contratos fictícios no âmbito do órgão, orquestrados pelos presos ligados a ele. Charles Lemes informou que o casal preso movimentava grandes quantias em dinheiro e ostentavam veículos de luxo, cujos valores eram incompatíveis com a renda salarial de pouco mais de 15 mil por mês.
Dinheiro pode ter irrigado campanha
Indagado se dinheiro de origem ilícita teria irrigado campanhas eleitorais, em Goiás, o delegado da PF, encarregado da investigação, fez questão de salientar que dois dos presos – Rincón e Júlio Vaz – faziam parte do comitê de campanha do atual governador, como coordenador e responsável pelo logística do atual governador, respectivamente.
No entanto, o delegado ponderou que não há, por enquanto, indícios de que esses recursos tenham sido destinados a campanhas eleitorais.
Para o delegado da PF, assim como na Operação Cash Delivery, em que havia o envolvimento de Rincón com a Odebrecht, ficou comprovado agora que o ex-presidente da Agetop atuaria como coordenador do esquema de repasse de propina no âmbito da Codego. “O núcleo financeiro dessas organizações criminosas se presta, justamente, a receber esses recursos indevidos e direcioná-lo para que chegue a um fim, é justamente isso que vamos apurar, para saber que fins são esses, se para fins eleitorais ou para enriquecimento próprio”, pontuou Lemes.
Para a Polícia Federal, como o presidente da Codego é ex-presidente da Saneago, pode ser que outros órgãos estaduais estejam dentro do esquema ilícito. “Nada impede que estejam atuando no âmbito de outros órgãos públicos”, disse.
A Operação foi nomeada como Confraria, considerando reuniões frequente dos envolvidos no esquema para o planejamento de ações do grupo.
Outro lado
Em nota divulgada ontem, após a operação da PF ter sido deflagrada, o Governo de Goiás diz que “acompanha com atenção os desdobramentos da Operação Confraria, da Polícia Federal, realizada na manhã desta quinta-feira e informa que já foi determinado o afastamento dos servidores, citados na operação, de seus respectivos órgãos”. O Governo enfatiza ainda que apoia e colabora com todas as investigações do Ministério Público Federal e da Polícia Federal.
Já o advogado de defesa de Rincón, Romero Ferraz Filho, disse que a prisão de seu cliente causou espanto, “pois sequer houve pedido de prisão ou busca e apreensão formulado pelo Delegado da Polícia Federal que preside o inquérito”. Ele reforça que promoverá as medidas para libertar o cliente.
A defesa do ex-governador Marconi Perillo declarou que ele não “foi objeto na Operação Confraria”. Segundo o advogado Antônio Carlos de Almeida, o Kakay, o nome do tucano sequer consta entre os investigados da Operação. “O que ocorre é que a Operação Confraria à toda evidência não poderia ter foro na Justiça Federal por inquestionável incompetência. Como maneira de burlar a competência da Justiça Comum afirmam, de maneira chapadamente ilegal, que esta é um desdobramento da Operação Cash Delivery”, diz a nota. (*Especial para O Hoje)