Indústrias são obrigadas a reduzir açúcar nos alimentos
Acordo vai tirar 144 mil toneladas de açúcar da mesa do brasileiro, nos próximos quatro anos
Thiago Costa
Um acordo assinado pelo Ministério da Saúde e a indústria de alimentos fará com que o Brasil diminua o consumo de açúcar em produtos processados. Embora o número de 144 mil toneladas pareça ser significativo, representa apenas 1,5% do consumo do alimento no país. O prazo para que o acordo seja cumprido será para os próximos quatro anos. Atualmente, 36% do açúcar consumido pelos brasileiros são provenientes de alimentos industrializados, que entram neste acordo.
O que pode ser um empecilho para o consumidor é a não obrigatoriedade de alguns produtos especificarem a quantidade de açúcar nos produtos, o que impossibilitará saber como está o produto atualmente e como ele ficará após o acordo.
A nutricionista Rathaela Ricioli afirma que, por mais que tenha essa redução com o acordo, a parcela ainda é pouca, porque, de acordo com ela, na maioria das casas dos brasileiros é comum o consumo de açúcar exagerado. “Em ralação aos que optem por diminuir o açúcar da alimentação, essas pessoas acabam ingerindo o alimento, mesmo que de forma indireta”, explica a nutricionista.
Sobre a diminuição do açúcar de produtos brasileiros, Rathaela afirma que algumas empresas adicionam adoçantes aos produtos, como se a troca fosse resolver o problema, mas de acordo com a profissional, o adoçante também causa o acúmulo no organismo do consumidor e esse produto inserido para suprir a menor quantidade de açúcar nos alimentos também causa a dependência, porém de uma maneira mais lenta.
A profissional da saúde explicou que algumas pessoas tentam retirar todo o consumo do açúcar, como uma escolha de vida, mas que a retirada total do açúcar não é interessante para ninguém. “Para que o corpo tenha os nutrientes do alimento, que muitas vezes é um vilão para a maior parte da sociedade, pelo exagero no consumo, é recomendável que cada pessoa consuma diariamente, no máximo 25 gramas de açúcar”, explica Rathaela. Para a nutricionista, os goianos consumem mais que o dobro dessa quantidade, aproximadamente 60 gramas/dia.
“Às vezes, pensamos que apenas aquele achocolatado conhecido tem muito açúcar, porém o açúcar está inserido, inclusive, nos produtos embutidos como a linguiça, a salsicha, presunto e nos defumados. O goiano precisa aprender que quando o assunto é o consumo de açucares, é necessário o equilíbrio. A partir do momento que o paciente não consegue ter esse equilíbrio na alimentação, ele acaba adquirindo doenças futuras e, logo após ingerir esse alimento, nota-se na pessoa uma indisposição”, explica a nutricionista clínica e esportiva.
Em relação ao acordo firmado para diminuir o alimento da mesa dos brasileiros, na opinião da nutricionista, toda medida, por menor que seja, é positiva e terá um impacto na sociedade. “A medida estará aliada na rotulagem, alertando o consumidor que o produto em excesso pode acarretar em doenças crônicas e excesso de peso, hipertensão, diabetes, colesterol, dentre várias outras”, finaliza a nutricionista ao comentar sobre a ação que diminuirá 144 toneladas de açúcares em alimentos consumidos pelos brasileiros a partir do início do cumprimento do acordo.
A nutricionista afirma ainda que as empresas substituem o açúcar por adoçantes artificiais, que, de acordo com ela, não muda nada em relação ao açúcar antes utilizado. “Em alguns casos é pior ainda utilizar esses adoçantes. Acaba que eles tiram algo ruim e substituem por outro item ruim com outro nome que seja aceito pela população, como algo mais bonito e saudável. Isso acontece com os refrigerantes e barras de cereais que no rótulo consta que o produto é zero açúcar, mas quando você vai olhar tem um outro tipo de adoçante, mas que as pessoas que não são da área da saúde não sabem diferenciar”, conta.
Alimentação Saudável
A consultora tributária, Layza Pacheco, quando decidiu procurar um profissional da nutrição, no início de julho deste ano, desde então, Layza começou a ter essa restrição no consumo do açúcar e percebeu os benefícios da decisão. “Eu consegui emagrecer de maneira mais rápida, percebi uma diferença grande nas vezes que subi na balança depois de cuidar mais da minha saúde. Até a minha pele melhorou. No dia a dia eu fico mais disposta para as minhas atividades e percebi que agora também estou bem humorada”, acrescenta.
Layza confirma que no início teve um pouco de dificuldades devido ao hábito que há na atual sociedade com o consumo de muito açúcar. Mas, de acordo com a consultora tributária, depois do primeiro mês tudo ficou mais fácil, porque, como conta a jovem, seu corpo estava mais acostumado sem o consumo de tanto açúcar. “Foi a partir de então que eu comecei a perceber os benefícios que a decisão de tirar o açúcar da minha vida me traz”, destaca.
“Acredito que os pais deveriam tratar do assunto com seus filhos com maior frequência. Na escola, o lanche da das crianças poderiam ser diferentes, pois jovens e adultos já têm essa consciência, mas eu percebo muita criança que consome uma grande quantidade de açúcar onde o pai não supervisiona” explica Layza Pacheco.
Thais Rosa é gerente de vendas em uma ótica de Goiânia e decidiu diminuir o açúcar com a ajuda da nutricionista. Graças ao cardápio que a profissional a passou, Thais descobriu que dava para comer de tudo um pouco, sem abusar do açúcar que a impedia de perder peso. Desde a jovem começou a reduzir o açúcar na alimentação, ela percebeu outros benefícios além de emagrecer. “Fiquei mais disposta para ir à academia e praticar atividades físicas. Meu corpo teve menos retenção de líquido e o meu sono noturno melhorou significativamente”, afirma a jovem.
“Eu não sofro em eventos que tenham os alimentos com açúcares. Como um pouquinho de cada coisa, mas tudo calculando na quantidade e horários que eu possa comer. O que me ajudou muito foi que, no início da minha escolha de parar de diminuir o açúcar, a nutricionista me fez uma entrevista com o que eu gosto e não gosto de comer, aliado com os meus objetivos. Eu não fico com fome pois como várias vezes por dia, diferente daquelas dietas da moda onde as pessoas comem apenas uma folha de alface”, finaliza Thais Rosa.
Um vício lícito colocado à mesa
O açúcar, embora um alimento necessário para a vida humana, muitas vezes se torna um malefício para a sociedade. Isso se dá porque as indústrias abusam do alimento nas composições que são entregues à mesa da população e consumidos de maneira desenfreada. O açúcar fornece apenas calorias vazias para o organismo, pois ele não contém vitaminas nem minerais, que são nutrientes essenciais para o bom funcionamento do corpo.
Ao explicar o principal motivo que impede muitas pessoas de diminuírem o alimento da mesa do brasileiro, a nutricionista Ana Cristina Paiva, de Anápolis, diz que o açúcar proporciona prazer. De acordo com a nutricionista, a maior dificuldade para diminuir o açúcar da vida das pessoas é que esse alimento é o que dá aquele gosto de infância nos alimentos, e o gosto nos produtos em geral, principalmente os industrializados.
Sobremesas somam o maior número de açúcar nos alimentos. Bolos, pães doces, pudins. As bebidas não ficam para trás, como o refrigerante, por exemplo, que contem uma quantidade de açúcares, sucos em pó e de caixinha. Mas se engana quem pensa que os vilões são apenas esses, já que os alimentos industrializados também batem o recorde do alimento em sua composição. O chocolate com menos cacau, a gelatina, ketchup, leite condensado e vários outros produtos industrializados são os responsáveis por levar à mesa dos brasileiros uma quantidade considerável de açúcar.
Solução
Para a nutricionista Ana Cristina Paiva, o nosso paladar se desenvolve através da nossa rotina de vida. “Se eu consumir mais açúcar, meu organismo vai querer mais açúcar. Se eu diminuir o açúcar, vou sentindo mais o sabor dos alimentos”. Afirma a profissional. De acordo com Ana Cristina, quando você fica um mês sem consumir refrigerante e volta a experimentara bebida, você já vai sentir o sabor super adocicado. Isso se dá graças a reeducação que seu organismo criou pelo tempo que não houve o consumo do produto.
A profissional ainda nos deixa uma reflexão: por que não trocar aquele docinho por uma fruta? De acordo com ela, devemos fazer escolhas rentáveis para a nossa saúde, em primeiro lugar. “O problema do brasileiro é que é mais prático ir ao supermercado comprar um doce e um produto industrializado, do que ir na feira comprar frutas e verduras. Essa rotina de vida gera obesidade, diabetes, pressão alta e vários outras questões que o principal culpado é a jeito que nos alimentamos, com esses produtos industrializados”, ressalta.
Para a Ana Cristina, não podemos cortar os carboidratos do nosso corpo, porque são eles os fornecedores de energia. Para ela, caso alguém decida cortar esses açúcares da própria vida de uma vez, vai haver nessa pessoa um cansaço físico maior e falta de disposição para atividades básicas. “Me chegam muitos pacientes e dizem que cortaram o arroz, o doce, mas eu não indico isso de uma vez, indico deixar alguns carboidratos. O que determina uma boa reeducação alimentar é consumir esses alimentos de maneira moderada, afim de que esse alimento, visto como um mal, se torne um aliado para alcançar os objetivos e ter uma vida muito mais saudável e duradoura”, comenta.