Participação da indústria no PIB cai para nível mais baixo em mais de duas décadas
Lauro Veiga
A
taxa de desocupação, muito mais conhecida como taxa de desemprego, voltou a
nível de 12% no começo deste ano, o total de pessoas subutilizadas – um
critério que inclui desempregados, pessoas que trabalham menos horas por dia do
que gostariam e aquelas que saíram do mercado por desalento ao não conseguir
alguma forma de colocação – atingiu 23,901 milhões no trimestre encerrado em
janeiro deste ano, um recorde histórico para o período. E a indústria, que já
respondeu por 14,44% de todas as pessoas ocupadas na economia no trimestre
finalizado em janeiro de 2013, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios Contínua (PNADC), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), teve sua participação reduzida para 12,57% no trimestre novembro de 2018
a janeiro de 2019.
Definitivamente,
depois de experimentar o “efeito montanha-russa” (ou “estica-encolhe” em outra
definição popularesca) desde 2013 e encolher radicalmente em 2015 e 2016, anos
de crise mais severa, o setor industrial tem demonstrado incapacidade real para
conseguir acompanhar até mesmo o ritmo modorrento da economia em geral,
indicando falta de dinamismo, baixa produtividade e dificuldades evidentes para
acompanhar o ritmo experimentado pela indústria no restante do mundo. Todo esse
conjunto de indicadores, que se somam ao investimento capenga e a uma oferta
ainda limitada de crédito, a custos que voltaram a se elevar no começo deste
ano, indica que a economia não terá vida fácil neste ano.
A
situação da indústria parece mais preocupante, por sua capacidade de produzir
investimentos e empregos de melhor qualidade e ainda para transferir os
impactos mais positivos de ganhos tecnológicos para o restante da economia,
produzindo incrementos em cadeia na área da produtividade. As estatísticas das
contas nacionais, divulgadas na semana que passou pelo IBGE, mostram que a
participação da indústria de transformação no Produto Interno Bruto (PIB) atingiu
em 2018 seu menor nível em toda a série histórica, iniciada em 1995, quando se
inicia a série mais recente do instituto, saindo de 12,2% em 2017 para 11,3%.
Para comparar, essa fatia havia atingido 17,4% no longínquo ano de 2005. Em
1995, havia sido de 16,8%.
Menos empregos
de qualidade
A
dimensão do encolhimento da indústria em geral pode ser avaliada, ainda, pela
sua perda de importância relativa na geração de empregos, incluindo aqui as
contratações “informais” (quer dizer, sem qualquer direito trabalhista
assegurado). Nos dados da PNADC, o setor chegou a contratar 13,292 milhões de
pessoas no trimestre novembro de 2014 a janeiro de 2015, número reduzido para
11,631 milhões no trimestre concluído em janeiro deste ano, com
“desaparecimento” de 1,661 milhão de vagas, representando uma retração de
12,5%. No mercado formal, segundo estatísticas do Cadastro Geral de Empregados
e Desempregados (Caged), desde outubro de 2013, quando atingiu o recorde de
8,508 milhões de empregados com carteira, o setor de transformação fechou 1,327
milhões de empregos, reduzindo o total de trabalhadores no setor para 7,182
milhões em dezembro do ano passado, num tombo de 15,6%.
Balanço
·
Considerando-se
que a indústria pagou um salário médio de R$ 2.239 no trimestre finalizado em
janeiro deste ano, pode-se estimar que a massa de rendimentos em todo a
economia contabilizou uma perda muito próxima de R$ 3,72 bilhões – o que
significa dizer que o total de rendimentos que circularam pela economia poderia
ter sido 1,8% maior, dobrando o aumento real da massa salarial na comparação
entre novembro/2017-janeiro/2018 e novembro/2018-janeiro/2019.
·
,
a perda de fôlego aparece nitidamente trimestre a trimestre. Comparado ao
trimestre imediatamente anterior, o setor registrou quedas de 0,5% e de 0,6% no
primeiro e segundo trimestres de 2018, neste segundo caso, sob influência da
greve dos caminheiros, que afetou o abastecimento em toda a economia.
·
No
terceiro trimestre, o setor conseguiu repor as perdas, crescendo 0,6%, mas
voltou a recuar no quarto trimestre, baixando 1,0% frente ao terceiro. Na
comparação com igual trimestre de 2017, a indústria de transformação até havia
iniciado bem o ano, crescendo 3,8% no primeiro trimestre, taxa reduzida para
1,7% no segundo e para 1,6% no terceiro trimestres.
·
Para
“coroar” o ano, o quarto trimestre registrou baixa de 1,5% no PIB do setor,
ainda em relação ao trimestre final de 2017. Como resultado, a taxa anual de
crescimento recuou de 1.7% em 2017 para 1,3% no ano seguinte.
Numa complicação a mais, o setor fechou 2018 com
saldo negativo de US$ 25,157 bilhões em sua balança comercial (exportações menos
importações), oito vezes maior do que o déficit de US$ 3,216 bilhões anotado em
2017.