Mais pessimista, mercado derruba previsão paraa economia muito mais cedo neste ano
Lauro Veiga
Os
mercados têm demonstrado agilidade incomum neste começo de ano, revisando
rapidamente para baixo suas apostas no crescimento do Produto Interno Bruto
(PIB) e da produção industrial, num comportamento muito mais pessimista do que
aquele observado em igual período de 2017 e 2018. Esse tipo de comportamento
não deixa de causar alguma estranheza, já que o setor financeiro vinha
sugerindo o que parecia ser mesmo uma certa resistência em reconhecer a
extensão da perda de dinamismo da atividade econômica durante todo o ano
passado.
Ainda
às vésperas da divulgação de números oficiais sobre o PIB e a produção
industrial, o setor parece não ter conseguido capturar em seus modelos a
precisa dimensão do desaquecimento em curso, observado com evidência maior ao
longo do trimestre final de 2018, mas perceptível desde a virada do semestre. A
anotar: em 1º de fevereiro deste ano, na mediana das apostas do mercado (quer
dizer, nas referências mais frequentes entre as previsões do setor), ainda se
acreditava, naquelas paragens, que o PIB de 2018 cresceria 1,25%.
Conceda-se
que o “erro” ocorreu nas casas depois da vírgula, já que a economia apresentou
variação de 1,1% no ano passado, segundo divulgado dias depois pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No caso da produção industrial,
às vésperas da divulgação da pesquisa mensal do IBGE sobre o setor, no dia 31
de janeiro deste ano, os mercados ainda teimavam num avanço de 1,48% ou pouco
mais de um terço acima da taxa divulgada pelo instituto. A indústria avançou
ainda mais modestamente, numa variação de 1,1% no ano passado (a mesma taxa
registrada para o PIB).
Voltando
ao final de 2017, mais precisamente no dia 1º de dezembro, o relatório Focus do
Banco Central (BC), fonte das informações acima sobre a expectativa do setor
financeiro em relação ao futuro da economia, mostrava que os mercados
acreditavam num crescimento de 2,60% e de 2,90% respectivamente para o PIB e
para a produção industrial em 2018.
Maior
crescimento
Animados
(sabe-se lá porque razão) com o que aquele ano reservava aos brasileiros, os
mercados aumentaram suas apostas, passando a prever altas de 2,80% para o PIB e
de 3,97% para a produção industrial em 5 de abril de 2018. É claro que não
havia como antecipar a greve dos caminhoneiros nas semanas finais de maio do
ano passado, muito menos seu impacto sobre a atividade econômica, e a perda de
fôlego que viria mesmo depois de cessados os efeitos mais diretos do protesto
nas estradas.
Balanço
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Uma
revisão mais dura veio apenas em setembro, quando as previsões para o
crescimento do PIB em 2018 foram reduzidas para 1,40%.
·
Num
comportamento muito diferente neste ano, que parece confirmar o fim da (curta)
lua de mel com o novo governo, os mercados reduziram suas previsões para o PIB
de 2019 em 0,58 pontos de porcentagem desde o começo de dezembro do ano
passado.
·
A
mediana das projeções foi derrubada de 2,55% em 3 de dezembro do ano passado
para 1,97% em 5 de abril deste ano. Pode-se argumentar que a revisão veio
depois da confirmação de um PIB muito aquém do esperado em 2018.
·
Mas
não foi bem assim. O IBGE divulgou o resultado do PIB no final de fevereiro.
Praticamente uma semana depois, o mercado ainda acreditava numa variação de
2,28% ou 0,27 pontos abaixo do índice coletado em dezembro pelo relatório.
·
Um
corte mais intenso nas previsões viria nas quatro semanas seguintes, quando
ficaram mais nítidas as dificuldades do governo para articular no Congresso as
negociações das reformas que pretende fazer na economia.
·
A
revisão foi mais forte nas previsões para a produção industrial neste ano. Até
o final de dezembro do ano passado, os mercados previam um crescimento de 3,30%
para o setor em 2019, taxa reduzida para 2,80% no começo de março (lembrando
que a pesquisa do IBGE mostrando avanço de apenas 1,1% para a indústria em 2018
havia sido divulgado em 1º de fevereiro deste ano).
Na medição mais recente do Focus, realizado na
sexta-feira, dia 5, e divulgada hoje, a estimativa caiu para 2,50% (ainda
considerada um tanto otimista por alguns).