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quarta-feira, 25 de dezembro de 2024
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Foco Econômico

Apenas sete produtos responderam por mais da metade da inflação de março

Lauro Veiga

Postado em 10 de abril de 2019 por Sheyla Sousa
Projeções do BC para contas externas mostram que a crise é mesmo só nossa
Lauro Veiga

Antes
que os gaviões do mercado lancem suas garras para tentar forçar uma nova rodada
de alta das taxas básicas de juros, mesmo quando os principais indicadores
demonstram a necessidade de cortes adicionais no custo do dinheiro, caberia à
equipe econômica destrinchar o comportamento recente da inflação. Até como
forma de tranquilizar a opinião pública, já que seria esperar demais que seus
economistas tentassem, ainda que timidamente, se contrapor ao mercado
financeiro.

As
pressões de alta sobre a inflação nas últimas semanas, resultando no índice de
0,75% em março, maior taxa para o mês desde 2015, segundo o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), têm se concentrado em itens bem
específicos, sem qualquer relação com “excessos” muito improváveis na área da
demanda. Ou seja, aumentos de juros, neste momento, fariam apenas agravar as
condições gerais na economia, com efeitos duvidosos sobre os preços que têm
pressionado o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

A
menor oferta de feijão na primeira safra, colhida no começo do ano, conforme já
anotado neste espaço; o excesso de chuvas e seus reflexos sobre a produção de
hortaliças, verduras e legumes; a política preços da Petrobrás, que encarece
não somente a gasolina, mas acaba “puxando” também os preços do etanol; e, de
forma mais esporádica, a volatilidade nos preços das passagens aéreas foram as
principais fontes de pressão inflacionária no mês passado. Acredita-se, embora
alguns pareçam duvidar seriamente no mercado, que o Banco Central (BC) não
tenha poderes para enfrentar São Pedro e as estripulias do clima. Mas esta é
uma outra história.

Difusão e
concentração

Em
março, apenas sete itens, entre as centenas pesquisados pelo IBGE, responderam
por 54,3% do IPCA mensal, ainda que, na medição do Itaú BBA, o percentual dos
subitens em alta, entre todos os que compõem o índice, tenha alcançado 65,3%
(diante de 59,0% em fevereiro e 50,4% em março do ano passado). Isso mostra
que, embora a “difusão” dos aumentos tenha sido maior, as pressões ficaram
limitadas a produtos sujeitos a elevada sazonalidade (ou seja, que costumam
oscilar entre grandes aumentos e reduções mês a mês, ao sabor da oferta, em
alguns casos, ou de decisões empresariais, a exemplo da gasolina, do diesel, do
gás de cozinha e das passagens aéreas).

Balanço

·  
Entre
as maiores pressões, os aumentos do tomate (31,84% diante de queda de 5,95% em
fevereiro), da batata inglesa (21,11%), do feijão carioquinha (12,93%) e do
feijão preto (12,55%), passagens aéreas (7,29%), etanol (7,02%) e gasolina
(2,88%) contribuíram com 0,407 pontos de porcentagem para a composição do IPCA
de 0,75% no mês passado.

·  
Etanol,
na entressafra do setor sucroalcooleiro, e gasolina, por conta dos aumentos
praticamente semanais da Petrobrás num momento de elevação nos preços do
petróleo (mais 7,5% em março), responderam, por sua vez, por 95,9% do aumento
registrado no mês passado pelos preços “monitorados”, que subiram 0,75%.

·  
Apesar
do IPCA mais alto do que o esperado (o mercado esperava variação de 0,63%),
anota Julia PassabomAraujo, economista sênior do Itaú BBA, “todas as medidas de
núcleo seguem em trajetória bem confortável”. O “núcleo” do IPCA desconta
variações atípicas de preços, para cima e para baixo, e não considera itens
muito voláteis, como combustíveis e alimentos.

·  
Na
média dos núcleos da inflação, no cálculo do banco, a taxa mensal variou 0,4%
em dezembro e janeiro, recuou para 0,2% em fevereiro e avançou 0,3% em março,
acumulando variação de 3,4% em 12 meses (diante de 3,0% em dezembro e de 2,9%
nos 12 meses terminados em março de 2018).

·  
A
projeção do Itaú BBA sugere elevação de 0,57% em abril, numa desaceleração
frente a março, com taxas decrescentes para maior junho (0,34% e 0,18%), pela
ordem.

O final do período chuvoso e a entrada da nova
safra de grãos e de cana tende a reforçar o cenário baixista para os preços nas
próximas semanas. 

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