Usinas de Goiás vão destinar quase 83% da cana a ser colhida nesta safra para etanol
Lauro Veiga
Nas
previsões combinadas da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e do Instituto
para o Fortalecimento da Agropecuária de Goiás (Ifag), Goiás deverá colher na
safra 2019/20, recém iniciada, algo em torno de 69,8 milhões de toneladas de
cana, num avanço de 1,02% em relação ao volume colhido no ciclo encerrado em
março deste ano. Confirmando uma tendência observada desde o ciclo anterior,
perto de 82,8% da cana deverão ser destinados ao processamento de etanol, que
deverá ter sua produção elevada de 5,06 bilhões para 5,28 bilhões de litros
(4,36% a mais). Com preços ainda sob pressão no mercado internacional, diante
de estoques elevados e oferta maior, sobretudo na Europa, Tailândia e Índia, a
produção goiana de açúcar tende a repetir 1,75 milhão de toneladas, mesmo
volume processado em 2018/19.
O
mercado de etanol vem embalado desde o ano passado, quando as vendas
experimentaram salto de 48,4% no Estado (superando o aumento médio de 42,1%
acumulado em todo o País). Por aqui, as distribuidoras venderam quase 1,517
bilhão de litros do hidratado nos 12 meses de 2018, marcando novo recorde,
diante de 1,022 bilhão de litros em 2017. Nos dois primeiros meses deste ano,
as vendas subiram 28,1% frente a igual período de 2018 (desta vez, abaixo do
aumento de 37% na média de todo o País), saindo de 201,28 milhões para 257,92
milhões de litros, segundo dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e
Biocombustíveis (ANP).
O
País, de forma geral, deverá repetir a produção de cana da safra 2018/19, talvez
com algum incremento na produção de cana, recuperação na oferta de açúcar e
possivelmente novo recorde na produção de etanol, que pode superar 33,5 bilhões
de litros, na projeção da consultoria Datagro – o que confirmaria uma safra
ainda “alcooleira”. No ciclo 2018/19, as expectativas do setor foram superadas
e a participação do etanol na cana destinada à moagem pelas usinas da região
Centro-Sul aproximou-se de 64,80%, percentual mais elevado na série histórica,
saindo de algo em torno de 53,54% no ciclo anterior, nas estatísticas coletadas
pela União da Indústria de Cana de Açúcar (Unica).
Safra alcooleira
A
diferença de praticamente 11,2 pontos de porcentagem entre um ciclo e o
seguinte, observa Plínio Nastari, da Datagro, foi a mais substancial anotada
pelo setor até aqui. “Anteriormente, o máximo observado havia sido de 5,6
pontos”, afirma ele.O volume de cana moído pelas usinas da região Centro-Sul,
que responde por 93% da produção brasileira, baixou de 596,33 milhões para
573,07 milhões de toneladas entre as safras 2017/18 e 2018/19, numa redução de
pouco mais do que 23,2 milhões de toneladas, conforme o diretor técnico da
Unica, Antônio de Pádua Rodrigues. Mas a produção brasileira de etanol atingiu
nova marca histórica, somando perto de 32,960 bilhões de litros, a mais alta da
série histórica, segundo Nastari, incluindo as regiões Norte e Nordeste na
conta, em alta de 18,3%.
Balanço
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Mais
relevante, aponta Nastari, a participação do etanol no consumo de combustíveis
do Ciclo Otto no País avançou de 38,3% em 2017 para 43,8% no ano passado,
chegando a 45,9% no acumulado dos primeiros dois meses deste ano.
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Nas
estimativas da Datagro, desde o começo do Programa do Álcool, em 1975, até o
ano passado, a produção de etanol permitiu substituir ao redor de 3,0 bilhões
de barris de gasolina equivalente, “em um país onde as reservas de petróleo e
condensados somam atualmente em torno de 12,6 bilhões de barris”.
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Em
outra conta, Nastari calcula que a substituição de importações contribuiu para
evitar a contratação de uma dívida externa de US$ 420 bilhões em pouco mais de
quatro décadas, pouco mais de 9% além de reservas internacionais que somavam
US$ 384,17 bilhões em março deste ano. “A substituição de gasolina (por etanol)
tende a continuar no mesmo ritmo”, antecipa ele.
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Os
primeiros meses da safra 2019/20 deverão continuar mais “alcooleiros”, esperam
Rodrigues e Nastari, podendo ocorrer alguma mudança nessa dinâmica após
setembro, quando o setor deverá ter uma visão mais próxima do desempenho da
produção global de açúcar, especialmente na Europa e na Ásia e, neste
continente, sobretudo da Índia e da Tailândia.
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Mas
os problemas persistem. Estima-se que 30% das usinas ainda enfrentem
dificuldades financeiras e 20 delas poderão pedir recuperação judicial nos
próximos 12 meses. A dívida do setor cresceu entre 5% e 10% e as margens foram
mais curtas em 2018/19, ampliando o fosso entre os grupos menos endividados e o
restante das usinas.