Retração do setor público responde por quase 40% da queda no investimento total
Lauro Veiga
Divulgados
recentemente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os
dados consolidados do investimento dos governos estaduais, municipais e federal
comprovam o estrago produzido pelo arrocho fiscal sobre o investimento total na
economia e sugerem como será muito mais complicado retomar o crescimento nesta
área com a política ultraliberalizante definida pelo Ministério da Economia. A
resposta da equipe econômica às previsões de um Produto Interno Bruto (PIB)
muito abaixo do alardeado imediatamente após as eleições de 2018, como visto,
foi de mais cortes de despesas, o que certamente voltará a afetar negativamente
o investimento federal, que já se encontra nos níveis mais baixos na série
histórica de dados da Secretaria do Tesouro Nacional (STN).
O
IBGE consolidou as contas dos governos e calculou a “formação bruta de capital
fixo”, ou seja, o investimento total gerado pelas três esferas do Poder
Executivo. Em valores correntes, esse investimento atingiu R$ 115,098 bilhões
em 2013, correspondendo a 2,16% do PIB ou a algo como 10,32% do investimento
total em toda a economia. Em 2017, dado mais recente preparado pelo instituto,
o investimento dos governos desabou para R$ 80,345 bilhões, num tombo de 30,19%
em quatro anos.A conta passou a representar 1,23% do PIB (0,93 pontos de
porcentagem a menos) e apenas 8,2% do investimento total.
Em
igual intervalo, a formação bruta de capital fixo (leia-se, novamente, o
investimento consolidado de todos os setores da economia) baixou, em valores
correntes, igualmente calculados pelo IBGE, de R$ 1,115 trilhão para R$ 981,82
bilhões, em baixa de 11,94%. Menos R$ 133,124 bilhões foram investidos. Na
comparação com o PIB, a taxa de investimento encolheu de 20,91% para 14,98%,
numa perda de 5,93 pontos de porcentagem, correspondente a uma redução de 28,4%
(a queda no confronto com o PIB foi mais intensa porque o produto continuou
avançando no período em valores nominais, diante da retração do investimento
também a valores correntes).
Com estatais
O
mesmo pode ser observado em relação ao investimento dos governos em seus três
níveis, já que, como proporção do PIB, a redução chegou a 43,1%. Sob esse
ângulo, os cortes realizados pelos Estados, prefeituras e pela União
representaram 15,68% da redução de 5,93 pontos registrada pelo investimento
total. Mas resta incluir na conta os investimentos das estatais e, neste caso,
o tombo se agrava e a contribuição do setor público como um todo para a
retração do investimento em geral sobe para quase 40% (mais precisamente,
38,6%). Como sugerem diversos estudos nesta área, é pouco provável que o
investimento privado retome crescimento mais acentuado num cenário ainda de
baixa para o investimento público, como deverão mostrar os dados consolidados
do IBGE para 2018, quando as políticas de arrocho continuaram a vigorar.
Balanço
·
O
investimento executado pelas estatais controladas pelo governo federal, nos
dados do Ministério da Economia, desabou de R$ 113,541 bilhões em 2013 para R$
50,650 bilhões em 2017, numa perda de 55,4% ou impressionantes R$ 62,891
bilhões (45% a mais do que todo o investimento realizado pela Petrobrás em
2017, por exemplo).
·
A
fatia investimento das estataisno PIB despencou de 2,13% para apenas 0,77%
(1,36 pontos de porcentagem). Apenas as estatais, portanto, tiveram
participação de 22,9% na redução do investimento total.
·
Na
soma de prefeituras, governos estaduais, União e estatais federais, o
investimento conjunto caiu 42,71% a valores nominais (o que significou uma
queda ainda mais impressionante em termos reais).
·
Nessa
conta, a investimento baixou de R$ 228,639 bilhões em 2013 para R$ 130,995
bilhões, o que correspondeu a um corte de R$ 97,644 bilhões. A contribuição
para o investimento total encolheu de 20,51% (pouco mais de um quinto) para
apenas 13,34%.
·
Em
relação ao PIB, a perda atingiu 2,29 pontos, com a participação murchando de
4,29% para 2,0% no período analisado.
·
Os
demais setores da economia deixaram de investir algo em torno de R$ 35,480
bilhões, já que o investimento baixou de R$ 886,305 bilhões para R$ 850,825
bilhões, numa estimativa feita pela coluna com base nos dados do IBGE e do
Ministério da Economia. A queda nominal foi de “apenas” 4,0%.
Mas, como proporção do PIB, a perda foi mais
relevante, com retração de 21,9% entre 2013 e 2017, já que a fatia do setor
(que basicamente pode ser identificado como o investimento privado) no produto
baixou de 16,62% para 12,98%.