Nordeste ajuda a engrossar número de pessoas desempregadas e em desalento
Lauro Veiga
A
crise instalada no mercado de trabalho carrega igualmente uma dimensão
territorial, com indicadores ainda piores na região Nordeste do País, embora o
Sudeste, diante do tamanho de seu mercado, responda por parcela substancial do
desemprego,tomado em valores absolutos. Desemprego que persiste em sua
trajetória de crescimento quase dois anos e meio desde o final da recessão, na
medição reconhecida oficialmente. Trata-se de um “problema” menosprezado pela
equipe econômica de plantão, que busca “soluções salvadoras” resumidas, até
aqui, na reforma da Previdência.
Enquanto
nada mais parece caminhar no País à espera da “reforma salvadora”, o desemprego
campeia à solta, produzindo vítimas em larga escala. No Sudeste brasileiro,
região que concentra 45% dos ocupados, o total de pessoas sem ocupação cresceu
9,7% entre o primeiro trimestre de 2018 e igual período deste ano, saindo de
5,742 milhões para 6,30 milhões de desocupados (47% do total de desempregados
em todo o País). A região colocou mais 558,0 mil desempregados no mercado,
representando 45,2% do aumento observado em todo o País. Apenas lembrando, na
soma de todas as regiões, o total de desocupados saltou de 12,152 milhões para
13,387 milhões no período, num aumento de 10,2% (ou seja, 1,235 milhão de desempregados
a mais).
No
Nordeste, que responde por 22,8% do total de ocupados, o número de
desempregados avançou 6,2% ao passar de 3,557 milhões para 3,777 milhões de
acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC) do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A região respondeu por mais de um
quinto do aumento no total de pessoas desempregadas, mas registra a taxa de
desemprego mais elevada entre todas as regiões, representando 15,3% da força de
trabalho regional, diante de 14,3% no primeiro trimestre do ano passado. Para
comparação, no Sudeste, a taxa avançou de 12,1% para 13,2%, enquanto saiu de
11,6% para 12,7% na média de todo o País.
Políticas
regionais
Se
a desocupação preocupa, o comportamento do emprego não ajuda a amenizar o
cenário. Proporcionalmente, a contribuição do Nordeste para a redução do número
de pessoas ocupadas entre os dois trimestres foi maior do que a do Sudeste mais
desenvolvido, sugerindo a necessidade de políticas regionais para estimular o
emprego e derrubar o desemprego – um ponto totalmente fora do “cardápio”
ultraliberal da equipe econômica. A região Sudeste viu o número de ocupados
recuar de 41,634 milhões para 41,362 milhões (em torno de 271,0 mil a menos, na
estimativa do IBGE, representando baixa de 0,7%. A regiões respondeu por 31% de
todos os empregos fechados no País no primeiro trimestre (comparado ainda ao
mesmo intervalo de 2018).
Balanço
·
O
Nordeste observou retração de 1,3% no total de pessoas ocupadas, de 21,253 milhões
para 20,975 milhões, correspondendo ao encerramento de 279,0 mil ocupações, um
pouco mais do que o número de empregos rifados pelo “rico” Sudeste.
·
O
número de nordestinos demitidos desde o primeiro trimestre do ano passado
correspondeu a praticamente 32% do total de ocupações fechadas em todo o País.
·
A
taxa de subutilização da força de trabalho ampliada, que inclui desempregados,
desalentados, subocupados por insuficiência de horas trabalhadas e pessoas que
gostariam de trabalhar, mas que continuam fora do mercado por qualquer razão,
também é mais elevada no Nordeste, atingindo 36,7% (diante de 35,7% no primeiro
trimestre de 2018). Na média brasileira, a subutilização chegou a 25,0% no
fechamento do primeiro trimestre deste ano.
·
Adicionalmente,
o Nordeste abrigava, no primeiro trimestre deste ano, 37,4% do total de
“subutilizados”, embora a força de trabalho ali (soma das pessoas ocupadas e desocupadas com 14 anos ou mais) corresponda a 22,8% do total.
No Sudeste, os “subutilizados” atingiam 10,807 milhões ou pouco menos de 38,2%
do total. Mas a força de trabalho na região representava 45,3% do total.
Os números negativos na região nordestina vêm
sendo reforçados pelo aumento mais do que proporcional no total de pessoas em
desalento (quer dizer, que desistiram de buscar emprego por falta de
oportunidades ou porque não conseguiram colocação decente). O Nordeste registra
60,4% do total de desalentados no País, com 2,927 milhões de pessoas nessa
condição e contribuiu com 64,4% para o avanço do desalento.