Jaboticaba: para comer e para pesquisar
Além de ser um foco de turismo importante para região, fazenda serve como laboratório em estudos de campo para pesquisadores das principais universidades do Estado e do Brasil. Foto: Wesley Costa
Igor Caldas
A maior fazenda de jabuticaba do Brasil está a 36 quilômetros
da Capital, no município de Hidrolândia. A Fazenda e Vinícola Jaboticabal
possui mais de 42 mil árvores que produz cerca de 150 toneladas do fruto
anualmente. Ela fica aberta à visitação do público nos meses de setembro e
outubro e recebe cerca de 20 mil turistas de todo país neste período. Além de
ser um foco de turismo importante para região, serve como laboratório a céu
aberto para pesquisadores das principais universidades do Estado.
A professora doutora em agronomia pela Universidade Federal
de Goiás, Leandra Somensato trabalha como professora de agronomia na
Universidade Anhanguera. A pesquisadora realizou vários estudos na fazenda para
compor sua tese de doutorado. “Hoje, ela leva seus alunos com frequência para
coleta de dados para experimentos científicos. “Estarei lá na sexta-feira
com uma das minhas alunas para coletar dados de pesquisas com jabuticabas que
ela está realizando”.
Ela afirma que não existem muitos estudos da fruta na ciência.
“A jabuticaba tem poucos estudos no Brasil. Não é uma como a laranja e
goiaba que possuem um número expressivo de trabalhos publicados. A jabuticaba é
rica em muitos nutrientes e possui um antioxidante natural, a antocianina que
retarda o envelhecimento”. Ela explica que o fruto oferece mais propriedades benéficas para o consumidor e
pode ser considerada uma super fruta. Porque é rica em muitos nutrientes. A
antocianina é uma substância que está principalmente na casca.
Leandra fala sobre a importância de pesquisas científicas com
a jabuticaba. “Como a fruta é pouco estudada, os trabalhos acabam sendo
inéditos e muito importantes para a ciência. A Fazenda Jabuticabal é um
excelente laboratório de campo porque tem todas as etapas que a fruta passa até
o consumo. Eles têm mudas, tem plantas jovens e mais velhas e o proprietário
tem um cuidado muito especial lá. Ele não usa produtos químicos no cultivo”.
A prova empírica do efeito rejuvenescedor da substância
púrpura presente na casca da jabuticaba é o fundador da fazenda, Antônio Batista da Silva, de 93 anos.
Seu filho e proprietário do local, Paulo Silva, se impressiona com o vigor do
pai. “Ele está com mais de noventa anos
e muito forte, graças à Deus. Certamente é de tanto comer jabuticaba. Eu to
tentando fazer o mesmo. Como bastante para ver se quando eu estiver na idade
dele, fico do mesmo jeito”, afirma Paulo, em tom bem humorado.
Desenvolvimento de planta foi estudado
A professora explica que para desenvolver uma tese de
doutorado, é necessário várias publicações científicas no assunto. “Na
verdade a gente fez várias pesquisas de campo na Fazenda Jabuticabal para
compor o doutorado. Uma delas foi o estudo das etapas de desenvolvimento da
planta. Foi um trabalho de caracterização que obtivemos resultados excelentes”.
Fenologia é o estudo que verifica, por exemplo, quanto tempo a árvore demora
desde a época da primeira flor até o primeiro fruto.
Ela ainda afirma que apesar de Paulo não ser cientista, o
assunto é amplamente dominado por ele. “Na prática, o Paulo tem informações
riquíssimas sobre a jabuticaba. Muito mais do que a gente que estuda. Mas, para
esse conhecimento se tornar científico é preciso ter estudos publicados com
base empírica. Essa sinologia, ele sabe exatamente a quantidade de dias das
etapas da planta que são as mesmas que estão no estudo. Mas precisamos realizar
as pesquisas para confirmação”.
“Foi um estudo que a gente aplicava certas
substâncias na árvore para fixar o fruto na planta por mais tempo. A jabuticaba
é extremamente perecível. Após a colheita, ela já vai alterando. Esses
produtos, que já são usados para culturas da tangerina, laranja e uva,
prolongam um pouco mais a vida das frutas na árvore. Isso, a gente está
estudando. Ainda não temos resultados conclusivos sobre o estudo”.
Outra pesquisa conduzida pela doutora foi com o objetivo de
permitir a produção da fruta o ano todo e não somente na safra. O bombeiro Lucas Gouveia Brandão sempre
vai à Fazenda Jabuticabal nos meses em que é aberta ao público. Ele afirma que
se houvesse fruta no pé o ano inteiro, não sairia mais da fazenda. “Se essa
pesquisa der certo vai ser difícil sair daqui. O que mais gosto no local é o
contato que temos com a natureza. É um ambiente familiar onde podemos comer a
fruta do pé”, afirma o turista empolgado.
A doutora em agronomia ainda afirma que a principal
dificuldade para realização das pesquisas é justamente o sabor irresistível do
fruto. “É muito frustrante quando estamos acompanhando o crescimento dos frutos
em uma pesquisa e eles acabam sendo comidos por animais ou pelos próprios
turistas antes da conclusão. Todo o trabalho vai por água abaixo. Identificamos
as árvores que estão sob trabalho de pesquisa com placas, mas às vezes eles não
respeitam”.
O proprietário da fazenda relata que atende pesquisadores,
estudantes e cientistas de todas as universidades do estado e algumas de fora.
“Aqui a gente está sempre de portas abertas para receber esses profissionais.
Ajudamos eles e com certeza a ajuda vai voltar em dobro por causa dos
resultados das pesquisas”. Na tarde desta quinta-feira (25), a Fazenda
Jabuticabal recebeu pesquisadores do Instituto Federal Goiano (IFG).
Ele cita o exemplo da pesquisa de Leandra que pode fazer com
que a jabuticaba fique mais tempo no pé e amplie o tempo que o turista pode
ficar desfrutando das frutinhas nas suas propriedades. “Recebemos pesquisadores
de inúmeras universidades o ano todo. Algumas pesquisas podem impactar
diretamente o trabalho de turismo oferecido pela nossa fazenda”, explica.
Leandra afirma que sempre é muito bem recebida
na fazenda. “Ele brinca comigo que sou sócia dele. Fui professora de um dos
filhos dele e sou professora da filha dele que está fazendo o TCC dela comigo.
O trabalho também é sobre jabuticaba. Esta semana, uma orientanda minha vai à
fazenda pesquisar sobre o período de armazenamento da jabuticaba com diferentes
embalagens em diferentes temperaturas de armazenamento pós-colheita”.