Tecnologia como aliada na Educação
Inserção de Ciências Robóticas na Rede Municipal de Ensino começa a gerar frutos e benefícios para a sociedade
Igor Caldas
A tecnologia pode ser vista como um inimigo dos livros. Mas para o professor Kleiber Pinheiro e seus alunos do 8º ano da Escola Municipal Alice Coutinho, na região Leste de Goiânia, ela se tornou uma grande aliada na Educação. A intenção do professor de Ciências Robóticas é exatamente reverter o excesso e mau uso da tecnologia pelos jovens para o seu desenvolvimento em benefício da sociedade. “Pelo motivo dos alunos estarem muito próximos à tecnologia ela pode ser uma ferramenta poderosíssima de ensino”, afirma o educador.
Neste Dia dos Professores, Kleiber Pinheiro externa sua verdadeira paixão em lecionar. “Eu não quero me importar com meu salário. Minha maior gratificação é ver meus alunos, que vieram de escola pública ingressando na Universidade, passando por Mestrados e Doutorados”. Kleiber, que acompanha a trajetória de alguns deles após a passagem pela escola, afirma que um de seus alunos se tornou médico e está desenvolvendo projetos em endoscopia robótica no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.
Ele ainda aproveita a oportunidade da data comemorativa para passar um recado para outros professores sobre o uso da tecnologia como aliada na Educação. “Eu vejo que muitos professores conseguem enxergar a tecnologia como ferramenta de educação. Mas, alguns são mais travados em relação ao novo. Acho que esses deveriam aproveitar a oportunidade dessa ligação que os jovens têm com a tecnologia para ampliar o alcance do ensino”. Ele ainda afirma que vê vontade política de inserção da robótica como ferramenta de ensino nas escolas.
Neste ano letivo os alunos do 8º ano da E.M. Alice Coutinho já participaram de vários eventos com destaque na área de tecnologia. Em setembro deste ano, alunos do professor Kleiber Pinheiro embarcaram rumo à Curitiba para o Let’s Go Festival, considerado o maior festival de inovação educacional da América Latina. O projeto orientado por Kleiber, “A Robótica Educacional aplicada à realidade da comunidade escolar”, foi selecionado para exposição no evento, como parte da área de Futuro da Inovação.
Caráter multidisciplinar
O professor explica que no desenvolvimento do trabalho em Robótica, os alunos abordam conceitos de Física e Matemática como eletroeletrônica, cálculos, velocidade, comprimento de onda e ângulos. Professores da escola estão sendo capacitados por meio das aulas práticas, os alunos se tornam capazes de construir e programar robôs seguidores de linha, por exemplo.
A iniciativa faz parte do projeto Makers que é uma parceria da Secretaria Municipal de Educação e Esporte (SME), Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Tecnologia (Sedetec), Universidade Federal de Goiás (UFG) e Instituto Federal de Goiás (IFG), que intenciona levar aos alunos a inovação dos dias atuais. O Projeto Makers capacita professores da rede municipal de educação e oferece apoio para inserir atividades robóticas nas escolas.
De acordo com o titular da Sedetec, Celso Camilo, o professor Kleiber Pinheiro foi pioneiro em incluir a disciplina no processo educativo na rede pública de ensino em Goiânia. “A partir disso, a iniciativa do projeto Makers veio para institucionalizar essa inclusão. Junto com parceiros, montamos uma metodologia de ensino, definimos um kit de robótica, e realizamos workshops para tutoriar professores”.
O projeto usa conceitos de gamificação, e STEAM, que é uma metodologia integrada, baseada em projetos usada para formar pessoas com diversos conhecimentos e desenvolver valores com os conteúdos abordados. Celso afirma que buscou parcerias em forma de doações em dinheiro e participação para o projeto Makers.
No encerramento do último semestre do ano letivo, houve uma competição entre as equipes formadas pelo projeto Maker, com o objetivo de preparar os alunos da rede municipal de educação para futuras competições da área, como a Olimpíada Brasileira de Robótica (OBR), da qual os alunos do professor Kleiber participaram. Ao todo 14 equipes da rede municipal de educação participaram da OBR. A aluna do 8º ano da E.M. Alice Coutinho, Raissa Cristina, 13 anos, não esperava que a robótica abrisse tantas portas.
“Eu não esperava que fosse conhecer outro lugar por causa das aulas de robótica. Sempre gostei das tecnologias, mas não conseguia ver uma aplicação dela na escola. Hoje, consigo enxergar ela como uma forma de melhorar a sociedade”. Raissa ainda afirma que ainda não sabe qual profissão vai seguir, mas que o conhecimento tecnológico adquirido vai influenciar na sua escolha. Assim como os outros alunos de Kleiber, ela participou da Olimpíada Brasileira de Robótica, do Desafio Makers e do Let’s Go Festival em Curitiba.
O Let’s Go Festival aconteceu nos dias 3 e 4 de setembro e reuniu mais de 1.400 líderes educacionais que fizeram participação em atividades simultâneas, entre elas exposições, experimentações, maratonas de ideias, palestras e rodas de conversa. A organização buscou o conceito de “descongresso” para realizar o evento: formatos inovadores que proporcionam aos participantes a possibilidade de compartilhar experiências. Dessa forma, adultos e crianças, educadores e líderes, governantes e empresários têm a possibilidade de interagir o propósito da inovação educacional.
Ligações com outras disciplinas despertam interesse
O projeto veio para mostrar que a tecnologia pode ser usada como aliada. “Muitos pais acabam pensando que a tecnologia pode afastar os filhos dos livros porque eles passam muito tempo no celular. Mas a robótica revela o quanto a tecnologia e informação pode ser uma ferramenta no crescimento educacional dos alunos”. Kleiber ainda afirma que o resultado da interação com a tecnologia desperta mais interesse dos alunos em aprender por meio das conexões que a disciplina tem com outras áreas.
Na rede municipal de educação, 14 escolas são contempladas com a inserção da robótica no quadro de disciplinas. O professor de Ciências Robóticas da Escola Municipal Alice Coutinho ressalta que a disciplina permite conexões com outras áreas, que não tem ligação óbvia com tecnologia, como acontece com física e matemática. “A robótica também traz conexões com o Inglês, porque as terminologias da disciplina são neste idioma. Além disso, também tem ligação com o Português e Redação, pois os alunos têm que produzir relatórios dos trabalhos executados em robótica”, afirma.
Kleiber destaca que o desenvolvimento da robótica na Escola Alice Coutinho já trouxe benefícios para a própria instituição. Ele cita, por exemplo, a existência de uma horta automatizada e uso de drones para buscar focos de mosquito da Dengue em locais de difícil acesso na escola. Uma das novidades trazidas pelo professor foi uma bengala ultrassônica, desenvolvida por ele no último ano para uso do aluno José Netto de Oliveira Alexandre, que tem necessidades educacionais especiais, devido à deficiência visual.
O educador explica que a bengala ultrassônica funciona por meio de sensores que emitem um apito quando identificam obstáculos pela frente. O professor afirma que teve a ideia de criar o aparato tecnológico ao perceber a dificuldade de locomoção do aluno. Então, desenvolveu o projeto da bengala e apresentou em sala para os demais alunos. Eles aprenderam tudo sobre o funcionamento da bengala. O objetivo de Kleiber é mostrar para seus educandos o quanto a tecnologia pode trazer benefícios à sociedade.