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quinta-feira, 26 de dezembro de 2024
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Economia compartilhada

Economia colaborativa cresce em Goiânia e novos negócios se sobressaem

Novas tecnologias, sustentabilidade e situação financeira difícil estimulam ao compartilhamento e o surgimento de negócios inusitados

Postado em 18 de novembro de 2019 por Leandro de Castro Oliveira
Economia colaborativa cresce em Goiânia e novos negócios se sobressaem
Novas tecnologias

Karine Rodrigues  

Vivemos uma era em que os recursos naturais estão em muitos casos escassos e que a economia mundial toma rumos imprevisíveis. Na busca de soluções para essas questões, emergiu há menos de uma década uma nova onda econômica, que visa sanar necessidades compartilhando bens e serviços, gerando ganhos em dinheiro e utilizando ao máximo todos os recursos disponíveis e isso tudo foi potencializado pela internet. 

A aposta é disponibilizar um produto ou serviço para que o máximo de pessoas possam utilizá-lo por meio de trocas e compartilhamentos. Se você acha que essa é uma realidade distante saiba que esses negócios estão no dia a dia dos brasileiros e que são apenas pequenos negócios, empresas como UBER, Netflix, fazem parte ainda os coworking, aluguel de roupas, de casas, bicicletas e transporte compartilhados, entre tantos outros. Seria a reinvenção de um modelo mais sustentável? 

Segundo um levantamento realizado em todas as capitais pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), 74% dos brasileiros já experimentaram, ao menos uma vez, alguma forma de consumo colaborativo. 

No caso do funcionário público Afonso Junqueira, usar city bus, o transporte coletivo compartilhado por um app em Goiânia, se tornou corriqueiro. Ele simplesmente não usa mais o carro dele para ir diariamente ao trabalho, evento ou evento na área de cobertura do city bus. E qual a vantagem disso? Afonso enumera a economia, a tranquilidade de não ter que dirigir, segurança, confiança e principalmente a praticidade. 

Usuário do serviço desde agosto deste ano, ele diz que é adepto ao ato de compartilhar bens e serviços. “Vejo essa novidade é saudável, além de poder conversar com as pessoas que frequentam a mesma região, é uma troca interessante. Se eu fosse colocar na ponta do lápis o gasto que teria utilizando o carro, seria empatado com o que tenho usando o transporte compartilhado, porém posso aproveitar o tempo lendo, descansando e também é uma forma de tirar os carros das ruas”, ressaltou.

Afonso diz ainda que não basta esperar sempre que as soluções venham do governo, por meio de obras caras e faraônicas para melhorar o trânsito. “A alternativa é o transporte de massa e ter diferentes tipos de transporte, para atender diferentes tipos de público. Compartilhando através de uber simples, uber carona, city bus, ou o próprio coletivo com maior qualidade. Na minha opinião é uma tendência que veio para ficar”, ele resume.

Modismo ou tendência

A pesquisa mostra que 98% dos brasileiros, sejam eles adeptos ou não, enxergam alguma vantagem na prática do consumo colaborativo, sendo que as principais são a oportunidade economizar dinheiro (45%), evitar o desperdício (44%) e diminuir o consumo excessivo (43%). Outros aspectos positivos são poupar energia e recursos naturais (34%) e poder ajudar outras pessoas (33%).

A economista, jornalista e professora de Marketing da PUC-GO, Núbia Simão, explica que vivemos um processo de crise econômica global, aliado a tecnologia crescente e a necessidade de sustentabilidade do planeta. Somado a esses fatores o petróleo também é um produto escasso, e quanto mais as pessoas comprarem no estilo antigo, mais lixo se tem para descarta e esse é um dos grandes problemas do mundo o hoje. “Então eu tenho uma economia boa porque de um lado eu tenho alternativas para a crise financeira, a tecnologia e soluções para o meio ambiente”, constata.

De olho nessa tendência de consumo consciente e compartilhado, a engenheira ambiental Ayulene Bogea Lopes, abriu há oito meses a Miuza Looks, uma loja de roupas onde a cliente pode fazer uma assinatura mensal que custa em média R$ 40 e pode usar dois looks por mês. Esses looks são montados com peças da loja que a cliente usa e depois devolve. Ou seja, é um guarda-roupa sempre novo, com muitas possibilidades e que várias mulheres podem usar. Ayulene proprietária é uma jovem de 25 anos, que tem como principal atividade o cuidado com o meio ambiente e daí veio a ideia, a partir da análise de mercado da moda feminina e de iniciativas semelhantes fora de Goiânia e do Brasil. “As mulheres querem andar sempre com novidade e isso as faz comprarem peças que irão usar somente uma vez ou para uma ocasião específica. Então passei analisar esse mercado pelo lado ambiental, quanto de água é utilizado para fabricar uma única peça, energia, matéria-prima e vários outros fatores, são muitos recursos naturais utilizados para depois essa peça ficar esquecida no guarda roupa, ou seja, um recurso desperdiçado. O mundo já não é o mesmo e o conceito de consumo precisa acompanhar”, relata. 

Com um público-alvo que vai de mulheres de 15 a 50 anos, com todos os tipos de corpos e estilos, a loja fica na casa de Ayulene. Porém, se a cliente já conhece o sistema de funcionamento da loja, uma mala com o estilo dela vai até sua casa e a mulher decide o que vai usar. A loja ainda é uma novidade em Goiânia e a concorrência com o polo de moda que a Capital de Goiás se transformou ainda exige um trabalho duro e constante para que essa ideia de compartilhamento cair no gosto da goianiense.

Flexibilização das marcas 

Para a gerente administrativa e financeira da Câmara de Dirigentes Lojistas de Goiânia (CDL-Goiânia), Hélia Gonçalves explica que a economia colaborativa se transformou em estilo de vida e que veio para ficar, haja vista, todos os motivos já explicados nesta matéria, mas segundo ela é uma nova fase do capitalismo e uma reação ao consumo desenfreado. O comércio e as marcas estão atentas a essa nova realidade e ver como atender esse consumidor. “As pessoas estão muito criativas e sempre acham maneiras de compartilhar”, destaca. Ela cita um exemplo bem prático que foram as locadoras de vídeo. Até há uma década, elas eram febre mundial, com a internet e principalmente os streamings, esse pequenos negócios se acabaram e hoje não se vê mais locadoras. 

Como as inovações não param, há ainda o compartilhamento do compartilhamento. Se você pode compartilhar sua casa, suas roupas, seu carro é possível compartilhar até as assinaturas de internet. Um dos maiores exemplos disso é o site www.kotas.com.br. Nele você pode participar de grupos que compartilham assinaturas da Netflix, Goaread, Amazon Prime, Uol conteúdo, Deezer, Spotfy, jornais, kindle unlimited e muitos outros serviços. Assim, você entra no grupo de sua preferência e divide com outras pessoas o valor da assinatura mensal do serviço, pagando uma cota e o serviço do site. 

Mas além de se adaptar, compartilhar Hélia diz que as pessoas estão buscando muito experiências, que as levam a conhecer pessoas, ter histórias,  não é mais só uma questão de economia. 

Falta de confiança

A pesquisa ainda mostra o crescimento do consumo colaborativo no Brasil, contudo, ainda enfrenta barreiras. Na avaliação dos entrevistados, as principais são a falta de confiança entre as pessoas e o medo de serem passados para trás (45%), a falta de informação (43%), o perigo de lidar diretamente com pessoas estranhas (38%) e a ausência de garantias em caso de não cumprimento do acordo (33%).

Além disso, nem sempre é uma tarefa simples compartilhar roupas e outros itens de uso pessoal, assim como a moradia ou o espaço de trabalho com estranhos. São casos que exigem uma boa dose de desprendimento. No caso do consumo compartilhado, os maiores índices de rejeição, ou seja, aqueles itens que os entrevistados possuem, mas jamais dividiriam com outros, estão o compartilhamento de moradia, também conhecido como cohousing (41%), o aluguel de roupas (33%) e de residências para temporadas (32%).

Para Hélia Gonçalves da CDL Goiânia, a questão da confiabilidade está muito na cultura do brasileiro mais do que no fato do consumo colaborativo. “Eu acho que ainda tem aquela desconfiança de porque eu vou emprestar? será que é seguro? E acaba por impactar um pouco, mas com o tempo isso vai quebrando. Quando as pessoas verem que o ganho é bem maior, logo essa população vai compreender esse estilo vida”, concluiu. 

Geração de milenials e o e-commerce 

A professora Núbia Simão explicou que desde o surgimento dos smartphones nos anos 2000 e com a chegada da internet de alta velocidade, o padrão de consumo mudou drasticamente. Principalmente os jovens que nasceram de 1990 para cá, tiveram as primeiras experiências de consumo já na internet. Sem contar a geração milenial, que já nasceu na era do e-commerce.”Esta geração que está no mercado é muito ligada ao meio ambiente e ao compartilhamento isso porque as primeiras experiências de compra já começaram na internet”, relata ela. 

Segundo a pesquisa,a internet (55%) e as redes sociais (48%) foram os meios que mais contribuíram para que os interessados conhecessem melhor as práticas de consumo colaborativo. Há ainda um número relevante de 37% de pessoas que contaram com a recomendação de amigos e conhecidos. “A economia colaborativa fortalece o senso de comunidade, contribuindo para um estilo de vida mais sustentável.

Um grande exemplo dessa nova geração é a advogada por formação e empreendedora por opção, Nádia Rabelo. Seria necessário uma página só para falar da experiência dela. Jovem, com menos de 30 anos, Nádia tem há um ano o petsitter de gatos, Babá de gatos. Trata-se de um serviço oferecido aos donos dos animais que quando estão fora de casa, não tem com quem deixar os bichos, contratam a Nádia para ir à residência, alimentar, dar água e cuidar dos bichanos. A hora custa R$ 50, para até quatro gatos mais o deslocamento. 

Segundo a empreendedora esse é um serviço de pessoa para pessoa. “Eu estou suprindo a necessidade da pessoa e ela a minha. Eu preciso do dinheiro e ela do serviço”, conta ela. E sendo parte da internet, ela diz que a rede é um caminho sem volta e qualquer pessoa com qualquer tipo de negócio se não estiver na internet você não existe mais. “Chegamos em um ponto quem não entra na internet vai ser engolido”, constata.

Compartilhar bolsas

Mas além de ser babá de gatos, um negócio novo e diferente, Nádia compartilha as bolsas de grifes que possui. Ela conta que sempre gostou muito de acessórios e se desapega de tudo que não usa mais. Mas gostava muito de bolsas, tinha algumas bastante caras em casa e as usava com pouca frequência. “Pensei em transformar a minha bolsa de um passivo financeiro em um ativo financeiro. Descobri uma empresa em São Paulo que alugava bolsa, como em um contrato de consignação. Ela vai trabalhar para mim e o dia que eu quiser usar, eu alugo. Assim fiz”, relata.

Tudo começou com um teste de uma bolsa e em um ano, ela tirou o dinheiro gasto na compra em um ano. Depois disso ela comprou outras e deixou para alugar. Hoje ela aluga quatro bolsas e está por decidir o que fazer com as três que tem em casa. “Para mim isso é ótimo porque outras pessoas podem usar as minhas bolsas por um preço mais acessível, isso é o compartilhamento e eu ainda ganho com isso. Acho que é uma tendência que já acontece no mundo inteiro e temos que pensar na praticidade e em não gastar dinheiro sem necessidade. No Brasil ostentar é mostrar que você tem um monte de passivo financeiro e isso é deixar dinheiro parado. As pessoas só tem a ganhar gastando menos e consumindo menos”, deu o recado. 

Foco no compartilhamento  

O empreendimento Alive Bueno ainda nem começou a ser construído, as obras começam em abril de 2020, mas o projeto já está dando o que falar. Na onda da economia colaborativa, o prédio vai oferecer bicicletas, uma BMW elétrica, seis estações de trabalho e duas salas de reunião para uso dos moradores. “As pessoas já estão habituadas e atestam as funcionalidades de serviços partilhados. Decidimos, então, levar essa ideia para dentro dos lares e expandir nossa contribuição para um futuro melhor”, disse a empresária Erica Rodrigues da Cunha, diretora de marketing da incorporadora que vai construir o prédio. 

Ainda segundo a empresa, a escolha de oferecer aos clientes os serviços de compartilhamento foi por entender que essa é uma tendência mundial de convivência, uma maneira bacana de conectar as pessoas “sem ter que sair de casa” e por acreditar que todos precisam repensar a postura diante dos recursos naturais. Como, por exemplo os serviços de (Car Wash, Car Share e Bike Share).

O empreendimento contará ainda com carregador elétrico disponível e bicicletário tanto para moradores quanto para funcionários, ampliando as opções de transporte, incentivando um estilo de vida mais saudável, auxiliando na redução da emissão de gases poluentes e estimulando a convivência. A proposta da construtora para os futuros moradores e de que eles vão poder utilizar os serviços compartilhados e os gastos serão embutidos no valor do condomínio. Porém, isto será acordado entre os condôminos e o síndico, afinal de contas ele gerenciará esses serviços e administrar o funcionamento das áreas e serviços comuns ao edifício. Ou seja, as novidades estão chegando de onde se menos espera. 

 

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